Covid: Na Bahia, homem se recusa a receber vacina de voluntária negra

Isso tirou o meu chão, eu fiquei em estado de choque", relatou Thais Carvalho, que está no último ano do curso de Enfermagem

20/05/2021 15:59

Em Ilhéus, cidade no sul da Bahia, um homem, ainda não identificado, se recusou a receber vacina contra a covid-19 porque a voluntária, estudante de enfermagem, que faria a aplicação é negra. O caso aconteceu na última segunda-feira, 17, num dos Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) do município. As informações foram obtidas pelo portal UOL.

Covid: Na Bahia, homem se recusa a receber vacina de voluntária negra
Covid: Na Bahia, homem se recusa a receber vacina de voluntária negra - Divulgação

Thais Carvalho, que está no 10º semestre, ou seja, último ano do curso de Enfermagem, foi vítima de racismo enquanto atuava como voluntária na campanha de vacinação baiana.

A voluntária contou que o episódio racista que viver aconteceu enquanto ela estava do lado de fora da unidade, onde diversas pessoas esperavam pela aplicação da vacina contra a covid-19, CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan.

Segundo a vítima de racismo, ela perguntou ao homem, de pele clara, se ele queria ser vacinado e ele respondeu negativamente. Mas o filho dele fazia a ficha para ele receber a vacina. Então me abaixei para ficar na altura dele [o homem é cadeirante] e perguntei por que ele não queria ser vacinado. Ele me disse: ‘Você é negra’. Fiquei sem reação e saí”, contou Thais ao portal UOL.

A estudante de enfermagem disse que, mesmo já tendo vivido outros epiódios racistas na vida, ficou sem palavras pra descrever o que sentiu com a situação. “Eu não acreditei nas coisas que ouvi. Ele se recusou a ser vacinado por mim, porque sou negra. Isso tirou o meu chão, eu fiquei em estado de choque”, relatou.

Thaís ainda afirmou que vai dar queixa sobre o crime, mas acha difícil o homem ser identificado pois naquele dia foram 550 pessoas vacinadas no local.

A Prefeitura de Ilhéus divulgou uma nota de repúdio, assinada pelo prefeito Mário Alexandre (PSD). Nela, ele afirmou: “Deixo a minha solidariedade a Thaís. Atitudes como essa são inaceitáveis em um país cuja maioria da população é autodeclarada negra” e continuou: “Infelizmente, ainda nos deparamos com comportamentos mesquinhos, que humilham as pessoas. Mas não vamos parar de lutar por uma sociedade justa e igualitária, combatendo qualquer tipo de violência e crimes de ódio e discriminação”.

Como denunciar racismo

É fundamental que a pessoa que cometa racismo seja denunciado, já que racismo é crime previsto pela Lei 7.716/89. Muitas vezes não sabemos o que fazer diante de uma situação como essa, nem como denunciar, e o caso acaba passando batido.

Para começar, é preciso entender que a legislação define como crime a discriminação pela raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, prevendo punição de 1 a 5 anos de prisão e multa aos infratores.

A denúncia pode ser feita tanto pela internet, quanto em delegacias comuns e nas que prestam serviços direcionados a crimes raciais, como as Delegacias de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), que funcionam em São Paulo e no Rio de Janeiro. Veja como denunciar no link abaixo.