Escultura de Tiradentes volta ao marco zero com nova e atual cápsula do tempo
Restauração da peça faz parte de projeto do Atelier João Turin (1878-1949), autor da obra e reconhecido como um dos maiores artistas paranaenses
Em julho de 2013, a estátua em bronze de Tiradentes foi removida da praça para restauro. Dentro dela, os restauradores encontraram uma garrafa lacrada, contendo um manuscrito datado de 1932 e uma moeda de 100 contos de réis.
Assinada por João Turin (autor da escultura) e outros dois nomes, carta relatava a mudança de posição da estátua. Ela se manteve na praça, mas 35 metros adiante do local original.
O mais interessante vem agora: o manuscrito também revela que quando a imagem foi retirada, continha uma garrafa contendo “a primeira página do jornal ‘O Dia’ de 21 de abril de 1927 e algumas moedas de níquel e cobre”.
De acordo com o texto da carta, a primeira garrafa foi recolocada onde estava. No ano passado, a Prefeitura de Curitiba até considerou realizar uma busca para encontrá-la. Mas como o custo seria alto e o conteúdo da mensagem já era conhecido, ficou por isso mesmo.
Essa história toda da Praça Tiradentes coleciona agora três cápsulas do tempo: a primeira é de 1927, a segunda de 1932 e a terceira de 2014. Quanto passado e presente ainda cabe dentro dessas garrafas?
Lá no passado, em 2014…
Vamos lá: o Tiradentes de bronze foi restaurado e, no dia 20 de abril de 2014, voltou à praça com uma nova garrafa. Essa “cápsula do tempo” carrega dois manuscritos grafados em papel de algodão puro
Um deles é assinado pelo Presidente da Fundação Cultural de Curitiba, Marcos Cordiolli. O outro, não assinado, contém informações de Curitiba em 2014, relata a história das garrafas e da restauração da escultura.
Conheça o conteúdo dos manuscritos: Manuscrito de 2014 “Na data de 25 de julho de 2012, a estátua do Tiradentes, na Praça Tiradentes, foi removida para restauro. Esse procedimento foi feito em parceria entre a Fundação Cultural de Curitiba e a Fundição João Turin, esta última de propriedade da família de Samuel Lago. Ao ser removida a estátua, percebeu-se que dentro dela estava guardada uma garrafa contendo um documento com o seguinte texto: “Aos 25 dias de janeiro do ano de 1932. Nesta cidade Coritiba, sendo Interventor interino o Dr. João Pernetta, Prefeito Municipal Cel. Joaquim Pereira de Macedo, na Praça Tiradentes, procedeu-se a remoção deste monumento da posição primitiva para a atual que dista daquela cerca de 35 metros, na direção Oeste, tendo sido encontrada uma garrafa contendo uma acta impressa com diversas assinaturas autographos, a primeira pagina do jornal “O Dia” de 21 de Abril de 1927 e algumas moedas de nikel e cobre. A garrafa referida foi colocada na ultima camada de alvenaria bruta e debaixo do pedestal.” Este documento está sob guarda da Casa da Memória da Fundação Cultural de Curitiba. A garrafa a que ele faz referência continua em seu local indicado, pois funcionários da Diretoria de Patrimônio Cultural da Fundação Cultural de Curitiba localizaram, na Biblioteca Pública do Paraná, o jornal O Dia de 21 de abril de 1927 com informações sobre o conteúdo da garrafa. Observa-se que também há muitas informações sobre esse assunto no jornal O Dia do dia 22 de abril de 1927. A Fundição João Turin localizou a “acta”, também referida no documento encontrado, cujo exemplar se encontra igualmente guardado na Casa da Memória. Esses procedimentos levaram à decisão de deixar em seu local a primeira garrafa, a mencionada no documento encontrado. Na data de hoje, 21 de abril de 2014, dia de Tiradentes, a estátua é instalada novamente no mesmo lugar em que se encontrava e, em concordância com o Prefeito Municipal de Curitiba, senhor Gustavo Fruet, e do Presidente da Fundação Cultural de Curitiba, senhor Marcos Antonio Cordiolli, deixamos esta garrafa com este documento, para que fique para a posteridade como forma de documentar e informar os fatos aqui relatados.” Outro manuscrito de 2014 “Carta ao presente do meu futuro Em nosso tempo a praça Tiradentes é ponto de referência para todos os nossos cidadãos e a estátua de Tiradentes é um de seus ícones. Em parceria com a empresa Fundição João Turin foi feito o restauro desta estátua do escultor João Turin. Ao retornarmos a estátua ao seu local de origem, envio esta carta para fazer uma ponte entre nós e vocês que viverão o seu presente em nosso futuro. A Curitiba de 2014 é uma cidade vibrante que se mostrou referência internacional na área de mobilidade urbana, na conservação de áreas verdes, na coleta seletiva do lixo. É também admirada pela limpeza, pela beleza natural e pelo patrimônio cultural conservado. Mas ainda temos muitos problemas. Pessoas na condição de miséria, outras em subemprego. Faltam moradias adequadas para todos. Enfim, uma cidade com muitas soluções, porém, com vários problemas. Falo de um tempo em que lutamos para universalizar a cidadania cultural, para que todos os cidadãos possam ter acesso às artes como apreciadores ou como produtores. É uma luta árdua, complexa, que enfrenta resistência de diversas formas. Mas temos muito empenho e ações concretas para superar essas dificuldades. Desejo que, quando esta missiva for lida, todos já tenham conquistado a cidadania cultural, assim como a qualidade plena de vida, uma das dificuldades do nosso presente, que ficou no passado de vocês. Gostaria muito que vocês voltassem a olhar para a Curitiba de 2014, as suas ruas, as pessoas, as nossas ideias, os espetáculos e filmes em cartaz, os grafites nos muros, as estátuas pela cidade, os nossos meios de mobilidade… Enfim, a nossa forma de viver o presente. Olhar para diversos aspectos de nossa vida, nossas histórias, nossas experiências e nossos legados. E pela cidade, pela qual lutamos para melhorar com carinho para vocês. Marcos Cordiolli Presidente da Fundação Cultural de Curitiba Abril de 2014” Manuscrito de 1932 “Aos 25 dias do mês de janeiro de 1932, nesta cidade Coritiba, sendo interventor interino o Dr. João Pernetta, Prefeito Municipal Cel. Joaquim Pereira de Macedo, na Praça Tiradentes procedeu-se a remoção deste monumento da posição primitiva para a atual, que dista daquela cerca de 35 metros na direção Oeste, tendo sido encontrada uma garrafa contendo uma acta impressa com diversas assinaturas autógrafos, a primeira página do jornal “O Dia” de 21 de abril de 1927 e algumas moedas de níquel e cobre. A garrafa referida foi colocada na última camada de alvenaria-bruta e debaixo do pedestal.” Manuscrito de 1927 Não foi aberta, mas teve seu conteúdo revelado pelo manuscrito seguinte, de 1932.