Fui conhecer 3 cinemas pornôs do centro de São Paulo
Eu não sei você, mas a primeira vez que gozei na minha vida foi assistindo a um filme pornô num dia em que estava sozinho em casa. Eu havia “furtado” uma fita em VHS do meu irmão mais velho e estava curioso para aproveitar aquele conteúdo na tela grande da TV da sala. Na época, eu nem sabia direito o que era punheta e simplesmente aconteceu. Lembro que fiquei orgulhoso após o ato e levei alguns segundos para entender que aquilo tinha sido um orgasmo.
Não chego a me considerar um cinéfilo por pornografia, mas admito que curto bastante o gênero. Seja por curiosidade ou libidinagem, resolvi saber se ainda existia algum cinema que exibisse putaria na cidade de São Paulo. As buscas no Google não me ajudaram muito, mas descobri que no ano de 1951 havia sido inaugurado o Cine Jussara na região central. O prédio era a antiga sede do Clube Pinheiros e exibia filmes franceses considerados moderninhos para a época. Dá uma olhada nos cartazes de divulgação:
Mais uns cinco minutos de pesquisa e percebi que o mesmo cinema agora se chamava Cine Dom José e tinha uma programação pornográfica exclusiva, porém, não contava com site próprio. Ao menos agora eu tinha um endereço para falar ao taxista. “Rua Dom José de Barros, número 306.” Logo de cara eu já fui avisado que a rua era muito estreita para a circulação de carros, por isso, desci o mais próximo possível. Quando vi a placa abaixo, fiz questão de tirar uma foto enquanto cantarolava mentalmente a música do Caetano Veloso.
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E se você ficar exatamente embaixo dessa placa, vai ter uma surpresa ao olhar para frente, pois a menos de 20 metros de distância estão o Cine Paris e o Cine República. Acho que aquela era a minha noite de sorte, pois não é sempre que você está próximo de três cinemas que exibem filmes pornográficos. Não resisti, e também fotografei a fachada como se fosse um turista recém-chegado na cidade do prazer.
Pura ingenuidade, para não dizer babaquice, pois assim que cruzei a entrada do Cine Paris, o segurança me avisou em tom nada amigável: “Se tirar foto aqui dentro, você vai acabar se dando mal. Cuidado! Se quiser entrar, vai ter que deixar o celular aqui comigo”.
E foi exatamente o que eu fiz após pagar o ingresso de R$ 12,00. Depois, passei por uma catraca enferrujada e tentei entrar por uma porta, mas fui segurado pelo braço por um funcionário com um balde na mão e um forte cheiro de produto de limpeza.
– Rapaz, aqui são as cabines individuais, a sala de cinema fica subindo as escadas.
– E eu não posso entrar nas cabines?
– Pode, mas tem que pagar R$ 1,50 a mais do valor do ingresso.
– E o que tem nessas cabines? Desculpa, é que nunca vim aqui.
– Você entra e fica por cinco minutos assistindo um filme sozinho, tranquilo… Mas agora eu tô lavando as cabines, então você só vai poder entrar daqui a pouco.
– Hum. E eu posso entrar acompanhado nestas cabines ou só sozinho?
– Como eu disse, é só pagar R$ 1,50 pra ficar cinco minutos. Quem decide o que fazer com quem lá dentro é você. Ou você acha que esse cheiro é de cândida?
Nesse momento, só pude pensar no quanto pode ser embaraçoso ir pela primeira vez em algum lugar. Tipo, você não sabe onde ficam as coisas, como as regras funcionam e muito menos quando pode pisar ou encostar em uma porra.
Enquanto eu decidia se subia ou não para a sala de cinema, percebi que uns quatro caras estavam olhando para mim, além do segurança. Eles pareciam desconfiados e não estavam com jeito de querer fazer amizade. Um deles falou: “Tá procurando o que aqui, hein? Veio pra fazer sacanagem ou pra sacanear a gente?”. Antes que eu pudesse responder, o segurança decidiu por mim. “Ele tá indo embora agora, vem rapaz, pega seu celular e vaza.”
Ser escorraçado do Cine Paris não foi uma sensação muito agradável, mas me serviu de lição de como me comportar no próximo cinema. OK, confesso que pensei em entrar num táxi e ir embora pra casa humilhado, mas me sentiria frustrado se fizesse isso.
Antes de caminhar até o Cine República, guardei o celular dentro da cueca e tentei ser menos tonto ao chegar na bilheteria.
– Opa, quanto custa mesmo o ingresso?
– R$ 14,00.
– E tá rolando o que hoje?
– Filme normal no térreo e de gay no primeiro andar. Pra ir no dark room é só descer as escadas e o bar fica no segundo andar. E tem umas meninas trabalhando também, é só negociar o valor com elas.
– Beleza, me dá um ingresso.
O “filme normal” que a senhora da bilheteria, sim, uma senhora de uns 50 anos, se referia era filme pornô hétero e o “filme de gay”, bom, você já sabe. E as tais das meninas trabalhando eram travestis que faziam boquetes nos… clientes. E como eram esses clientes? Senhores de terno e gravata, peões que pareciam terem acabado de sair de uma obra, entre outros caras que entravam e saiam do dark room parecendo figurantes de filmes ou seriados de zumbis. Eu fiquei andando entre uma sala e outra e preferi não sentar em nenhuma cadeira ou colo de ninguém, já que estava bem escuro. Sem que ninguém percebesse, fiz os cliques abaixo:
Ninguém ali parecia estar constrangido com tantas punhetas entre os frequentadores e, mesmo na sala “hétero”, havia caras se chupando. Dei risada e pensei que deveriam ser g0ys, já que o termo está na moda. Lembrei que a senhora da bilheteria havia falado de um bar no segundo andar e foi pra lá que subi em busca de uma cerveja. Como o ambiente era um pouco mais claro, reparei nas paredes pintadas fortemente da cor laranja. Olha só a foto que fiz escondido:
Quer dizer, não tão escondido, pois o barman gritou na mesma hora, “Ow, maluco, quer apanhar do segurança? Não pode fazer foto aqui não”. Num gesto desesperado, eu coloquei o pau pra fora e falei:
– Calma cara, eu só vim aqui pra gozar. Eu curto tirar foto, me dá mais prazer.
– Ixi, que tu é doido! É cada uma, viu. Aqui no bar não pode gozar não.
– Nossa, relaxa. Olha, tira uma foto minha aqui no bar?
Depois do click feito pelo barman desconfiado, eu bebi a minha cerveja e fui embora pensando que “Melhor parecer um pervertido do que apanhar e ficar sem o celular”. O meu último destino, que era para ter sido o primeiro, foi o Cine Dom José. Enquanto eu caminhava pra lá, acendi um cigarro e guardei mais uma vez o celular dentro da cueca. Entre uma tragada e outra, fiquei imaginando que se o cinema estava aberto desde 1951, é porque muita gente já havia se masturbado por lá.
Cheguei na bilheteria, sorri para a senhora (meu Deus, estas senhoras adoram trabalhar num cinemão pornô) e falei com a certeza de quem já era um frequentador assíduo do local:
– Oi, me dá um ingresso, por favor!
– Meu jovem, apaga essa porra de cigarro, que eu não sou obrigada!
– Opa, desculpe, eu nem percebi que ainda estava fumando. Eu quero um ingresso, por favor.
– A última sessão já começou, aqui não é 24 horas como os outros cinemas daqui do centro. Temos apenas cinco sessões por dia (disse ela enquanto acendia um cigarro e soltava a fumaça na minha cara).
– Poxa, jura? Moça, eu vim de longe! Posso entrar só pra dar uma olhadinha?
– Não!
– Olha, na verdade, eu sou jornalista. Estou fazendo uma matéria sobre…
– Não!
– E eu posso te entrevistar?
– (Silêncio)
– Juro que seu nome não será revelado.
– E você acha que eu tenho medo do quê?
– Então, me dá uma entrevista?
– O que você quer saber?
– Bom… é, que tipo de pessoa frequenta um cine pornô?
– Eu, você, seu pai, seu amigo, seu chefe e todo mundo que curte putaria. Jura que essa pergunta é importante?
– Bom, é que eu não vi nenhuma mulher frequentando…
– A sociedade é machista e hipócrita. Mulher não frequenta senão fica mal falada ou é estuprada, mas todo mundo gosta de putaria, seja homem ou mulher.
– A sua família sabe que você trabalha aqui?
– A sua família sabe que você está aqui brincando de me entrevistar?
– Você não tá muito afim de conversar comigo, né? Posso tirar uma foto sua?
– Você quer morrer? Claro que não pode tirar foto minha!
– Mulher, pelo amor de Deus, me fala algo que compense eu colocar nesta entrevista!
– Olha, escreve assim… Todo mundo vem aqui escondido, apronta escondido, goza escondido, transa escondido e faz tudo escondido. Por que ser safado ou gostar de putaria é errado? O prazer é algo de Deus, foi Ele quem inventou e não o diabo. O diabo quer te ver sofrer, não quer te ver gozar. Meu anjo, agora vai pra casa! Chega, tchau.
Sim, eu entrei num táxi e fui embora para a minha casa. E se e a minha vida fosse um filme, este teria sido um final feliz, com direto a muita gozada.