Ano novo: foto de menino durante fogos no Rio gera polêmica
A virada em Copacabana, bairro da zona sul do Rio de Janeiro, é uma das grandes atrações para turistas brasileiros e do mundo todo. Na passagem de 2017 para 2018, 2,4 milhões de pessoas assistiram a 17 minutos de fogos de artifício, segundo informações da RioTur .
Entre a multidão, uma cena em especial tem chamado a atenção nas redes sociais. Uma foto mostra um menino durante o show pirotécnico. Na imagem, a criança está afastada do aglomerado de gente, no mar e só de bermuda.
Ele aparece sozinho e seus olhos estão fixados no céu, enquanto, ao fundo, a maioria das pessoas se abraçam e comemoram.
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A foto é de Lucas Landau, que já recebeu menção honrosa no prêmio Vladimir Herzog pela Anistia e direitos humanos, em 2015, e outros reconhecimentos. Até a tarde desta terça-feira (2), o registou recebeu 18 mil reações no Facebook, mais de 5 mil compartilhamentos e 350 comentários.
Por conta da repercussão, Lucas resolveu inserir mais informações na legenda e explicar o contexto em que a foto foi feita.
“Como a foto está sendo bem divulgada, acho válido contextualizar: eu estava a trabalho, fotografando as pessoas, assistindo aos fogos em Copacabana. Ele estava lá, como outras pessoas, encantado. Perguntei a idade, nove, e o nome, mas não ouvi por causa do barulho. Como ele estava dentro do mar (que estava gelado), acabou ficando distante das pessoas. Não sei se estava sozinho ou com família”.
Nos comentários, os internautas têm levantado diferentes interpretações. Alguns criticam o fato da imagem ter sido divulgada sem a autorização dos pais da criança, outras afirmam a contribuição da cena para reflexões sobre o contexto social e racial no Brasil.
Veja alguns comentários:
- “Uma das leituras possíveis, a mais aparente, sintetiza a exclusão social e o racismo no Brasil de hoje. Por isso a foto é forte e impactante”.
- “Se nāo fossem as fotos de Aushwitz, se nāo fossem as fotos de Iroshima e Nagasaki, se nāo fossem as fotos do Vietnam ou da fome na Somália. Se nāo fossem as fotos de Herzog na prisāo, se nāo fossem as fotos do Hubble nos mostrando as nebulosas, se nāo fossem as fotos de Serra Pelada, dos refugiados sírios , se nāo fossem as fotos em movimento , aquelas a que chamamos cinema. Quāo pouco saberíamos de nós mesmos”.
- “Achei incrível a imagem e me fez um misto de sentimentos sobre a infância e os réveillons em família. Contudo, vc não conhece a criança, divulgar essa imagem sem a autorização dos pais é crime. Ainda mais a repercussão que está criando, e o fetichismo que se tem com crianças negras. Muita gente já afirma que era um pivete, ou que tenha ou não família. É uma imagem incrível, mas precisa
de autorização dos pais e dá margem pra muita interpretação”. - “Mano, esse mlq nem é morador de rua nem nada, muito menos estava sozinho… só tava tomando banho na praia. Descriminação é achar que só porque o muleque é negro, é mendigo! Mas de fato a foto está fantástica”.
Na legenda, Lucas afirma que a fotografia abre horizontes para várias interpretações. “Todas legítimas, ao meu ver. Existe uma verdade, mas nem eu sei qual é. Me avisem se descobrirem quem é o menino, por favor”.
O uso da imagem de menores de idade, sem autorização, é proibido no Brasil.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) garante, além da inviolabilidade física e psíquica, também a preservação da sua imagem, identidade, autonomia, valores, ideias e crenças, espaços e objetos pessoais (artigo 17). A proteção à imagem de crianças e adolescentes conferida pelo ECA é mais ampla proteção encontrada no Código Civil. Clique aqui para saber mais.
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