Após Bolsonaro saudar torturador, hashtag surge para lembrar mulheres que fizeram resistência à ditadura

O dia 17 de abril de 2016 ficará marcado na história do Brasil como a data em que vimos um de nossos representantes do Congresso Nacional homenagear do palanque o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o primeiro militar brasileiro a responder por um processo de tortura durante a ditadura militar.

Durante a votação da abertura do processo de impeachment contra a presidente da República, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) dedicou seu voto “à memória do coronel, o pavor de Dilma Rousseff”. Além disso, o parlamentar afirmou: “Perderam em 64. Perderam agora em 2016”, em uma clara referência ao regime militar instaurado em 1964.

Após sua declaração polêmica, a página As Mina na História lançou a campanha #EmMemóriaDelas, sobre mulheres que foram vítimas de torturadores como Ustra, que as violentava de todas as formas, incluindo a prática de inserir ratos em suas vaginas.

“Não importa o seu partido, nem se você é a favor ou contra o impeachment. Não podemos permitir que um estuprador seja citado como herói”, defende a página.

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Se você apoia a campanha e deseja dar voz à resistência feminina para que a história da ditadura jamais se repita, clique aqui e coloque a hashtag #EmMemóriaDelas em sua foto de perfil.

Confira a história de algumas mulheres que fizeram resistência à ditadura:

Nilda Carvalho Cunha os 17 anos, fazia o curso secundário e trabalhava como bancária quando passou a militar no MR-8. Presa em agosto de 1971, em Salvador (BA), junto com Jaileno Sampaio, também militante, foi levada para o Quartel do Barbalho e, depois, para a Base Aérea de Salvador, onde foi torturada. Liberada no início de novembro, profundamente debilitada em conseqüência das torturas sofridas, morreu no mesmo mês, com sintomas de cegueira e asfixia. No seu prontuário constava que não comia, via pessoas dentro do quarto, sempre homens, soldados, e repetia incessantemente que ia morrer, que estava ficando roxa. A causa da morte nunca foi conhecida. O atestado de óbito diz: edema cerebral a esclarecer. Sua mãe, Esmeraldina Carvalho Cunha, que denunciou incessantemente a morte da filha como consequência das torturas, foi encontrada morta em sua casa, enforcada por um fio de telefone.

Ísis Dias de Oliveira nasceu em 29 de agosto de 1941. Era estudante de Ciências Políticas na Universidade de São Paulo, mas não chegou a concluir o curso. Ela vivia clandestinamente em 1972, no Rio de Janeiro, quando foi presa pelo DOI/Codi. Após a prisão, nunca mais foi vista por familiares e amigos.

No Serviço Nacional de Informação (SNI), consta que Isis teria sido morta em 31/01/1972, o mesmo dia em que foi presa.

Maria Auxiliadora Lara Barcelos estudava em Belo Horizonte, e dava aulas com sua irmã numa escola dirigida por sua avó, para crianças pobres em favelas da cidade, aos 14 anos. Começou a estudar Medicina, em 1965, na Universidade Federal de Minas Gerais. Em março de 1969, abandonou a faculdade para integrar o VAR-Palmares. Foi presa no dia 21 de novembro de 1969, com Antônio Roberto Espinoza e Chael Charles Schreier. Dora, ou Dodora, como era chamada, e foi vítima de torturas severas. Ela passou por choques elétricos e palmatórias nos seios.

Dora entrou na lista dos 70 presos políticos banidos para o Chile. Lá, ela deu suas declarações sobre as torturas sofridas no Deops a um documentário intitulado “Brazil: A Report on Torture” (1971). Após o governo do ditador Augusto Pinochet ter impedido que ela continuasse seus estudos no Chile, Dora migrou para a Bélgica e conseguiu asilo político na Alemanha Oriental, em 1974.

Em 1976, foi internada numa clínica psiquiátrica em Spandau devido a problemas de amnésia. Embora tenha recebido alta, atirou-se nos trilhos de um trem na estação de metrô Charlottenburg, em Berlim Ocidental, em 1º de junho de 1976, morrendo instantaneamente.