Justiça determina transferência da elefanta Bambi a santuário
Mais de 230 mil pessoas se juntaram a abaixo-assinado, criado pelo movimento Bancada Vegana, para pressionar pela libertação da elefanta de zoológico
A Justiça determinou que Bambi, uma elefanta asiática de aproximadamente 58 anos que vive no Bosque Zoológico Municipal de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, seja transferida ao Santuário de Elefantes Brasil, em Mato Grosso. A decisão, que apontou negligência por parte do Estado, saiu no final do mês passado após forte pressão da sociedade pela libertação do animal. Um abaixo-assinado chegou a reunir 233 mil apoiadores pela causa.
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Desde o final de 2018, protetores dos direitos dos animais se articulavam na Justiça e no Ministério Público em um processo que pedia a libertação de Bambi. Segundo os ativistas, a elefanta, que vive desde 2014 no zoológico, estava em condições inadequadas ao seu bem-estar, em um recinto de apenas 1,5 mil m² sem sol e sob o estresse do olhar dos visitantes. O grupo identificava um padecimento evidente devido à privação de liberdade.
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A pressão da sociedade para salvar Bambi foi intensificada depois que a Bancada Vegana – movimento suprapartidário ativista da causa animal – lançou uma petição na plataforma Change.org para sensibilizar as autoridades sobre o estado da elefanta. Mais de 233 mil pessoas se engajaram na causa, inclusive a apresentadora e defensora dos animais Luisa Mell, que compartilhou o abaixo-assinado nas redes sociais e fez a campanha viralizar.
“Uma vitória que não apenas libertou uma elefante que foi vítima durante toda a sua vida, mas que trouxe à tona a discussão sobre a exploração a que são submetidos animais dentro de zoológicos e aquários. Durante todo o processo, tivemos a oportunidade de discutir, educar e informar sobre o confinamento de animais”, postou a Bancada Vegana no Instagram, em comemoração e agradecimento a todas as pessoas que apoiaram a mobilização. Em julho, a Catraca Livre mostrou a luta do movimento em prol da libertação da elefanta.
Enquanto lutavam para salvar Bambi, os ativistas foram surpreendidos por um parecer, elaborado pela Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo, defendendo que o animal permanecesse no zoológico. O documento colocava em dúvida a capacidade do Santuário de Elefantes para acolher e cuidar da elefanta. O santuário, entretanto, é a maior autoridade no resgate dessa espécie de animal na América Latina.
Em entrevista à Catraca, no fim de julho, a ativista Danielle Simões, presidente da ONG Move Institute e uma das idealizadoras da Bancada Vegana, contou que teve acesso ao parecer e o definiu como “desonesto”. A ativista denunciava que ele tinha sido feito de forma “tendenciosa” e “antidemocrática” por não ter avaliado a infraestrutura e a equipe do santuário.
Graças à decisão do desembargador Roberto Maia, Bambi terá a chance de desfrutar seus últimos anos de vida na natureza. Ela passou boa parte de sua existência sendo explorada em circo para o entretenimento, depois foi confinada no zoológico de Leme (SP) e, então, mandada ao bosque de Ribeirão Preto. O desembargador destacou perigo de morte.
“O fato é que o Estado foi negligente com a nossa elefante Bambi, causando-lhe severos maus-tratos”, pontuou na decisão. Direitos animais são uma extensão dos direitos humanos: ambos visam garantir as necessidades primárias de seres que se importam originariamente com o que lhes ocorre, ambos tratam de seres que são fins em si mesmos, ambos são respostas à vulnerabilidade dos indivíduos dependentes entre si”, completou.
A decisão judicial levou em consideração imagens e laudos técnicos. No documento, também foi reconhecida a especialização do santuário para o acolhimento de elefantes.
A transferência
Ainda na entrevista concedida à Catraca Livre, a ativista Danielle Simões explicou como o transporte dos animais é feito até o santuário. Assim como Bambi, os elefantes que hoje vivem no local foram, prioritariamente, resgatados por estarem debilitados e com idade avançada, partindo de locais até mesmo mais distantes que Ribeirão Preto.
“A equipe do Santuário possui ampla experiência no transporte de elefantes, nunca um animal morreu durante o trajeto para a instituição. O transporte envolve uma série de protocolos a fim de familiarizar o animal à caixa de transporte”, acrescentou Danielle na época. A estimativa é que a viagem de transferência de Bambi leve de 30 a 36 horas para percorrer os 1.270 quilômetros entre o zoológico e o santuário na Chapada dos Guimarães (MT).
O custo para cobrir toda a logística do transporte – que inclui contratação de motoristas, aluguel de caminhão e guindaste – além dos cuidados de Bambi por um prazo de seis meses no santuário está estimado em cerca de R$ 100 mil. Para juntar o valor necessário, o Santuário de Elefantes e o Global Sanctuary for Elephants lançaram uma campanha de doações dentro e fora do Brasil. A meta do valor de arrecadação já foi 100% alcançada.
A campanha nacional, criada pelo santuário, ainda segue aberta, já que os recursos serão utilizados para manter a alimentação e todos os cuidados da elefanta no local. Clique neste link para saber mais sobre como ajudar a campanha “Bambi, vem pra manada!”.