Lua Guerreiro, uma transexual de 24 anos, foi agredida, em Niteroi (RJ), Região Metropolitana do Rio, depois dela pedir um isqueiro em uma barraca e não ficar calada ao ser verbalmente agredida por um vendedor.
Seu relato do que aconteceu no domingo, 24, viralizou nas redes sociais entre segunda e terça-feira, 25 e 26. “Fui agredida. Mas, não somente. Sofri uma tentativa de homicídio. Vários homens cis me batendo de forma covarde, suja e baixa como sabemos que fazem. Quebraram uma cadeira na minha cabeça. Me derrubaram por trás várias vezes pra ser um alvo mais fácil. Fui espancada. Sangrei da cabeça aos pés”, escreveu a produtora de cinema em uma rede social.
Fui agredida.Mas, não somente. Sofri uma tentativa de homicídio. Vários homens cis me batendo de forma covarde, suja e baixa como sabemos que fazem. Quebraram uma cadeira na minha cabeça. Me derrubaram por trás várias vezes pra ser um alvo mais fácil. Fui espancada. Sangrei da cabeça aos pés.Por nada (não que haja algo que justifique qlqr coisa parecida). Somente por pedir um isqueiro e não ficar calada ao ser destratada por um vendedor da cantareira que se recusou a me ajudar. Fui agredida por vários homens cis. Homens cis esses que nem estavam envolvidos, mas viram uma oportunidade de bater em alguém que representa algo que eles não conseguem lidar e deixaram Claro que não querem lidar.Nesse momento ainda me vejo em choque tentando entender o motivo… tentando procurar, de alguma forma, um sentido em tudo isso, mas sei bem que se eu fosse uma branca cisgenera não estaria voltando pra casa com a cabeça enfaixada, toda ensanguentada e com um sentimento de insegurança constante. Tenho medo pela minha vida, tenho medo pelo vida de minhas iguais e, cada dia mais, minha sede de justiça se torna mais forte e necessária. Fui mal tratada por alguns policiais que fizeram piadas. No hospital Azevedo Lima, uma enfermeira fez piadas com meu nome social, me tratou no gênero errado e discutiu com minhas amigas que tentaram me defender. Tive que ficar na delegacia ao lado de alguns dos meus agressores, intactos, rindo, descontraídos enquanto eu e minhas amigas -traumatizadas, sujas do meu sangue pelo corpo inteiro- sentavamos lá esperando por horas pra prestar nosso depoimento (que, por fim, decidimos fazer no dia seguinte dado a toda exaustão física e mental extremamente presentes). Mais uma vez o cistema provando que se protege. Nós ensaguentadas, enfaixada, chorando. Eles intactos, rindo. Nada foi feito.NAO ACEITO VIVER ASSIM, NÃO ACEITO VIVER COM MEDO, NÃO ACEITO QUE FIQUEM IMPUNE QUEM ACHA QUE NOSSAS VIDAS SÃO DELES PRA TIRAR. NAO ACEITO MORRER :( E NAO ACEITO QUE ISSO PASSE BATIDO.QUEM INCITOU E AJUDOU NA MINHA AGRESSÃO FOI UM DONO DE BARRAQUINHA DA CANTAREIRA. O MÍNIMO QUE QUERO É QUE ELE NUNCA MAIS TENHA DIREITO A VENDER NADA MAIS LÁ, MAS VOU ATE O FIM PRA VER ESSE PSICOPATA ATRÁS DAS GRADES.Conto com a ajuda de quem puder pra fazer isso não passar batido. Como eu, houveram várias, mas farei meu máximo para que pare por aqui. NÓS NÃO MERECEMOS ISSO, NINGUÉM MERECE! Que seja feita a justiça dos homens, dos orixás e das travestis. VÃO PAGAR!Toda essa exposição é mto delicada e me coloca em um lugar muito vulnerável e humilhante. Pois bem, essa é a vida de quem é trans no Brasil. É bom que saibam.
Posted by Lua Guerreiro on Sunday, February 24, 2019
Lua contou que outros homens se aproveitaram da situação para agredi-la. “Eu não sei quantos foram. Vieram pessoas aleatórias me agredir também. Quebraram uma cadeira na minha cabeça. A briga só acabou quando a polícia chegou e eu estava ensanguentada no chão”, declarou ao jornal O Globo.
Além da agressão, Lua teve que lidar com o tratamento transfóbico dos enfermeiros no Hospital Azevedo e Lima e de policiais na sua primeira tentativa de registrar um Boletim de Ocorrência. “Eles fizeram piadas. No Hospital Azevedo Lima, uma enfermeira fez piadas com meu nome social, me tratou no gênero errado e discutiu com minhas amigas que tentaram me defender. Tive que ficar na delegacia ao lado de alguns dos meus agressores, intactos, rindo, descontraídos enquanto eu e minhas amigas — traumatizadas, sujas do meu sangue pelo corpo inteiro — sentávamos lá esperando por horas pra prestar nosso depoimento”, contou ao jornal O Dia.
Segundo Lua, ela decidiu ir embora sem prestar depoimento no domingo. Na terça-feira, acompanhada de testemunhas e de uma advogada que viu seu relato na internet, a roteirista e produtora de cinema foi à Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, na Lapa, para finalmente registrar a ocorrência.
A Comissão de Direitos Humanos, da Criança e do Adolescente da Câmara Municipal de Niterói informou que vem oferevendo à Lua “apoio jurídico para a devida identificação e responsabilização dos autores desse ato covarde de barbárie”. Presidente da comissão, o vereador Renatinho do PSOL lembrou que “o Brasil é o país onde mais trans morrem assassinadas no mundo”, referindo-se a dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), segundo os quais 163 pessoas trans foram assassinadas no país em 2018.
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