Funcionária de hamburgueria sofre homofobia de cliente: ‘Ela é lésbica e negra’
O autor das ofensas assumiu ser “preconceituoso e racista”; Até o momento, ele não foi localizado
Joelma Figueiredo, 23 anos, funcionária de uma hamburgueria de Parnaíba, no litoral do Piauí, registrou um boletim de ocorrência após um cliente falar por mensagem que não queria que ela fizesse seu o lanche por ela ser “negra e lésbica”. Nas capturas de tela que circulam pelas redes sociais, o autor das ofensas diz ser “preconceituoso e racista”, e afirma que a empresa não deveria contratar “esse tipo de gente para trabalhar”.
Ao jornal O Globo, Joelma disse que não havia ido à delegacia antes por medo de impunidade e também porque começou a receber ataques nas redes sociais após tornar a ocorrência pública.
Mayara Portela, presidente da Subcomissão da Diversidade Sexual e de Gênero da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Piauí (OAB-PI), foi quem incentivou a jovem oficializar a denúncia.
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“Fomos registrar o boletim de ocorrência, mas ainda não foi localizado o cliente. A advogada Mayara Portela está me orientando, mas estou com medo de perder meu emprego. Estamos recebendo mensagens falando que a empresa quer fazer marketing e lucrar com a repercussão do caso. E eu também penso: e se esse cliente for importante na sociedade, será que vão acobertar o que ele fez?”, questiona Joelma.
As mensagens do cliente de cunho racista e homofóbico foram recebidas no último sábado, 11. O autor das ofensas alega ter ido ao local na última quarta-feira, 9, e lamentou que seu hambúrguer foi feito por Joelma, a chapeira do estabelecimento.
“Desculpe a pergunta, mas meu hambúrguer poderia ser feito por outra pessoa? Lanchei aí na quarta-feira e vi que meu hambúrguer foi feito por uma pessoa que não é do meu agrado”, escreveu o cliente. Para tentar justificar o pedido preconceituoso, a defesa foi: “Ela é lésbica e negra, entenda meu lado”.
A “negra e lésbica é a melhor chapeira da cidade”, respondeu outra funcionária que fazia os atendimentos pelo aplicativo de mensagens. Assim que visualizou o que o cliente disse, Joelma e a colega de trabalho disseram que entrariam com medidas judiciais.
“Tipo de clientes como você não fazemos a mínima questão em nosso estabelecimento. Que o senhor fique sabendo que a ‘negra e lésbica’ é a melhor chapeira da cidade. Vamos na delegacia registrar um B.O. (boletim de ocorrência) contra você”, rebateu a mensagem racista e homofóbica, a outra atendente.
Até o momento, não descobriram quem é o cliente que mandou as mensagens, pois o contato telefônico no aplicativo de mensagem não tem foto e o mesmo não atende ligações.
No último domingo, 12, a Subcomissão da Diversidade Sexual e de Gênero e da Mulher Advogada, da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Piauí (OAB-PI), divulgou uma nota repudiando ao caso. A instituição declarou que as atitudes são inaceitáveis e consideradas crime no país.
“É válido ressaltar que a Lesbofobia e Racismo são condutas tipificadas como crime em nosso ordenamento jurídico e como tal serão tratadas. Todavia é importante frisar que, atitudes dessa natureza são completamente incompatíveis, e absolutamente inaceitáveis no seio de nossa sociedade, que deve prezar pela diversidade, pela democracia, pela justiça e a convivência respeitosa entre todos”, diz a nota.
Homofobia é crime
Desde junho de 2019, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu que o crime de homofobia deve ser equiparado ao de racismo.
Em alguns casos, a discriminação pode ser discreta e sutil, como negar-se a prestar serviços. Não contratar ou barrar promoções no trabalho e dar tratamento desigual a LGBT são atos homofóbicos também.
Mas muitas vezes o preconceito se torna evidente com agressões verbais, físicas e morais, chegando a ameaças e tentativas de assassinato.
Qualquer que seja a forma de discriminação, é importante que a vítima denuncie o ocorrido. A orientação sexual ou a identidade de gênero não deve, em hipótese alguma, ser motivo para o tratamento degradante de um ser humano.