Indígena com covid-19 sofre aborto e hospital entrega feto numa garrafa
“Não sabemos se podemos enterrar”, afirmou David, marido de Jacieli, com o feto em casa
Jacieli Pego Ramos Balonese, uma mulher indígena, de 31 anos, sofreu um aborto espontâneo e recebeu do hospital uma garrafa plástica com o feto. Da etnia Tupiniquim, moradora da aldeia Caieiras Velhas, em Aracruz, na região Norte do Espírito Santo, ela foi diagnosticada com covid-19 dias antes de perder o bebê.
O marido da indígena divulgou um vídeo nas redes sociais. Extremamente triste e abalado, David relatou a angústia que o casal sente com o episódio e ainda questiona o que eles devem fazer com o feto. “Não sabemos se podemos enterrar”, afirmou.
Jacieli contou ao portal G1 que o aborto aconteceu em casa, na última sexta-feira, 3. Ela foi levada para o hospital de ambulância e relatou que enquanto esperava para fazer a curetagem, – procedimento necessário após mulheres sofrerem aborto -, o feto ficou com ela no quarto.
A indígena ainda revelou que viu momento em que a enfermeira colocou o feto dentro de uma garrafa com soro fisiológico e formol e fechou selando com fita adesiva.
Ela relatou também que viu quando o feto foi colocado por uma técnica de enfermagem em uma garrafa de soro fisiológico, além de profissional de saúde ter adicionado formol e selado com fita adesiva.
A garrafa ficou com Jacieli que foi para casa. O material só foi recolhido quando o marido da indígena ligou para o hospital.
Em nota, o Hospital São Camilo, informou que “a orientação do município que a família ou o paciente entregue as peças para o histopatológico na Casa Rosa (que é o serviço municipal responsável pelo envio de materiais)” e acrescentou que “não é responsável pelas análises de biópsias e histopatológicos, atendemos a solicitação do município”.
“Assim que tomamos ciência de vídeos e ligações de lideranças comunitárias, imediatamente enviamos uma equipe do hospital para recolher o feto para reduzir o constrangimento à familiares e ligamos para a secretaria de saúde para apoiar no caso. Acerca da entrega do feto em um frasco improvisado, é importante ressaltar que foi um fato isolado e que não é uma prática comum dentro de nosso hospital. Abrimos uma sindicância interna para apurar os fatos, para tratarmos da melhor maneira possível”, diz a nota do hospital.
A indígena foi diagnosticada com a doença causada pelo novo coronavírus, no último dia 25 de junho, dias antes de sofrer o aborto.Ele recebeu o resultado positivo para covid-19 por telefone, quatro dias após fazer o exame.