Jiboia à solta em SP: Cobra de estimação foge de apartamento e preocupa moradores
A jiboia pode ser um pet? Entenda se é possível domesticar uma cobra silvestre
Bruna Magalhães procura, desde terça-feira, 21, sua jiboia de estimação que fugiu de seu apartamento, no bairro de Perdizes, em São Paulo. Desde a fuga, moradores da Zona Oeste da capital paulista estão preocupados, alguns com medo.
A dona da cobra informou que acionou a Polícia Ambiental e o Corpo de Bombeiros, mas ouviu que “não há muito o que possa ser feito”.
“É com muita dor no coração que venho informar que o Sylas está desaparecido desde ontem”, disse a cuidadora em uma postagem em seu perfil no Instagram.
“Na segunda-feira à noite, o vi antes de dormir e ontem pela manhã, quando fui olhar novamente, ele não estava em seu terrário. Notei que a ‘portinha’ onde se passa o fio da placa aquecida estava erguida e provavelmente saiu por lá. Revirei a casa toda e não acredito que continue dentro do apartamento”, explicou.
Em entrevista ao UOL, Bruna contou que cria a jiboia desde 2018 e tem autorização para tê-la.
Ela ainda ressaltou que o animal não é peçonhento e fez um apelo num grupo do Facebook do bairro. “Se alguém encontrar uma cobra, me chame! Não matem, ela é dócil e não possui peçonha, não fará mal a ninguém”. “Só quero encontrar meu bicho e seguir minha vida. Se não for contribuir em nada, não comenta”, acrescentou.
Bruna contou que até o momento ninguém entrou em contato com ela e disse fez a publicação nas redes sociais porque sabe que as pessoas têm medo de cobras. Ela ainda revelou que na publicação tem sido ofendida. “Me chamam de doida e falam que cobra não é para ter em apartamento”.
O assunto ganhou repercussão no Twitter após a publicação nas redes sociais.
https://twitter.com/MaririWhatahell/status/1539787370052059136?s=20&t=R1L4ju6GeIBu6XWgA4vAOQ
A jiboia pode ser um pet?
Existem vários tipos de jiboias. 11 subespécies foram catalogadas na América Latina e América Central, porém, somente duas delas estão no Brasil. Estas podem ser encontradas no solo e nas árvores da Floresta Amazônica, Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica.
As brasileiras são a jiboia amazônica (Boa Constrictor Amarali) e a jiboia comum (Boa Constrictor Constrictor), que apresentam, em sua maioria, cabeça achatada. A coloração pode variar entre tons de cinza, caminhando para o marrom e, em alguns casos, chegando quase no preto.
Contudo, existem serpentes de todas as cores. A arco-íris – como a que fugiu em Perdizes -, por exemplo, ganha esse nome porque, quando iluminada pelo sol, sua pele ganha todas as cores do arco-íris. Também existe a amarela e até a raríssima jiboia albina.
É venenosa?
“Ela é venenosa, quebra ossos, pode engolir um boi, causa doenças”, mas será que é isso mesmo? Na verdade, não.
Com a sua fama, é muito comum imaginar que a jiboia é venenosa, mas a verdade é que não! Na biologia, sua dentição é chamada de “áglifa”, o que significa que ela não produz substâncias tóxicas, por isso, ao morder, não injeta veneno. Sendo assim, o animal não oferece riscos a seres humanos.
Mas, pode cobra ser pet?
As únicas cobras que são liberadas pelas autoridades sanitárias e de proteção animal para serem criadas em casa são as de espécies não-peçonhentas. Mas para haver a permissão legal de criação deste animal exótico, silvestre, é preciso que a compra seja feita com criadores legalizados e com registro no Ibama. Além disso, é preciso que ele venha com um microchip, utilizado pelos órgãos de controle e fiscalização.
A pessoa que desejar ter um pet exótico, como uma jiboia, precisa enviar uma carta-consulta ao órgão competente de sua região, explicando seus motivos para querer o pet e as espécies que pretende criar, além de dizer o local que será destinado ao criadouro. Com essas informações, o Ibama faz uma vistoria no lugar e, se tudo estiver dentro das exigências legais, o registro de criação é liberado.
Porém, será que ter uma cobra como pet é uma boa ideia?
A jiboia, espécie não venenosa, é uma das mais comuns de se encontrar nos ambientes domésticos. Mas ao contrário do que se acredita, oferecer um terrário minimalista e climatizado não é o suficiente para abrigar uma serpente de estimação.
Simplificar demais o ambiente
Esse é um dos primeiros equívocos que as pessoas cometem ao adquirir uma serpente de estimação.
Na natureza, uma jiboia pode estar em cima de uma árvore ou escondida entre as folhas no solo, por exemplo. Ela pode habitar tanto florestas tropicais quanto regiões semiáridas. E, como se não bastasse a falta de enriquecimento ambiental, o problema dos terrários domésticos está também no tamanho. Isso porque uma jiboia pode chegar a dois metros de comprimento e em cativeiro ela nunca vai poder se esticar. Uma cobra não vive o tempo todo enrolada.
Ignorar riscos de transmissão de doenças
Longe de seu habitat natural, as chances de o animal ficar doente são maiores, já que ele provavelmente sofrerá de estresse crônico. A salmonela está entre as doenças que podem ser transmitidas ao criar uma jiboia em casa.
Oferecer apenas uma presa como alimento
Este é um ponto de atenção na criação das jiboias em cativeiro. Em geral, elas são alimentadas com apenas um tipo de presa, o que é bem diferente na natureza, onde ela pode se alimentar de roedores, lagartos, aves, entre outros animais. Além disso, por gastarem pouca energia é comum que jiboias domésticas fiquem obesas – e o sobrepeso pode comprometer suas funções.
Não saber quanto tempo vive uma jiboia
A jiboia pode viver, em média, 30 anos. Por isso é preciso que o tutor tenha alguém que cuidará do animal quando não puder mais fazê-lo. Afinal de contas, não é tão simples manusear e cuidar de um animal assim… O que leva aos casos de abandono ou devolução de jiboia – que são muito comuns.
Com informações da ONG World Animal Protection e Petz.