Crise da água: moradores do Rio se unem e criam abaixo-assinado
Mais de 18 mil pessoas já assinaram petição pressionando CEDAE e governador Witzel por água limpa nas torneiras
A indignação de abrir as torneiras e se deparar com água com gosto e cheiro mobilizou moradores do Rio de Janeiro a se unirem a um abaixo-assinado online cobrando a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) e o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, a tomarem providências para que a população receba água limpa em suas casas. Há mais de 20 dias o problema afeta 9 milhões de pessoas da capital e cidades da Baixada Fluminense.
Após testes realizados pela companhia de abastecimento em amostras de água, foi detectada a presença da substância geosmina, produzida por algas, o que altera o gosto e o cheiro. No abaixo-assinado hospedado na plataforma Change.org, o morador do bairro de Santa Cruz, na zona oeste do Rio de Janeiro, Gilberto da Silva Júnior, de 37 anos, destaca que em algumas residências a água está chegando também com “colorações fortes”.
Imagens de água barrenta e relatos de moradores que passaram mal circulam pela internet, causando uma corrida aos supermercados da região metropolitana do Rio de Janeiro para a compra de garrafas de água mineral. Gilberto é um deles. “Temos que comprar água mineral para evitar o pior. Não são poucos os casos de pessoas próximas a mim que passaram mal e até acabaram indo parar no pronto socorro após consumirem inocentemente dessa água”, diz. Ele mesmo chegou a sentir-se mal no início e logo suspendeu o consumo.
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A população também se indigna de ter que continuar pagando altos valores de conta de água, já que Wilson Witzel informou não acreditar na possibilidade de a companhia de abastecimento conceder descontos nos valores. “A conta de água provavelmente não terá qualquer alteração, conforme o governador fez questão de deixar claro. Já a água mineral, praticamente dobrou de preço desde o início do ano”, comenta o carioca Gilberto.
Também nesta quinta, o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) instaurou um inquérito civil para apurar os problemas com o fornecimento da água por parte da Cedae. Os procuradores querem saber, entre outros questionamentos, as causas do ocorrido, estudos feitos pela companhia e quais providências estão sendo tomadas para a normalização.
Nesta quinta-feira (23), a Cedae começou a utilizar carvão ativado pulverizado no tratamento da água para eliminar o cheiro e o gosto de terra. O órgão publicou nota de esclarecimento em seu site garantindo que a água fornecida está dentro dos parâmetros exigidos pelo Ministério da Saúde e própria para o consumo, completando ainda que a substância geosmina não apresenta risco à saúde. Os moradores, entretanto, desconfiam.
Para o criador da petição essa “história” de carvão é “mera maquiagem”. “Não adianta tirar o cheiro ou o gosto da água, simplesmente. O problema maior não está na aparência ou odor, e sim naquilo que não podemos ver ou sentir. Será que, mesmo sem gosto e sem cheiro, essa água estará própria para o consumo? Eles nunca nos dirão a verdade”, questiona.
Gilberto espera que o abaixo-assinado consiga ainda mais adesões. “Se nós, o povo, não nos unirmos para nos fazermos ouvir, é nítido que nada irá mudar, pois percebe-se que tanto a Cedae quanto o governo e as autoridades não olham para a situação com o mesmo senso de urgência”, desabafa. Ele teme que a situação seja abafada e caia no esquecimento.
A estação de tratamento
A crise da água afeta a estação de tratamento do Rio Guandu, que é considerada a maior do mundo. Assim como em diversas regiões do Brasil, esse rio sofre com o lançamento permanente de grande quantidade de esgoto sem tratamento.