Jovens denunciam assédio dentro do Quitandinha Bar, na Vila Madalena
Leia na íntegra a resposta do Bar Quitandinha
O Carnaval nem bem começou, e o primeiro relato de assédio já pipoca nas redes sociais. Uma jovem escreveu nesta sexta-feira (5) no Facebook que ela e sua amiga foram vítimas de assédio de dois homens dentro do Quitandinha Bar, na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo.
No texto, elas contam que, na noite de quinta-feira (4), dois rapazes as abordaram dentro do bar no único momento em que seus amigos, todos homens, foram para a rua fumar. A jovem diz que eles sentaram na mesa delas sem serem convidados, serviram-se de sua cerveja e, ao perceberem que elas não queriam conversa, começaram a xingá-las de “feias”, “gordas” e “escrotas”.
Indignadas, as meninas afirmam que chamaram o garçom e o gerente do local, que nada fizeram. Ao contrário: segundo elas, os funcionários cumprimentaram “calorosamente” os rapazes e disseram que eles são clientes da casa há 10 anos. “Ao invés de retirar os caras, o segurança nos retirou, de forma bruta. Sim. As duas meninas que estavam sentadas na mesa tomando conta das nossas próprias vidas”, afirma o texto. Leia na íntegra abaixo:
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O Carnaval começou com uma dose cavalar de silenciamento. Senta que lá vem textão. Ontem à noite, eu e meus amigos…
O post de Júlia Velo
O Carnaval começou com uma dose cavalar de silenciamento.
Senta que lá vem textão.
Ontem à noite, eu e meus amigos tivemos a infelicidade de ir parar no Bar Quitandinha, na Vila Madalena. Sentamos em um mesão com nossos amigos homens e só eu e a Isabella de mulher. Bebemos algumas durante umas horas, até que todos os homens resolveram se levantar para ir fumar ao mesmo tempo. Absolutamente normal. Eu e ela continuamos sentadas, batendo papo.
E, no intervalo de 5 minutos sem a escolta masculina, um absurdo aconteceu.
Dois caras se sentaram na nossa mesa de forma extremamente desrespeitosa. Puxaram a cadeira e se acomodaram, sem nenhum tipo de convite ou abertura. Tentaram puxar papo insistentemente, enquanto nós desconversávamos, bastante incomodadas. Um deles achou conveniente se servir da nossa cerveja. Obviamente indignadas com a situação, pedimos para que ele não fizesse isso e deixasse a mesa. Ele ignorou e seguiu fazendo o que bem entendesse. Chamamos o garçom e pedimos para ele afastar os caras, que, a esse ponto, já estavam perdendo a linha. Nada – nada – foi feito.
Enquanto eu e a minha amiga tentávamos ignorar os dois trogloditas, eles resolveram partir para o contato físico, já que uma conversinha amigável não estava adiantando. Um deles puxou meu braço. Pedi para ele não tocar em mim. E aí, meu amigo, imagina um cara que ficou puto. Como assim eu não posso tocar numa mulher que tá sentada sozinha? Eles se levantaram da mesa e começaram a nos xingar dos piores nomes da face da terra. “Puta e “lixo” foram dos mais leves. Disseram que não queriam nos tocar mesmo, já que somos feias, gordas e escrotas. Que eles tinham tanto dinheiro (?) que poderiam até nos comprar, se eles quisessem. É. Esse tipo de babaca.
O garçom chegou com o gerente no meio da discussão. Ah! Esses daí vão ajudar a gente, pensamos. Até parece. Eles deram um cumprimento caloroso nos dois assediadores – clientes da casa há 10 anos, reforçaram inúmeras vezes, para tirar a nossa credibilidade. E, ao invés de retirar os caras, o segurança nos retirou, de forma bruta. Sim. As duas meninas que estavam sentadas na mesa tomando conta das nossas próprias vidas. Nesse ponto, nossos amigos homens já tinham voltado e estavam tentando convencer a equipe do bar de que a culpa não era nossa, também em vão, também indignados com tudo.
Saímos e o gerente veio conversar conosco. Aliás, conversar não, dar mais um dose de humilhação. Enquanto minha amiga tentava explicar o absurdo que tinha acontecido, o tal gerente não a olhou nos olhos nenhuma vez e bufava com desprezo. Quando resolveu falar, disse que, se não houve agressão física (que aliás, mais tarde, descobri roxos e cortes nos meus braços, adquiridos no momento em que o lindo me segurou para me xingar), não poderia fazer nada. Que os dois indivíduos que nos assediaram eram clientes e não iriam lidar com as nossas acusações.
Enquanto tudo isso acontecia, a dupla ficou lá dentro, tranquila, sendo servida como príncipes. Olhavam para trás entre um gole e outro para rir mais um pouquinho da nossa cara e nos mostrar o dedo do meio.
A polícia chegou. Ufa, quem sabe agora vai nos escutar? Pff. Não dá pra fazer nada não, moça. Se você quiser, vai ter que ir até a putaqueopariu fazer um BO junto com os seus agressores. Tudo o que você precisa ouvir em um momento traumático e sem nenhum suporte.
Um dos agressores finalmente saiu do bar para falar com a polícia. E a cena foi a seguinte: ele e o policial se cumprimentaram com um toque íntimo de mão e algumas risadas. Apontaram para nós, nos chamaram de histéricas, e retornou para sentar dentro do bar com seu amigo. Tranquilo. Suave.
Tudo isso aconteceu diante dos nossos olhos ardendo de chorar de impotência e raiva. Nenhum grito foi suficiente para ser ouvida: nem pelos dois caras, nem pela equipe do bar, nem pela polícia. Ninguém saiu perdendo, só nós: as mulheres, vítimas daquela merda toda.
EDIT: Essa é a página do bar. Sintam-se à vontade para dizer para eles o que vocês pensam. https://www.facebook.com/Quitandinha-Bar-339947812719370/