Jornalistas deixam a revista Época após polêmica com nora de Bolsonaro
O Grupo Globo se desculpou com Heloísa Bolsonaro reconhecendo que houve excessos na reportágem
Jornalistas da Época deixaram a redação da revista após polêmica com nora de Bolsonaro, Heloísa Wolf Bolsonaro, esposa do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), de acordo com informações do ‘Portal dos Jornalistas’.
Segundo a reportagem, ainda não houve a confirmação dos nomes envolvidos e se a decisão partiu do Grupo Globo ou dos próprios jornalistas, mas o motivo seria a nota em que o Grupo Globo se desculpou pela reportagem publicada na última edição da revista sobre Heloísa Bolsonaro, mulher do deputado federal Eduardo Bolsonaro.
Realizada pelo jornalista João Paulo Saconi, a reportagem revista Época dá detalhes de um mês de sessões de coaching online sobre autoconhecimento feitos com Heloísa. Heloísa fala de Eduardo como um de seus “cases de sucesso”, além de Citar Olavo de Carvalho e outros nomes amados pelo bolsonarismo.
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Sem saber que Saconi era jornalista, ela teria defendido a nomeação do marido como embaixador em Washington e comentado supostas irregularidades em financiamentos do BNDES. O repórter também afirma que recebeu de Heloísa a indicação para acompanhar veículos, blogs e personalidades que apoiam o bolsonarismo, como Terça Livre, Renova Mídia e Filipe G. Martins (assessor especial da Presidência para assuntos internacionais).
O curso de autoconhecimento custa R$ 1.350 e é o mais barato oferecido pela esposa do deputado.
A reportagem causou grande pressão do parlamentar que chegou a dizer que processaria o repórter João Paulo Saconi, o editor Plínio Fraga e a diretora de redação Daniela Pinheiro.
Publicada na última edição da revista, que entrou em circulação nesta segunda-feira (16) e também divulgada na internet, a reportagem “uma Bolsonaro ensina a vencer na vida” foi duramente criticada pela família presidencial e por seus apoiadores.
Veja a íntegra da nota do Grupo Globo
UMA EXPLICAÇÃO NECESSÁRIA
Nota do Conselho Editorial do Grupo Globo
“Como toda atividade humana, o jornalismo não é imune a erros. Os controles existem, são eficientes na maior parte das vezes, mas há casos em que uma sucessão de eventos na cadeia que vai da pauta à publicação de uma reportagem produz um equívoco.
Foi o que aconteceu com a reportagem “O coaching on-line de Heloisa Bolsonaro: as lições que podem ajudar Eduardo a ser embaixador”, publicada na última sexta-feira. ÉPOCA se norteia pelos Princípios Editoriais do Grupo Globo, de conhecimento dos leitores e de suas fontes desde 2011. Mas, ao decidir publicar a reportagem, a revista errou, sem dolo, na interpretação de uma série deles.
É certo que em sua seção II, item 2, letra “h”, está dito: “A privacidade das pessoas será respeitada, especialmente em seu lar e em seu lugar de trabalho. A menos que esteja agindo contra a lei, ninguém será obrigado a participar de reportagens”. A letra “i” da mesma seção abre a seguinte exceção: “Pessoas públicas – celebridades, artistas, políticos, autoridades religiosas, servidores públicos em cargos de direção, atletas e líderes empresariais, entre outros – por definição abdicam em larga medida de seu direito à privacidade. Além disso, aspectos de suas vidas privadas podem ser relevantes para o julgamento de suas vidas públicas e para a definição de suas personalidades e estilos de vida e, por isso, merecem atenção. Cada caso é um caso, e a decisão a respeito, como sempre, deve ser tomada após reflexão, de preferência que envolva o maior número possível de pessoas”.
O erro da revista foi tomar Heloisa Bolsonaro como pessoa pública ao participar de seu coaching on-line. Heloisa leva, porém, uma vida discreta, não participa de atividades públicas e desempenha sua profissão de acordo com a lei. Não pode, portanto, ser considerada uma figura pública. Foi um erro de interpretação que só com a repercussão negativa da reportagem se tornou evidente para a revista.