Doria quer empregar moradores de rua com ‘dentes em bom estado’

Com informações do repórter Daniel Mello, da 'Agência Brasil'

Algumas vagas do Programa Trabalho Novo, criado pela Prefeitura de São Paulo na gestão de João Doria (PSDB) e que oferece oportunidades a pessoas em situação de rua, têm entre as exigências que o candidato tenha dentes em bom estado.

Além da “dentição frontal completa”, são levados em consideração a disposição dos candidatos para o trabalho e os antecedentes criminais. Essas possibilidades de emprego são ofertadas em parceria com empresas privadas. As informações são do repórter Daniel Mello, da “Agência Brasil“.

Moradores de rua precisam ter dentes em bom estado para participar de programa da prefeitura de SP
Créditos: Getty Images/iStockphoto
Moradores de rua precisam ter dentes em bom estado para participar de programa da prefeitura de SP

A descrição das vagas oferecidas pela rede de lanchonetes McDonald’s, uma das empresas parceiras do programa municipal, informa que há “flexibilidade” em relação aos antecedentes criminais, apesar da preferência por pessoas sem histórico de furto.

“Caso haja furto na função, é demitido por justa causa”, enfatiza o comunicado divulgado pela coordenação da iniciativa da prefeitura aos centros de acolhida, que devem encaminhar os candidatos às seleções.

De acordo com o coordenador da Pastoral do Povo de Rua, padre Julio Lancellotti, algumas pessoas com quem teve contato afirmaram ter sido rejeitados pelo critério da dentição.

Para ele, esse tipo de exigência não faz sentido em um programa que busca a inclusão de pessoas que vivem nas ruas. “Como é que ele vai ter, uma pessoa que está na rua, que está sem os cuidados mínimos necessários, todos vão ter dentição frontal completa?”, questiona o religioso.

Segundo o Censo da População de Rua da prefeitura, entre as pessoas que vivem nas ruas da capital paulista 34,5% tem problemas de saúde bucal. Entre os moradores de rua que vivem em centro de acolhida o índice cai para 27,5%.

Passaram pelo sistema prisional, 40% dos que dormem nas ruas e calçadas e 27,5% daqueles abrigados nos equipamentos públicos. O levantamento contabilizou 15,9 mil pessoas em situação de rua na capital paulista em 2015.

A prefeitura informou, por meio da assessoria de imprensa, que as exigências para as vagas são feitas pelas empresas.

“De acordo com a ONG Rede Cidadã, que é responsável pela seleção e capacitação dos moradores em situação de rua, os conteúdos dos documentos compartilhados nos grupo de trabalho tratavam de requisitos exigidos pelas empresas participantes”.

Em nota, o McDonald’s informou que “não reconhece essas exigências e, sobretudo, não compactua com elas” e que “o documento foi redigido pela ONG que realiza o recrutamento, sem nenhuma consulta, orientação ou aprovação do McDonald’s”. A rede de fast food diz que tem “orgulho de ser uma das pioneiras na adesão ao Programa Trabalho Novo”.

Leia a reportagem na íntegra.

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