Documentário aborda empoderamento da mulher sertaneja no Piauí

Filme traz relatos de mulheres da primeira cidade brasileira a receber o benefício

O documentário “Libertar – Relatos de Guaribanas do Bolsa Família” conta a história de 5 mulheres da cidade de Guaribas, no Piauí, que no início dos anos 2000 apresentava um dos menores índices de IDH do Brasil e que, em 2003, deu início ao programa de distribuição de renda.

Em um filme de cerca de 25 minutos, as beneficiárias do Bolsa Família esclarecem a necessidade e as melhorias que a iniciativa proporcionou para suas vidas e de suas famílias, garantindo mínimas condições de alimentação e estrutura financeira para os estudos de seus filhos. Por meio de relatos intimistas, as mulheres retratam as mudanças que o programa trouxe para elas, que agora, com uma quantia mensal, podem alcançar uma estrutura básica e, enfim, começar a sonhar com uma herança para seus filhos: o estudo.

“Eles têm muitas coisas que eu não tive. Na verdade… tudo. Naquele tempo a gente não tinha nem roupa, nem comida para comer. Hoje eles trabalham na roça e estudam. Naquele tempo era só trabalho, trabalho, trabalho… escravidão. Hoje eles tem uma roupa para usar, roupa boa, comida boa, calçado bom, perfume bom… eu não tive nada disso”, conta Francisca, uma das personagens do filme.

4478 habitantes e três anos sem chuva 

A cidade que fica a 648 km de Teresina e tem 4478 habitantes já chegou a ficar três anos sem chuva. Além disso, informações fornecidas pelo Ministério do Trabalho mostram que, até janeiro deste ano, a economia local girava em torno de 18 empregos formais.
O documentário expõe, ainda, que a figura feminina ocupa um papel fundamental no programa Bolsa Família.

É delas a tarefa de sacar todos os meses o dinheiro depositado pelo Governo Federal. No ano de 2013, as mulheres preenchiam a fatia de 93% do total de titulares do cartão do programa.

De acordo com pesquisas realizadas pelo Ministério do Desenvolvimento Social, o repasse feito em nome da mulher garante maior autonomia e liberdade às mulheres, que passam a ter poder de escolha e independência econômica dentro de seus lares.

“Disso você pode ter certeza: uma mulher sabe mais a necessidade. Porque ela se preocupa mais com a alimentação, com os filhos, vestimenta, calçado, se for o caso (…) Homem não, se ele pegar e for cachaceiro ele já vai para o bar beber com o próprio dinheiro do Bolsa Família. Se for um jogador, como eu conheço muitos, já pega o dinheiro e vai apostar, vai jogar. Uma mulher nunca vai fazer isso. Uma mãe nunca vai deixar de dar um alimento para seu filho, é preferível ela não comer do que não dar ao filho. Um homem não pensa assim”, afirma Elionete, ex-beneficiária do programa e uma das entrevistadas do documentário.

A experiência dos criadores

A ideia do documentário surgiu inicialmente como um projeto de graduação do curso de jornalismo da ESPM-SP. Três jovens de classe média optaram por sentir na pele o choque que é conviver com uma realidade tão distante. A experiência acabou fazendo com que eles percebessem que a felicidade está nas pequenas coisas – como ter comida para servir aos filhos ou um chinelo para ir à escola – e os fez querer levar isso ainda mais longe. Mostrar um Brasil que muitos não fazem ideia de que exista, uma população carente em diversas formas, mas feliz.