Das ruas de Ruanda para Harvard: conheça a história de Justus Uwayesu
Sem comida, sem casa e sem banho por um ano, jovem órfão sai das ruas de Kigali para estudar em Harvard
Aos nove anos, Justus Uwayesu morava em um carro incendiado, órfão, num lixão da capital de Ruanda, Kigali, cidade de um milhão de habitantes, em busca de comida e qualquer tipo de ajuda. Passados 13 anos, o jovem é um dos 1667 alunos que ingressaram à Universidade Harvard e está cursando matemática, economia e direitos humanos.
Hoje, com aproximados 22 anos – sua data de nascimento não tem registro oficial – Uwayesu é sobrevivente de um dos mais sangrentos conflitos dos últimos dez anos, quando os grupos étnicos Hutus e Tutsis se enfrentaram em um massacre de 800 mil pessoas em apenas 100 dias. Entre eles seus pais, agricultores analfabetos de uma região rural do país. Uwayesu, seu irmão e mais duas irmãs foram resgatados pela Cruz Vermelha.
Anos depois, de volta ao seu vilarejo, os quatro irmãos chegaram à província destruída pela forme e pela seca da região subsaariana. Desnutrido e sem opções de seguir a vida naquele cenário, em 2000, ele e seu irmão foram a pé até Kigali.
- Harvard oferece 163 cursos online e gratuitos para brasileiros; inscreva-se
- Aluna da USP vende pão de mel para pagar intercâmbio em Harvard
- Programa selecionará universitários para conhecer Harvard e o MIT
- Conheça a história de casais que tiveram dois pares de gêmeos em pouco mais de um ano
Gentileza gera gentileza – e salva vidas
Como mendigo nas ruas da grande cidade, passou por situações difíceis, junto de centenas de órfãos que tinham o lixão como lar. Até que um dia viu sua vida tomar um rumo inesperado, ao conhecer Clare Efiong, fundadora da ONG Esther Aid, institução de caridade de Nova York, que se dedicava a recuperar a vida de crianças abandonadas de Ruanda.
Quando se conheceram, em 2001, Uwayesu revelou que seu maior desejo era frequentar uma sala de aula. Um ano depois ele foi o melhor aluno de sua turma. Com o apoio de Clare, chegou ao ensino médio, tirando as melhoras notas que lhe garantiram vaga em uma escola especializada em ciências.
Ainda no orfanato dirigido pela Esther’s Aid, com suas duas irmãs, trabalhou na instituição de caridade, que também passou a oferecer aulas de culinária outras atividades recreativas.Para chegar a Harvard, se matriculou no programa Bridge2Rwanda que prepara alunos para o processo seletivo na faculdade.
Após completar seus estudos, ele conseguiu muito mais. Hoje, Justus Uwayesu, faz parte da maior universidade do mundo. Passou 13 anos estudando e aprendeu inglês, francês, suaíli (uma das línguas oficiais do Quénia) e lingala (idioma materno na região noroeste da República Democrática do Congo). Em uma foto publicada no Facebook da amiga de universidade, Juliette Musabeyzu, ele posa ao lado dos amigos ruandenses com a legenda “Finalmente minha gente está aqui”.