Coreógrafo da Mocidade é vítima de racismo em supermercado no Rio
George Louzada relatou que foi perseguido por um gerente da Rede Multimarket, que ainda tentou olhar o que tinha na bolsa dele
O diretor da ala de passistas da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel, o coreógrafo George Louzada, afirmou nesta sexta-feira, 14, ter sido vítima de racismo em um supermercado da zona norte do Rio de Janeiro.
Em relato publicado no Facebook, o coreógrafo de 29 anos contou que foi perseguido pelo gerente –um “senhor branco”– da unidade da rede Multi Market, no bairro de Madureira, que chegou a verificar o que ele levava dentro de sua bolsa. George disse que mora em frente ao estabelecimento e que frequenta o local quase todos os dias.
O diretor da ala de passistas da Mocidade disse que, após pagar as compras, fez questão de mostrar a nota ao gerente e expor o acontecimento para quem também estava no mercado.
“Estou aqui hoje para fazer a denúncia de um ato racista, de uma atitude preconceituosa sofrida por mim ontem, quinta-feira, no mercado Multi Market, em Madureira. Desde quando eu cheguei, o gerente talvez estranhando a minha cor, a nossa cor, o gerente me seguiu durante todo o percurso no estabelecimento, avaliando e monitorando tudo o que eu pegava e colocava na minha bolsa”, disse.
“Em um dado momento eu notei essa movimentação mais estranha dele. Ele passou por trás de mim por duas vezes ou três vezes e olhou o que tinha dentro da minha bolsa. Ele abaixou para olhar o que tinha dentro da minha bolsa. Eu continuei as minhas compras. No final de tudo eu não tinha mais o que comprar e eu decidi fazer um teste. Me dirigi até o final da loja para ver se ele ia atrás de mim, pois ele foi atrás de mim. Eu olhei para ele e me dirigi até o caixa. Paguei as minhas compras, peguei a nota fiscal, entrei na loja e fui falar com ele”, completou
George Louzada também fez um desabafo sobre a discriminação sofrida pelos negros todos os dias. “Qualquer ato racista não pode passar em branco, nós não vamos mais nos calar. Nós somos acusados sem provas, somos cercados sem motivos e nós somos acuados. Um mercado com 90% de seu quadro de funcionários pretos, ter uma atitude racista com um cliente é completamente insano. Não se permita passar por essas situações calados. Somos força, somos maioria, e seremos resistência sempre. Somos clientes, e eles precisam de nós, a massa”.
O caso está sendo investigado pela 29ª DP (Madureira).
Outro lado
Em nota publicada no Facebook, a rede Multi Market disse que repudia o racismo e o preconceito e que vai tomar as providências necessárias.
“A Rede de Supermercados Multi Market repudia qualquer forma de racismo e preconceito. Todos os seus funcionários durante a admissão são informados sobre o código de ética da Rede. Sabemos que um pedido de desculpas não basta, por isso já estamos tomando as devidas providências legais. Também nos colocamos a disposição do George para o que for necessário”.
Racismo: saiba como denunciar
Racismo é crime previsto pela Lei 7.716/89 e deve sempre ser denunciado, mas muitas vezes não sabemos o que fazer diante de uma situação como essa, nem como denunciar, e o caso acaba passando batido.
Para começar, é preciso entender que a legislação define como crime a discriminação pela raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, prevendo punição de 1 a 5 anos de prisão e multa aos infratores.
A denúncia pode ser feita tanto pela internet, quanto em delegacias comuns e nas que prestam serviços direcionados a crimes raciais, como as Delegacias de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), que funcionam em São Paulo e no Rio de Janeiro.
No Brasil, há uma diferença quando o racismo é direcionado a uma pessoa e quando é contra um grupo. Saiba mais como denunciar e o que fazer em caso de racismo e preconceito neste link.