Jornalistas lançam ação contra assédio após demissão de repórter

O movimento surgiu em apoio à repórter do iG, que foi demitida logo depois de denunciar ter sido assediada pelo cantor Biel

21/06/2016 12:24 / Atualizado em 19/10/2016 12:37

A demissão da repórter do iG, duas semanas após denunciar ter sido assediada por MC Biel, causou indignação nas redes sociais e trouxe à tona o debate sobre a cultura machista no jornalismo. O motivo para a demissão, de acordo com comunicado do veículo, era uma “reestruturação” da empresa, mas apenas esta jornalista foi desligada de seu cargo.

A indignação com o ocorrido desencadeou um movimento espontâneo de profissionais para denunciar casos de assédio e apoiar a repórter. Em apenas três dias, mais de 4 mil jornalistas se uniram em um grupo de discussão no Facebook.

Com a criação da página “Jornalistas contra o assédio“, as participantes mostram que essas situações são muito recorrentes dentro e fora das redações e que a vítima NUNCA é culpada pelo abuso sofrido.

O vídeo do movimento conta com a participação de várias jornalistas
O vídeo do movimento conta com a participação de várias jornalistas

A ideia surgiu a partir de um post no Facebook da jornalista Janaina Garcia, feito em solidariedade à repórter. Ao lado de Thais Nunes, ela decidiu transformar a revolta em luta contra o machismo. Assim foi criada a hashtag #JornalistasContraOAssédio e o vídeo da campanha com depoimentos de mulheres a respeito do assunto.

Em entrevista ao Catraca Livre, Janaina reflete sobre a grande repercussão da iniciativa em poucos dias. “Esse grande número de adesões ao movimento mostra uma demanda reprimida para discutir o assédio contra as mulheres jornalistas”, afirma.

Nesta quarta-feira, dia 22, o movimento vai fazer um “twitaço” com frases que refletem o assédio dentro das redações. Confira o Twitter da iniciativa neste link. Assista ao vídeo:

Leia o manifesto do movimento na íntegra:

“Jornalista sofre assédio? Onde? Quando? Por quê?

Antes fossem simples como um lead jornalístico as respostas para uma questão como essa – mais comum no dia a dia das profissionais do jornalismo do que se pode imaginar. Dentro ou fora das redações. Dentro ou fora das assessorias de imprensa.

As respostas para o nosso ‘lead’ começaram a surgir com força a partir da demissão de uma colega do portal iG, no último dia 17. A mesma que, semanas antes, denunciara assédio sexual do cantor Biel durante uma entrevista. O caso rendeu reportagens dentro e fora da empresa, que se comprometeu a dar assistência à jovem de 21 anos – mas a decisão de demiti-la surpreendeu a própria redação do portal.

Com os sentimentos de empatia e de desnaturalização de um tema tão grave, nasceu a campanha ‪#‎jornalistascontraoassédio – de um post no Facebook a grupo de WhatsApp, grupo no Facebook, e, agora, na Fanpage homônima.

O assédio é um dos ranços do machismo nosso de cada dia. Expurgar isso com denúncia e com informação é tarefa não só das mulheres, mas de qualquer jornalista que pretenda, de fato, ver uma sociedade menos desigual de oportunidades, conceitos, direitos e deveres.

Um lugar mais legal em todos os sentidos da palavra.

Vamos juntas?
Vamos juntos?
Somos
#jornalistascontraoassédio”

A campanha denuncia o machismo dentro e fora das redações jornalísticas
A campanha denuncia o machismo dentro e fora das redações jornalísticas

Relembre o caso

A repórter do iG que denunciou o funkeiro MC Biel por assédio sexual durante uma entrevista, realizada em maio deste ano, foi demitida do portal na última sexta-feira, dia 17.

Procurado pela reportagem, o portal iG comentou o caso por meio de uma nota enviada por e-mail: “A empresa está seniorizando a equipe no intuito de melhorar nosso conteúdo próprio. Trata-se de uma reestruturação normal em função dessa necessidade. A repórter continuará recebendo todo o apoio da empresa e seus funcionários no caso”.

A jornalista denunciou MC Biel por assédio sexual em junho deste ano. Ela afirma que o cantor de 20 anos a chamou de “gostosinha” e disse que “a quebraria no meio” se mantivesse relações sexuais com a profissional.

A conversa entre eles foi testemunhada por outras pessoas que acompanhavam a entrevista. Em determinado momento, ele teria chamado ela ainda de “cuzona” e perguntado se ela queria um selinho. No vídeo, são ouvidos risos ao fundo, enquanto uma pessoa que acompanha a filmagem justifica a atitude. “Relaxa, ele é assim mesmo”.