Filhos de desaparecidos políticos falam sobre relatório da CIA

Marcelo Rubens Paiva e Hildegard Angel, filhos de desaparecidos políticos, refletem atrocidades dos tempos de ditadura após divulgação de documento da CIA

O Brasil de 2018 não hesita em demonstrar simpatia ao golpe militar que, há 54 anos, instalou um cenário de perseguição política e cerceamento da liberdade de pensamento. Não hesita em relativizar as circunstâncias que causaram o desaparecimento e morte de 434 pessoas – das quais mais de 200 nunca foram encontradas.

Ainda que, na última quarta-feira, 10, o pesquisador de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas, Matias Spektor, tenha tornado público um memorando realizado pela CIA (Em 1974) que escancara a política de assassinatos defendida pela cúpula do regime militar.

O documento revela que o ex-presidente Ernesto Geisel não apenas sabia das execuções como as autorizava – e contava com apoio de nomes como João Batista Figueiredo (Na época chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), além os generais Milton Tavares de Souza e Confúcio Danton de Paula Avelino. A justificava para a prática de métodos “extra-legais” levava em conta, sobretudo, a “ameaça terrorista e subversiva” que rondava o país.

Repercussão 

A revelação “oficial” da conduta dos militares reacende o debate sobre os excessos cometidos na ditadura. E neste contexto, momes como Marcelo Rubens Paiva, filho do político Rubens Paiva, e Hildegard Angel, filha de Zuzu Angel – cujas mortes são associadas ao regime – comentaram sobre o assunto.

Em sua coluna no Jornal O Estado de S. Paulo, Marcelo comentou sobre o caso e chamou o documento de “perturbador”. No texto, o escritor chama atenção para a série de assassinatos ocorridos durante os anos de Geisel no poder, como o massacre do Araguaia e outras mortes ocorridas na época.

No Twitter, a jornalista Hildegard Angel, que, além da mãe, perdeu o irmão Stuart Angel, cuja morte também é associada aos militares, comentou sobre o documento da CIA. “Decidiam matar brasileiros às centenas, como quem extermina porcos, galinhas, os jovens brasileiros mais preparados, inteligentes, cultos, porque divergiam no pensamento e na ideologia. E ainda há quem queira o retorno dos militares ao poder”.

Bolsonaro defende atuação de militares 

Na manhã desta sexta-feira, 11, em entrevista à Rádio Super Noticia, o pré-candidato do PSL à Presidência da República, deputado federal Jair Bolsonaro, comparou o consentimento do presidente Ernesto Geisel para executar opositores do regime militar à punição usada por pais contra seus filhos. “Quem nunca deu um tapa no bumbum do filho e depois se arrependeu? Acontece”.

O deputado ainda relativizou as centenas de mortes ocorridas na época, considerando que as vítimas buscavam apenas controlar o país. “Esse pessoal que disse que matamos naquele momento, que desapareceu, caso estivesse vivo por um motivo qualquer, estaria preso acompanhando o Lula lá em Curitiba. Essas pessoas não têm qualquer amor à democracia e à liberdade. Eles querem o poder absoluto”.

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