Diferença de idade na aposentadoria não é unânime entre mulheres
Governo Bolsonaro divulgou sua proposta para Reforma da Previdência, nela homens precisarão ter no mínimo 65 anos e mulheres, 62
No geral, as mulheres ganham 30% menos do que os homens para exercer a mesma função, estão mais sujeitas à informalidade e ao desemprego, além de cumprirem jornada dupla de trabalho por ainda hoje assumirem boa parte das tarefas domésticas.
Logo, existe consenso nelas de se aposentarem antes, certo? Não. A questão tem diversas interpretações provocando debate entre mulheres de diversos ramos. O governo Bolsonaro (PSL) recém divulgou sua proposta de Reforma da Previdência. Nela, homens terão idade mínima para se aposentar de 65 anos, e mulheres, 62.
Há quem defenda que a igualdade para se aposentar é bem-vinda, porque a mulher vive, em média, sete anos mais que os homens, e também para não reforçar o papel historicamente tido como feminino.
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Para a socióloga Clara Araújo, da UFRJ, “dedicar mais tempo ao trabalho doméstico e interromper a carreira para atender à família prejudicam efetivamente a aposentadoria”, afirmou em entrevista ao jornal “O Globo”.
Para chegar à igualdade, no entanto, defendem que é necessário um tempo de transição.
Bila Sorj, socióloga e professora da UFRJ, defende a equidade de aposentadoria por ser a favor da igualdade de gênero, mas acredita também que essa transição seja feita ao longo de dez anos.
“Sou a favor da igualdade de gênero, portanto tem que ser consistente com modelo de previdência que proponha a igualdade na idade de aposentadoria. É importante a equalização da mulheres e homens. Como a mulher trabalha mais horas, o ideal é que fosse implantada ao longo de dez anos, para dar tempo que as políticas públicas para atenuar o trabalho reprodutivo fossem implantadas também, com aumentar a licença-paternidade para ter divisão melhor do trabalho doméstico e mais creches”, afirmou também ao jornal “O Globo”.
A diferença entre homens e mulheres ao longo dos anos caiu pouco, na visão de Sônia Fleury, professora da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da FGV.
A especialista afirma que as mulheres estão no mercado de trabalho e vivendo mais, mas elas saem do emprego com mais frequência para cuidar de algum familiar doente ou dos próprios filhos.
“Não há políticas públicas como em outros países. Na Alemanha, por exemplo, se é preciso ficar em casa para cuidar de um parente, os profissionais não se desligam do trabalho, nem da Previdência. A Áustria tem um ano de licença-maternidade, e o companheiro também pode tirar um período para cuidar do filho. São políticas para os homens também assumirem os afazeres”, explicou Fleury ao portal “UOL”.
Para ela, antes de falar em igualdade na aposentadoria, devem ser discutidas ações que favoreçam a mulher a estar no mercado de trabalho, voltar a exercer uma atividade e ter salário igual ao dos homens. Deve ser pensado antes em quais políticas públicas serão oferecidas para gerar condições igualitárias.