Vendido pelo pai, homem reencontra família biológica depois de 37 anos
História do paranaense Gilberto retrata outras milhões de trajetórias semelhantes no Brasil
Nos últimos anos, as redes sociais passaram a cumprir um importante papel no reencontro de famílias separadas pelas circunstâncias da vida. O paranaense Gilberto Leite simboliza uma dessas histórias de milhões de brasileiros que, após décadas, teve a felicidade de fazer as pazes com o passado e a chance de reviver a vida com a mãe e irmãos biológicos.
Tudo começou há quatro anos, quando Gilberto, então com 37, fez uma publicação em uma rede social em que destacava uma foto dele criança, outra adulto e um breve relato sobre o que sabia de sua vida antes da adoção, ocorrida após completar dois anos.
Ali, Gilberto dava início a uma viagem de volta ao tempo que mudaria completamente sua trajetória até então. Além do reencontro com a família, descobriu também que foi vendido aos dois anos de idade pelo pai. Em entrevista ao G1, ele tentou definir o momento do reajuste com o passado. “Foi um turbilhão de sentimentos. Não tem como explicar.”
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Gilberto tinha 14 anos quando descobriu que era adotado durante uma reunião de família em que um dos parentes deixou escapar um comentário a seu respeito.
Hoje aos 41 anos, Gilberto mora na cidade de Fazenda Rio Grande, município próximo a Curitiba. O episódio incentivou o adolescente a confrontar os pais, que revelaram não só a adoção, mas os fatos que antecederam o processo. Registrado como Dominique, ele nasceu na capital paranaense e, segundo a versão, os pais biológicos haviam morrido em um acidente de carro. Acreditava-se, então, que Gilberto, e seus quatro irmãos, ficaram sob custódia da avó. Sem recursos financeiros para lidar com a situação, ela decidiu entregar o menino para adoção.
Foi assim que o pequeno Dominique acabou adotado pela nova família. Impactado pela enxurrada de informações e novos fatos sobre a sua vida, Gilberto não se contentava mais com aquela versão reduzida da sua própria vida. Com o apoio do pai adotivo, decidiu buscar mais respostas sobre o passado.
“Aquilo foi me corroendo. Eu aceitei, mas vem aquela vontade de ir atrás. Eu sentia aquela tristeza de ser filho único, não ter um irmão para conversar. Pensava: ‘Poxa, como eu queria conhecer meus irmãos, perguntar para minha avó, se ela ainda estiver viva, por quê ela me deu”, relembrou em entrevista ao G1.
A primeira tentativa, no entanto, não rendeu grandes respostas e passaram-se alguns anos até que Gilberto retomasse as pesquisas em busca dos irmãos. Com apoio da esposa, resolveu recorrer às redes sociais e foi aí que tudo começou a vir à tona.
Reviravolta: reencontro com a família biológica
Com a nova publicação, Gilberto recorda que sua história teve mais de 11 mil compartilhamentos, chegando ao conhecimento de um jornal local, que somou forças nas buscas por informações sobre o paradeiro da família. Até que certo dia, Gilberto recebeu uma mensagem de uma mulher falando que o tio dela tinha uma história semelhante à relatada.
Quase sem esperança de reencontrar a família, Gilberto visitou o suposto irmão e foi levado para a casa da mãe biológica, Izabel Vengue Martins. Lá descobriu ser muito parecido com um dos filhos que havia falecido recentemente. “Eu era um dos mais parecidos com esse que morreu. Ela [a mãe] ficou olhando e falou: ‘Nossa, muito parecido com o Patrick’. Ai ela veio correndo, me abraçou e disse: ‘Você voltou para a família”, relembrou ao G1.
Mesmo com tantas semelhanças e coincidências, Gilberto preferiu confirmar as evidências e fez um exame de DNA para pôr um ponto final nessa longa expectativa de anos. “Não queria ficar com essa dúvida no meu coração. Fiz o DNA e deu 99,99%. Depois disso, foi só conhecer o resto da família. Uma época eu chorando que não tinha irmão, não tinha uma pessoa com quem conversar, e agora tenho mais de 10 irmãos”, afirmou.
Ele explica que, apesar da descoberta, demorou para contar aos pais adotivos por receio de que sofressem com a situação. Por isso, optou por manter o nome e explicou o motivo. “Eles iam pensar que eu ia abandonar eles, ia deixar de amar eles, coisa que nunca ia acontecer. Minha família biológica me chama de Dominique, mas não posso mudar meu nome. Eu tenho uma história, tenho uma vida. Teria que fazer uma mudança total e não seria justo para meu pai que me criou, me deu tanto amor”, relata.