Dimenstein: brasileiro é um dos melhores heróis da gentileza do mundo

06/09/2019 17:49 / Atualizado em 08/09/2019 19:38

Isaac Karabtchevsky, 84 anos, é umas melhores pessoas que conheci em toda a minha vida.

Note que tenho 63 anos, sou ativista social, educador e jornalista –ou seja, conheço muita gente que fez e faz coisa muito legal em várias partes do Brasil e do mundo.

Na Universidade Columbia, em Nova York, era acadêmico-visitante de Direitos Humanos; em Harvard, desenvolvi projetos sociais com um grupo de pessoas que pensavam soluções inovadoras para Ásia, Africa, América Latina e Estados Unidos.

Sou senior-fellow da Askoka, lista na qual figuram personalidades como Mohamed Yunus.

Por muito tempo, fui voluntário em comunicação do Unicef.

Tenho um projeto pessoal chamado ReciproCidade apenas para ajudar, via Catraca Livre, projetos criativos de impacto social.

Nesse lista de pessoas que eu conheço de perto, eu coloco Betinho; Drauzio Varella; Adid Jatene;  Dorina Nowill; Antônio Ermírio de Moraes (que, além de incentivador cultural, cuidou do Hospital Beneficência Portuguesa); João Carlos Martins (que fez da música uma forma de inclusão); Jaime Garfinkel (empresário que inspirou adoção de escolas pública e investiu em equipamentos culturais da Cracolândia); Chico Mendes; Cesare de Rocca (criador do projeto Axé em Salvador); Paulo Freire (hoje demonizado pela ignorância); José Mindlin.

Mais: as voluntárias que ergueram os hospitais Albert Einstein e Sírio-Libanês; Colégio Porto Seguro (abriu uma escola de altíssimo nível para a comunidade de Paraisópolis); o empresário Élie Horn, que está doando sua fortuna para a filantropia; a família Mesquita que ajudou a criar a USP e (pouca gente sabe), o Hospital das Clínica, viabilizando o sonho do Dr. Arnaldo (esse mesmo, nome de rua).

Claro que não poderia deixar de fora o maestro Silvio Baccarrelli que, ao ver um incêndio na favela Heliópolis, teve a ideia de criar a orquestra – e com seu dinheiro.

O que me impressiona no Isaac?

Ele é o maior maestro brasileiro.

Podia morar em qualquer do mundo.

Repito: qualquer.

E ganhando muito dinheiro. Muito.

Foi diretor artístico da Orquestra Sinfônica Brasileira, de 1969 a 1994, do Teatro La Fenice, em Veneza, entre 1995 e 2001; da Orquestra Tonkünstler, em Viena, entre 1988 e 1994; e da Orchestre National des Pays de la Loire entre 2004 a 2009.

Com seus 84 anos, seu grande projeto é cuidar da Orquestra Sinfônica Heliópolis –a única orquestra sinfônica nascida numa favela.

Ele se desloca do Rio, mete-se na favela e fica hospedado num simples hotel em São Caetano do Sul.

Como foi presidente do conselho da orquestra, vejo como ele põe alma, cérebro e coração para que esses jovens atinjam excelência musical.

Um detalhe que ninguém sabe -e o Isaac não vai gostar que eu falei.

Para ajudar as finanças da orquestra, ele ainda não fez questão de receber salário há quase dois anos.

Repetindo: dois anos.

Na próxima quinta-feira, vamos homenagear na Sala São Paulo os 23 anos dessa orquestra e as pessoas que não deixaram esse sonho morrer.

Uma delas, será o Isaac que fez da música e da solidariedade um jeito de lidar e enriquecer o mundo com a morte dor que um pai pode ter: a morte de uma filha aos 11 anos.

Ilana, sua filha, seu foi.

Mas ele ganhou, ali em Heliópolis, centenas de filhos.

Nesse momento em que vivemos, precisamos reverenciar nossos heróis da gentileza.