Jovens lideram biblioteca comunitária em cemitério na periferia

Por Fernanda Miranda e Heloisa Aun

11/11/2015 14:39 / Atualizado em 07/05/2020 01:08

Você já pensou em ler um livro e assistir a um filme ou peça de teatro entre os túmulos de um cemitério? É isso que acontece dentro do Cemitério da Colônia, o mais antigo de São Paulo, localizado em Parelheiros, extremo sul da cidade. Lá, na casa antes habitada pelo coveiro, foi criada a Biblioteca Comunitária Caminhos da Leitura, em 2009, pensada como um espaço para toda a comunidade, por meio da literatura e de atividades culturais.

Na biblioteca são promovidos saraus, cortejos, clubes e mediações de leitura, além de exibições e debates sobre filmes. O Catraca Livre esteve no último sarau, cujo tema foi a morte nas religiões. O “Sarau do Terror” contou com poesias, histórias assustadoras, música, teatro, além de um tour pelo cemitério, fundado em 1829.

 
 

O projeto surgiu por iniciativa do Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário (Ibeac), que trabalha no processo de democratização e empoderamento das comunidades. Em 2006, a instituição escolheu se fixar em Parelheiros, que tem o maior índice de vulnerabilidade social da cidade (Censo 2010 – IBGE). Assim teve início o desenvolvimento de projetos com os moradores, em especial jovens e crianças.

Inicialmente, a “Caminhos da Leitura” ocorria dentro de uma Unidade Básica de Saúde (UBS), mas meses depois foi transferida para o cemitério, no bairro da Colônia, a cerca de 40 quilômetros do centro da capital paulista.

 
 

A biblioteca tem um acervo de aproximadamente 3.500 títulos, entre livros infantis e clássicos da literatura brasileira e internacional, atendendo cerca de 300 pessoas todo mês. O projeto conta com a parceria de nomes como a Companhia das Letras, o Instituto C&A e o Consulado Alemão.

A iniciativa é liderada pelos Jovens Escritureiros, um grupo composto por cinco jovens entre 19 e 24 anos, que fazem a gestão e organizam a programação do local.

 
 

Sidineia Chagas, de 24 anos, está no projeto desde os 17. Ela explica que no início o público frequentador era formado por crianças e jovens, mas agora há uma maior adesão de outras faixas etárias. “A biblioteca é mais do que um espaço de leitura: é um local de encontro, de constituir as necessidades da comunidade, trabalhando com várias temáticas”.

Sobre a importância da iniciativa para a região, a coordenadora do Ibeac, Bel Mayer, afirma: “O investimento na literatura é muito importante. Ela tem o poder transformador que as metáforas fazem na vida da gente. Viver outras histórias faz com que as pessoas se solidarizem e encontrem soluções a problemas parecidos com os seus”.

 
 

Com a organização de debates acerca de temas como feminismo, violência contra a mulher, racismo e desigualdade social, os jovens têm a possibilidade de se empoderar sobre questões fundamentais do cotidiano.

“Isso é transformador para os meninos, as famílias e a própria comunidade, que está entrando na mídia de outro jeito. Há seis anos não encontraríamos uma reportagem falando de eventos literários em Parelheiros. Antes só ouvíamos falar em sequestro, violência e, no máximo, de comunidades indígenas”, completa Bel Mayer.

 
 

Em reconhecimento ao trabalho realizado na biblioteca, o grupo tem sido chamado para participar de outros eventos literários e culturais em vários estados no Brasil, como a Flip, em Paraty (RJ).

Os encontros da “Caminhos da Leitura” são gratuitos e abertos ao público. A programação pode ser conferida na página do Facebook.

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