Glossário LGBTQIA+: entenda cada letra da sigla e termos comuns

Produtor e ativista LGBTQIA+, Thiago Roberto conta de que forma os Grupos do Facebook têm relevância na transformação da linguagem e da sociedade

LGBTQIA+, gênero, sexualidade, intersexual, pansexual, não binário… Estes e outros diversos termos têm sido cada vez mais usados nas redes sociais, na mídia e na sociedade como um todo, porém, ainda geram dúvidas para muitas pessoas, principalmente àquelas que não têm proximidade com o assunto.

Segundo Thiago Roberto, 30, produtor e ativista LGBTQIA+, quando criamos novas “caixinhas” dentro do movimento também promovemos novas rupturas. “A internet e, especialmente, os Grupos do Facebook vieram para facilitar esse processo de transformação e evolução das nossas sexualidades”, afirma o ativista.



Thiago Roberto explica as mudanças na sigla LGBTQIA+ e na linguagem utilizada pelos grupos
Créditos: Arquivo Pessoal / Divulgação
Thiago Roberto explica as mudanças na sigla LGBTQIA+ e na linguagem utilizada pelos grupos

Nesses espaços, as pessoas passaram a entender que existem outras como elas em qualquer lugar do mundo e que todas, todos e todes podem formar uma grande rede de apoio.

Foi também por meio dos grupos na rede social que a linguagem utilizada por pessoas LGBTQIA+, incluindo gírias, sofreu modificações e expandiu-se para outras comunidades nos últimos anos. Quem nunca ouviu a palavra “lacrou” por aí, não é mesmo?

Nesta matéria, a Catraca Livre explica “tim tim por tim tim” sobre o glossário LGBTQIA+ para ajudar aliados a apoiar a causa e não cometer mais erros!

Inclusão de TODES na sigla

Cada letra da sigla LGBTQIA+ inclui um grupo de pessoas que se reconhecem por uma orientação sexual (com qual ou quais gêneros você se relaciona) ou uma identidade de gênero (forma com que você se identifica socialmente) distinta do que a sociedade normatizou (orientação heterossexual e gêneros masculino e feminino).

Tal combinação surgiu mais recentemente, após o uso de GLS (gays, lésbicas e simpatizantes), de GLBT (gays, lésbicas, bissexuais e trans) e de LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e trans).

De acordo com o produtor, hoje, a sigla mais atualizada é a LGBTQIA+: lésbicas, gays, bissexuais, trans e travestis, queers, intersexuais, assexuais e todas as demais existências de gêneros e sexualidades.

“Você pode ser uma mulher trans e lésbica, por exemplo, ou um homem trans gay. A genitália não define o gênero”, explica. Como homem cisgênero e homossexual, Thiago ressalta que tem o lugar de fala apenas enquanto alguém que integra a letra G.

Abaixo, saiba o que cada letra representa:

L, G, B: as três primeiras letras tratam a respeito da orientação sexual. O L se refere às lésbicas e o G aos gays, ou seja, mulheres e homens, respectivamente, que sentem atração afetiva e/ou sexual por pessoas do mesmo gênero que o seu. Já o B inclui as pessoas bissexuais, que têm essa atração por ambos os gêneros.

T: tal letra abrange as identidades de gênero, sendo elas transgêneros, transexuais e travestis. Essas pessoas se identificam com um gênero diferente do que foi designado em seu nascimento. Além disso, é o oposto de cisgênero, que são homens e mulheres que se reconhecem conforme seu gênero de nascimento.

Q: o Q vem de queer, que são as pessoas que transitam entre os gêneros feminino e masculino ou que não seguem a binaridade masculino-feminino (não binário).

I: já o I fala sobre o intersexual, que são pessoas cujo desenvolvimento sexual corporal é não binário, então não se encaixa na lógica masculino-feminino.

A: o A também aborda os assexuados, que não sentem atração sexual por outra pessoa, apesar de a afetiva ainda existir.

+: e o que é o símbolo +? São todas as inúmeras outras possibilidades de orientação sexual e identidade de gênero. Um exemplo são os pansexuais, aqueles que sentem atração afetivo-sexual independente da identidade de gênero.

Thiago produz festas que tem como tema a sexualidade e resistência LGBTQI+
Créditos: Hugo Faz | Divulgação
Thiago produz festas que tem como tema a sexualidade e resistência LGBTQI+

#SomosMaisJuntos

O avanço no conhecimento de toda a população a respeito da linguagem da comunidade LGBTQIA+ é essencial para o combate ao preconceito e também para o acolhimento desse grupo. E a internet tem grande relevância nesse processo.

Pensando nisso, a campanha “Somos Mais Juntos” conta histórias reais e inspiradoras de pessoas que encontraram nos Grupos do Facebook um espaço de diálogo e empoderamento para se assumirem.

A iniciativa surgiu após uma pesquisa com usuários ativos da rede social, que mostrou a urgência de tratar temas de inclusão social, como desigualdade de gênero, racismo e LGBTQIA+fobia, de forma acolhedora e produtiva.

Veiculada na TV e em diversas plataformas, o vídeo da ação permite que cada uma dessas pessoas extrapole a rede social e mostre sua sexualidade para o país inteiro, de uma única vez, ao som de Diana Ross, com a icônica música “I’m Coming Out”.

A campanha ainda inclui grupos que funcionam como uma rede de apoio e respeito a LGBTQIA+, como Afrodengo LGBTT+, Gaymers Br e Filhos do Arco-Íris – Grupo de Apoio aos LGBT+.

Internet amplificou discursos

Há anos no ativismo, Thiago relata que o grupo o qual faz parte, dos gays, é o que tem maior “passabilidade” até hoje devido a uma hierarquia criada pela sociedade. “A hegemonia nos coloca como os mais ‘aceitos’ por estarmos mais ‘próximos’ do homem cisgênero e heterossexual”, diz.

Para que o mundo seja mais inclusivo e menos opressor, é necessário que a linguagem evolua constantemente e que as pessoas estudem. “A transformação da sigla vem para fazer com que a população fique menos intolerante e entenda que existe um mundo além. Sobretudo, isso faz com que discursos de alguns grupos não sejam invalidados e fiquem ainda mais vulneráveis”, finaliza.

Se antes o discurso das pessoas LGBTQIA+ na mídia era praticamente inexistente, a internet veio para facilitar essa mudança. “O que assistíamos era o que a TV nos impunha. O conhecimento era caricato e superficial”, lembra.

Por isso, é natural que muita gente ainda se confunda com o uso correto dos termos. “Às vezes essa confusão é pela falta de conhecimento, inclusive dentro da própria comunidade”, acrescenta.

Para o produtor, os Grupos do Facebook chegaram para evidenciar que, quando você se organiza socialmente, cria mais força em coletivo. “É um ato revolucionário. Esse movimento é fundamental para a ruptura de aspectos da sociedade”, relata.

Sua relação com os grupos é de longa data: desde 2013, utiliza muito o Facebook para divulgar eventos e chegar a mais pessoas. “Eu fiz muitos amigos nos grupos, inclusive. Em 2009, eu entendi por lá que eu poderia ser um jogador de videogame e ser gay ou gostar de rock e ser gay”, reafirma ele, que também já chegou a criar um grupo na rede.

Linguagem como resistência

Em termos de vocabulário, Thiago se define como alguém dos “primórdios”. Quando passou a atuar na resistência LGBTQIA+, tomou conhecimento do pajubá, que tem origem na fusão de termos da língua portuguesa com termos extraídos dos grupos étnico-linguísticos nagô e iorubá, e reproduzidos nas práticas de religiões afro-brasileiras.

Como espaços de acolhimento, os terreiros de candomblé sempre incluíram a comunidade LGBTQIA+. Estas pessoas passaram a adaptar os termos africanos em outros contextos como forma de proteção e existência. “O pajubá era uma maneira da gente se comunicar dentro de uma sociedade que não nos aceita. Dentro das transformações, toda a comunidade ficou menos à margem”, mostra o produtor.

Foi a partir do pajubá que se formou o dialeto LGBTQIA+, com gírias conhecidas, como “bafo”, “bofe”, “lacre” e “uó”. Apesar de já se fazer incorporado na fala de muitos brasileiros, sua origem é histórica e com muito significado cultural.

Com o passar dos anos, esse “glossário” também ganhou novos termos, principalmente com o surgimento de Grupos do Facebook. “O LDRV, por exemplo, foi muito importante na transformação dessa linguagem, pois passamos a utilizar os memes como comunicação”, afirma o ativista.

“Agora temos um mix entre o iorubá com a linguagem de internet. Também tem a cultura da RuPaul’s [Drag Race – cultura drag queen], que deu uma internacionalizada nas palavras.”

“Tudo isso é uma identificação por meio da linguagem, como se a gente se sentisse pertencente a uma tribo. Quando nos organizamos socialmente, construímos juntos essa linguagem”, conclui.


A campanha #SomosMaisJuntos destaca o importante papel dos Grupos do Facebook em se tornarem um local de conversa que funciona como uma rede de apoio e respeito a LGBTQIA+ e seus familiares.

Entre os grupos que ganharam destaque na campanha, estão: Mães pela Igualdade, Afrodengo LGBTT+, Gaymers Br e Filhos do Arco-Íris – Grupo de Apoio aos LGBT+. Curta e compartilhe esta ideia e faça estas importantes redes de acolhimento chegarem em mais pessoas.