Deus, moral, orientação sexual: não existe desculpa para o estupro

Não existe estupro corretivo, não existe estupro “em nome de Deus” e não existe estupro merecido. Existe estupro, um crime hediondo para o qual a legislação brasileira prevê até 30 anos de prisão. Mas, infelizmente, muita gente ainda acredita que algo possa legitimar a violência sexual.

O “estupro merecido” é provavelmente a justificativa mais comum no Brasil, como se qualquer tipo de comportamento da vítima fosse pretexto para o crime.

Uma pesquisa do Ipea divulgada em 2014 mostrou que um em cada quatro brasileiros concordam com a frase “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”. Os resultados da pesquisa deram origem à campanha “Não Mereço Ser Estuprada“, que mobilizou internautas por todo país.

A jornalista Nana Queiroz lançou a campanha “Não Mereço Ser Estuprada”

Dar uma lição ou mudar determinado comportamento são a motivação do chamado “estupro corretivo”. Por conta de sua orientação sexual e identidade de gênero, homossexuais e transgêneros são as principais vítimas dessa modalidade brutal de tortura em todo mundo.

Reportagem divulgada essa semana pela BBC mostrou que o estupro corretivo é uma prática sistematizada no Peru e acontece inclusive dentro de casa. Há mobilizações contra esse crime também na África do Sul, onde lésbicas vivem sob o constante temor de serem “curadas” por meio de uma relação sexual forçada.

A intimidação das vítimas só reforça a violência

Mas até Deus é usado como desculpa para o estupro por aqueles que fazem apropriações distorcidas da religião. Recentemente o jornal “New York Times” revelou que o grupo jihadista Estado Islâmico instaurou a “teologia do estupro”, na qual a prática de violência sexual contra infiéis (não muçulmanas) é estimulada.

Foi o que aconteceu com uma criança de 12 anos da etnia yazidi no Iraque. “Eu falei para ele que estava me machucando e pedi para, por favor, parar. Ele me disse que o Islã permite estuprar uma infiel. Falou que me estuprar estava o levando para mais perto de Deus”, afirmou a menina em entrevista ao jornal.

Há relatos disso também no Brasil. Em meados de agosto um pastor de 52 estuprou um menino de 10 anos “pela glória de Deus” em troca de um videogame e um chinelo.

Todos os casos revelam a lógica por trás de uma cultura do estupro que objetifica mulheres e culpa sempre as vítimas. Como se houvesse qualquer motivo capaz de justificar um crime como esse. Estuprar em nome de ideologia, moral ou religião é inaceitável. Estupro é errado e ponto final.