Fotógrafos usam Polaroids do Apartheid para retratar a natureza da África do Sul
Instrumentos da política segregacionista, as máquinas foram desenvolvidas especialmente para diferenciar brancos e negros
Em 1970, Caroline Hunter, uma jovem química trabalhando para a Polaroid Corporation, tropeçou em evidências de que alguns funcionários da multinacional estavam indiretamente apoiando o Apartheid – regime de segregação racial que funcionou por quase 50 anos na África do Sul.
Hunter descobriu que a empresa fornecia para o Estado Sul-Africano um sistema de câmeras chamado ID-2, que produzia de forma eficiente as imagens dos “passbooks”, documentos que controlavam a circulação dos negros pelo país. “Eficiente” pois a câmera continha um botão projetado para aumentar o flash ao fotografar indivíduos com pele escura e uma lente a mais, o que permitia a captura de um retrato e de uma imagem de perfil na mesma folha de filme.
Ao lado de seu parceiro Ken Williams, Hunter formou o Movimento dos Trabalhadores Revolucionários da Polaroid e lançou campanha por um boicote à empresa. Em 1977, a Polaroid prometeu que cortaria todas as relações comerciais diretas com o Estado do Apartheid. A segregação não acabaria tão cedo, mas a luta de Hunter e Willians contribuiu para o enfraquecimento do regime racista sul-africano.
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Arte e história em foco
Mais de três décadas depois, os artistas sul-africanos Adam Broomberg e Oliver Chanarin tiveram acesso a essas câmeras e, depois de restaurá-las, começaram a fotografar a natureza do país. Como resultado, o registro de diferentes paisagens sob o foco da lente dupla.
A intenção da exposição The Polaroid Revolutionary Workers é virar para trás as lentes que outrora foram instrumento da segregação e misturar passado e presente, gente e terra, para que, talvez, alguém perceba que aquele passado infeliz ainda pode ser encontrado em alguns lugares.
Confira abaixo algumas das imagens feitas pela dupla que estão expostas na Goodman Gallery em Joanesburgo.