Jovem grava pai dizendo que só compraria uniforme se pudesse estuprá-la

A garota foi abusada por 10 anos e a Justiça levou outros 12 para expedir mandado de prisão preventiva após ela ter procurado a polícia

19/05/2022 14:59

Uma jovem gravou o pai lhe dizendo que só compraria seu uniforme para a escola se ele pudesse estuprá-la. O mandado de prisão preventiva só foi deferido pela Justiça cerca de 12 anos após a vítima procurar a polícia.

Pai que foi gravado dizendo que só compraria uniforme se pudesse estuprá-la é preso pela Polícia Civil, em Belo Horizonte
Pai que foi gravado dizendo que só compraria uniforme se pudesse estuprá-la é preso pela Polícia Civil, em Belo Horizonte - Divulgação/Polícia Civil

“Os abusos começaram quando eu tinha uns 3 anos, tinha um shortinho vermelho e listrado e lembro dele esfregando as partes íntimas em mim. Quando eu entrei na adolescência, precisava de um uniforme escolar e meu pai disse que só compraria se eu deixasse ele me chupar”, contou Mariana, que hoje tem 25 anos e foi abusada por cerca de dez anos pelo próprio pai no bairro Ouro Preto, na Região da Pampulha, em Belo Horizonte.

Até os 3 anos, Mariana, que é filha única, contou que com a avó materna porque seu pai não gostava de choro de criança. Depois dessa idade, ela foi morar com os pais e os abusos, que duraram uma década, começaram.

A mãe da vítima era faxineira na casa de uma família e, sempre que ela saía, o pai avançava. “Meu pai trabalhava em obra e ficava comigo quando minha mãe saía para trabalhar. Ele entrava no meu quarto e cometia os abusos. Cheirava as minhas calcinhas, beijava a minha boca.

“Fui crescendo e vendo que aquilo não estava certo. E ele sempre dizia que eu não podia contar porque minha mãe e eu não conseguiríamos viver sem ele pela questão financeira”, disse a jovem.

Foi no dia em que pai falou que só compraria o uniforme após estuprá-la, que Mariana tomou coragem e contou para a mãe o que estava acontecendo. “Minha mãe pediu para eu gravar, ele repetiu isso e fomos à delegacia. Depois da denúncia, meu pai se recusou a sair de casa e fui morar novamente com minha avó. Depois de alguns meses, ele saiu e voltei para ficar com a minha mãe”.

Após ir morar com a avó, Mariana não teve mais contato com o pai.

Em janeiro deste ano, ela conseguiu uma medida protetiva após o pai se mudar para a mesma rua em que ela mora.

O homem foi preso na madrugada desta quarta-feira, quando saia de casa para o trabalho. “Eu agradeço demais à equipe da delegada Larissa, que fez a prisão hoje. Desde o início deste ano faço acompanhamento com psicólogo, o que ele fez me deixou marcada, não confio mais em ninguém. A pessoa em que eu poderia confiar me decepcionou. Poxa, ele é o meu pai. Ele fez isso comigo. O meu pai”, disse Marina.

Ação da Polícia

De acordo com a Polícia Civil, após a jovem ter registrado a denúncia contra o pai , quando ainda era uma adolescente, todos os procedimentos que deveriam ser feitos foram realizados.

“Foi colhido o relato dela, da mãe, foram realizadas diligências, perícia na gravação apresentada. Naquele momento não tinham requisitos para efetuar a prisão dele, mas as investigações foram realizadas, ele foi indiciado e virou procedimento criminal”, explicou a delegada Renata Ribeiro, chefe da Divisão Especializada em Atendimento à Mulher ao Idoso e a Pessoa com Deficiência e Vítimas de Intolerâncias
Durante a prisão nesta quarta, o homem negou os abusos sexuais.

Segundo a polícia, o pai de mariana “negou também que tenha ameaçado a vítima, que estivesse rondando a casa dela. No entanto, admitiu que estava morando próximo à casa da filha e já tinha tomado conhecimento, há cerca de um mês, da medida protetiva”, contou a delegada Larissa Mascotte, que efetuou a prisão do suspeito.

A Justiça de Minas Gerais não explicou por que demorou 12 anos para deferir o mandado de prisão preventiva contra o pai da jovem.

Alerta para o comportamento de jovens e adolescentes

As delegadas alertam para que pais e responsáveis fiquem atentos ao comportamento de crianças e adolescentes.

“É necessário ficar vigilante, orientar e conversar com crianças e adolescentes. E eles não devem ter medo de contar o que acontece”, afirmou a delegada Renata.

Diariamente, crianças e adolescentes são expostos à violência sexual. Até abril de 2019, o Disque 100 recebeu mais de 4 mil denúncias de abuso infantil em todo o Brasil, mas sabemos que esses dados não estão nem perto da realidade, uma vez que ainda é difícil ter estatísticas que realmente abranjam o problema de forma real.

Isso se dá por inúmeros fatores como, por exemplo, pelo preconceito e pelo silêncio das vítimas (que às vezes não entendem o que está acontecendo com elas) e pela “vergonha” e falta de informação sobre o assunto de familiares.

Segundo o estudo da Rainn, a maior organização social contra a violência sexual dos Estados Unidos, 93% dos casos acontecem quando o agressor é próximo e tem “poder” sobre a vítima, como pais, primos, tios, avôs, vizinhos e professores.

Como proteger as crianças da violência sexual

Embora o abuso infantil seja um tema complicado de ser abordado, ele é extremamente importante. Primeiro, porque é algo que acontece frequentemente em muitos lares brasileiros e, segundo, porque ele pode ter consequências danosas às vítimas.

Por isso, é de extrema importância que os pais estejam cientes das seguintes dicas:

  • Explique para a criança quais são as partes íntimas do corpo

É importante que as crianças aprendam a nomear corretamente as partes do corpo e saibam identificar o que é íntimo, assim ela pode relatar aos pais quando algo fora do comum acontecer. Explique que ninguém pode tocar nessas regiões e nem vê-las, apenas os pais quando forem dar banho ou trocar de roupa.

  • Explique sobre os limites do corpo

Converse com a criança sobre permissão. Ensine que ninguém pode tocar as suas partes íntimas, nem ela não pode tocar nas partes íntimas de nenhuma pessoa, seja ela conhecida ou desconhecida. Alerte a criança para possíveis estratégias usadas por abusadores, como trocar carícias por doces, apresentar um “cachorrinho” e assim por diante.

  • Incentive seu filho a conversar com você

Muitas vezes, os abusadores pedem às crianças para manterem o ocorrido em segredo, seja ameaçando ela ou de maneiras lúdicas. Por isso, ensine que segredos não são coisas boas e que ele sempre pode e deve contar a você tudo o que acontece. Lembre-se que essa relação de confiança é muito importante e, por isso, a criança NUNCA deve ser punida, criticada ou castigada por contar qualquer coisa sobre o seu corpo.

O abuso sexual de crianças e adolescentes pode ter o “disfarce” de carinho e/ou é camuflado com “segredos” entre o agressor e a vítima
O abuso sexual de crianças e adolescentes pode ter o “disfarce” de carinho e/ou é camuflado com “segredos” entre o agressor e a vítima - iStock/@TopVectors
  • Saiba o que ele está fazendo

Muitos dos casos de abuso infantil acontecem quando uma criança passa horas sozinha com um adulto, que pode ser um membro da família ou um conhecido. Por isso, saiba o que seu filho está fazendo mesmo quando você não estiver.

Se for preciso deixá-lo por horas com um adulto ou um adolescente responsável, tenha meios de vigiá-los por um tempo para saber como é esta relação ou prefira situações nas quais seu filho esteja junto a um grupo, pois isso dificulta a ação de abusadores.

Mesmo nesses casos, não baixe a guarda: tente saber sobre as pessoas que cuidarão da criança durante sua ausência. Por exemplo, se você for inscrever seu filho em um acampamento, saiba quem são os monitores e qual preparo eles possuem para prevenir e reagir contra um possível abuso.

  • Preste atenção nas reações da criança

Sempre analise a reação da criança. Se ela demonstra não ter afeição por alguém próximo, que ela teoricamente deveria desenvolver afeto, tente entender o motivo.

  • Identifique os possíveis sinais de um abuso

Não é fácil notar sinais físicos de um abuso sexual, mas é possível que a criança tenha alterações no seu comportamento, como: irritação, ansiedade, dores de cabeça, alterações gastrointestinais frequentes, rebeldia, raiva, introspecção ou depressão, problemas escolares, pesadelos constantes, xixi na cama e presença de comportamentos regressivos (por exemplo, voltar a chupar o dedo). Outro sinal de alerta é quando a criança passa a falar abertamente sobre sexo, de forma não-natural para a sua idade, física e mental.

Se você notar algum desses sinais, tome cuidado com a sua reação, porque ela pode fazer com que a criança se sinta ainda mais culpada. O importante é apoiar a criança, escutar o que ela tem a dizer e não duvidar da sua palavra. Busque ajuda e orientação profissional para que o seu filho consiga falar sobre o ocorrido e lidar com o fato.

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