Filho caçula ensina catadora de lixo a ler e escrever no RN

21/03/2017 22:11

Aos 42 anos, a catadora de lixo Sandra Maria de Andrade aprende a ler e escrever com o seu filho caçula de 11 anos
Aos 42 anos, a catadora de lixo Sandra Maria de Andrade aprende a ler e escrever com o seu filho caçula de 11 anos

Até ano passado, a catadora de lixo Sandra Maria de Andrade, de 42 anos e mãe de sete filhos, não sabia ler e escrever. Mas essa realidade está mudando graças à ajuda do filho caçula, Damião Sandriano de Andrade Regio, de 11 anos. A história comovente de amor e apoio entre mãe e filho, contada em uma reportagem da BBC Brasil, tem como palco a periferia de Natal, no Rio Grande do Norte.

Abandonada pela mãe, Sandra teve que começar a trabalhar ainda criança em lavouras ou fazendo faxina, então nunca teve oportunidade de estudar.  Já adulta e depois de sofrer violência doméstica do primeiro marido, a catadora não sabia nem mesmo escrever o próprio nome.

Foi a partir do embaraço da mãe, que tinha na carteira de identidade a sua digital ao invés da assinatura, que Damião decidiu ensinar a mãe quando ele mesmo ainda não sabia ler. Mas ele prometeu: “Eu vou aprender e, quando aprender, vou ensinar à senhora”, garantiu.

Além da promessa do filho, Sandra também foi incentivada ao ver o filho ir à escola. Já como catadora de lixo, a mãe fazia questão de ouvir Damião contar todo dia sobre tudo o que ele havia lido e aprendido no colégio. “Ele vai ser o que eu queria ser”, pensava.

Sandra chegou a frequentar uma turma de jovens e adultos, mas abandonou por sentir muita dificuldade. Foi com a ajuda do filho, no entanto, que ela começou a aprender as primeiras letras. Damião pegava vários livros na escola e chamava a mãe para ler junto. “Eu tomava banho, deitava na rede, ele vinha e me chamava para ler”, lembra. “Eu queria ver os desenhos, mas também queria aprender as letras. Ficava curiosa”.

As primeiras letras que Sandra aprendeu foram as do seu nome e as do nome do filho. Mais de um ano depois de começar a ter “aulas” com o filho, juntos os dois já leram mais de 100 livros, e Sandra trocou a carteira de identidade para ter uma com a sua assinatura. “Agora eu já sei [assinar o nome]. Não preciso mais ter vergonha”, orgulha-se.

A realidade de Sandra, infelizmente, também pode ser vista pelos quatro cantos do mundo. De acordo com um estudo da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), atualmente cerca de 708 milhões de adultos em todo o mundo não sabem ler ou escrever nem mesmo uma frase. No Brasil, 8,3% da população com mais de 15 anos são analfabetos, quase 13 milhões de brasileiros não sabem ler e escrever.

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