Dimenstein: prefiro ser chamado de idiota agora do que depois
Ser xingado e acusado das mais diversas asneiras faz parte da minha carreira jornalística. É um troféu que carrego com muito orgulho.
Prefiro ser chamado no presente de idiota do que no futuro.
Fui acusado das maiores barbaridades quando alertei insistentemente que Fernando Collor com sua guerra contra os “marajás” era uma fraude.
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Na época, eu era chamado apenas de “esquerdista” e “comunista”. Apesar de sempre ter sido contra qualquer forma de regime autoritário e favorável à economia de mercado com investimento sociais, especialmente em educação.
Então virei “tucano” quando dizia o Plano Real era bom para os trabalhadores – e Fernando Henrique Cardoso merecia o crédito pela conquista contra a inflação.
Minha fama de “tucano” cresceu, em meio a uma variedade farta de xingamentos, quando me coloquei de forma crítica à eleição de Lula, sempre alertando para o fato de o PT não diferenciar o público do privado.
Escrevi por várias vezes que o Brasil no futuro iria perceber como Fernando Henrique Cardoso era um estadista – teríamos saudades de sua habilidade de diálogo e preparo intelectual.
Fui processado pelo próprio Lula por que denunciei suas relações promíscuas com verbas dos sindicatos, baseado em vários testemunhos. Na época, o PT era o paladino da moralidade.
Ao alertar para o fato de que o impeachment era uma “farsa”, virei petista. Dizia algo simples: colocar o MDB na presidência em nome da moralidade era uma mentira.
Ao afirmar que o impeachment era uma “farsa”, mas não era um golpe – já que seguia as regras legais – virei golpista.
Ganhei o titulo de petista ao apontar os evidentes defeitos de João Dória, muito mais calcado em marketing do que em políticas consistentes. Era chamado de idiota por tê-lo feito assinar, como faço com todos os candidatos a prefeito, um compromisso para que não abandonassem o cargo antes de concluir seu mandato.
Quando eu fiz José Serra assinar a mesma carta, então era chamado de petista. Tucanos falavam na “Maldição Dimenstein”.
Agora sou chamado de “comunista” e “esquerdista” por dizer o óbvio: Jair Bolsonaro é despreparado e autoritário, responsável por estimular uma campanha de ódio no país.
Minha motivação alem de ser “esquerdista”. Sou beneficiário da Lei Rouanet, apresentado como um favor que os governos fazem para as pessoas. E não como um incentivo fiscal aprovado para que se busque patrocínio das empresas. É como se o dinheiro saísse direto dos cofres públicos. Nem adianta dizer que essa lei, se bem usada (nem sempre ocorre) ajuda a produzir acesso dos pobres à cultura.
Como disse, prefiro que me chamem de idiota agora do que depois.
E não me acusem de ter calado diante das minhas convicções.