Colégio escolhe livro de Lázaro Ramos e é criticado
Homem criticou a instituição que optou usar "Na Minha Pele" como material paradidático; "Mandar o filho para a escola é uma forma de destruí-lo", escreveu
Em uma publicação feita apenas para amigos na noite de domingo, 27, um usuário do Facebook criticou a seleção do material paradidático do Colégio Antônio Vieira. O livro em questão é “Na Minha Pele”, de Lázaro Ramos.
O homem, que se identifica como fotógrafo e designer gráfico, pediu para que os pais prestem atenção ao que é ensinado para os “herdeiros” nas escolas.
Publicado em 2017, “Na Minha Pele” é um debate sobre a pluralidade cultural e narrado por meio de histórias pessoais e de ações afirmativas. O autor rejeita os radicalismo e a segregação e exalta a urgência do diálogo.
- “Agora consigo realmente ver o que é viver de verdade”, conheça influenciadora que nasceu na favela e hoje estuda na USP
- Leia trecho da autobiografia de Matthew Perry, o Chandler de Friends
- Jovem confunde sintomas de AVC com efeito de drogas
- Após gravar série, The Weeknd relata momento ‘aterrorizante’
“É esse tipo de lixo que as escolas estão empurrando goela abaixo nos nossos jovens”, escreveu o fotógrafo na rede social.
Abaixo, leia um trecho de “Na Minha Pele”.
[…]
— Por que não falar da sua experiência como ator negro? As duas perguntas que mais fazem a um ator negro, além das básicas “Esse personagem é um presente para você?” e “Você prefere fazer teatro, cinema ou tv?”, são:
— Sendo um ator negro, o que acha dessa coisa toda de racismo?
— Como é fazer um médico, arquiteto, surfista, Roque Santeiro, boêmio da Lapa, padre, gay ou seja lá quem for… negro? Quando ouço essa última, sempre me dá vontade de responder algo bem esdrúxulo, do tipo: “Não sei, pois nunca fiz um médico, arquiteto, surfista, Roque Santeiro, boêmio da Lapa, padre, gay ou seja lá quem for… verde”.
Às vezes, e sei que você que me lê agora também faz isso, no meio de uma conversa viajo para um universo paralelo e lembro ou imagino coisas. Neste momento, o universo paralelo se abriu e me lembrei de um papo que tive com Wagner (o Moura) depois que nos mudamos de Salvador para o Rio — ai, meu Deus, tá começando a cheirar forte o camarão —, em que ele, meio entristecido, disse que estava cansado, pois só era chamado para fazer papéis de bandido ou nordestino.
— E eu, brother, que só sou chamado para fazer negro? Você, pelo menos, ainda tem duas opções — brinquei.
Aterrissei de volta para a sala de reunião e fiz logo uma piada, daquelas com fundo de verdade.
— Só se o livro se chamar “É a última vez que falo sobre isso”. Talvez eu tenha conseguido fazer a piada porque, àquela altura, eu já estava me sentindo satisfeito com o fato de ter na televisão um programa como o Espelho, em que a liberdade é total. Sem o filtro de ninguém e no tom que nos conviesse. Falar sobre questões raciais num livro estava fora de cogitação. Ou talvez eu estivesse sentindo o temor de ter mais uma vez um branco na chefia controlando o que eu pensava. Me pareceu mais sábio continuar a ter a liberdade do Espelho do que o filtro de outra voz.
Voltei para casa com os pensamentos martelando na cabeça. Não dá, é muita exposição. Será que sei mesmo falar sobre esse assunto? Se for tentar, tem que ser no mesmo tom do programa. Faria esse livro com humor e poesia. Será que coloco dreadlock de novo?
Só no dia seguinte percebi que, no caminho de volta, tinha esquecido minhas coisas da Bahia em algum lugar. Tomara que quem achou pelo menos tenha gostado da farinha e do peixe de Dindinha.
[…]