Líderes de 16 povos repudiam indígena que acompanhou Bolsonaro na ONU
Bolsonaro usou discurso na ONU para chancelar Ysani Kalapalo como a representante dos povos indígenas
Caciques de 16 povos do Xingu, no Mato Grosso, criticaram a presença da jovem indígena Ysani Kalapalo na comitiva do presidente Jair Bolsonaro na abertura da 74ª Assembleia Geral ONU, em Nova York (EUA), nesta terça-feira, 24.
A youtuber, que é da aldeia Tehuhungu, no Parque Indígena do Xingu (MT), estava na plateia da ONU acompanhando o discurso de Bolsonaro.
No documento, as lideranças do Xingu dizem que “o governo brasileiro ofende as lideranças ao dar destaque a uma indígena que vem atuando constantemente em redes sociais com objetivo único de ofender e desmoralizar as lideranças e o movimento indígena do Brasil”.
O cacique Tafukuma Kalapalo, líder da tribo indígena da qual a jovem faz parte, é o primeiro a assinar o protesto contra ela.
Durante seu discurso na ONU, Bolsonaro leu uma carta de supostas lideranças indígenas que o apoiam.
Atribuída ao Grupo de Agricultores Indígenas do Brasil, a carta lida por Bolsonaro questiona a liderança de Cacique Raoni e apresenta Ysani Kalapalo como prestigiada liderança indígena “apta a representar as etnias relacionadas”.
A youtuber Ysani é ferrenha defensora do governo e apoia Bolsonaro desde a campanha eleitoral de 2018.
Veja a íntegra da carta de repúdio de povos indígenas do Xingu:
“CARTA DE REPÚDIO
CONTRA REPRESENTAÇÃO INDÍGENA NA DELEGAÇÃO DO GOVERNO BRASILEIRO NA ONU
Nós representantes maiores dos 16 povos indígenas habitantes do Território Indígena do Xingu (Aweti, Matipu, Mehinako, Kamaiurá, Kuikuro, Kisedje, Ikpeng, Yudjá, Kawaiweté, Kalapalo, Narovuto, Waurá, Yawalapiti, Trumai, Nafukuá e Tapayuna), viemos diante da sociedade brasileira repudiar a intenção do Governo Brasileiro de incluir a indígena Ysani Kalapalo na delegação oficial do Brasil que participará da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas – ONU que será realizada na cidade de Nova Iorque no próximo dia 23 de setembro de 2019. O governo brasileiro mais uma vez demonstra com essa atitude o desrespeito com os povos e lideranças indígenas renomados do Xingu e outras lideranças a nível nacional, desrespeitando a autonomia própria das organizações dos povos indígenas de decisão e indicação de seus representantes em eventos nacionais e internacionais.
O governo brasileiro ofende as lideranças indígenas do Xingu e do Brasil ao dar destaque a uma indígena que vem atuando constantemente em redes sociais com objetivo único de ofender e desmoralizar as lideranças e o movimento indígena do Brasil. Os 16 povos indígenas do Território Indígena do Xingu através de seus caciques reafirmam seu direito de autonomia de decisão através de seu próprio sistema de governança composto por todos os principais caciques dos povos xinguanos.
O governo brasileiro, não se contentando com os ataques aos povos indígenas do Brasil, agora quer legitimar sua política anti-indígena usando uma figura indígena simpatizante de suas ideologias radicais com a intenção de convencer a comunidade internacional de sua política colonialista e etnocida. Não aceitamos e nunca aceitaremos que o governo brasileiro indique por conta própria nossa representação indígena sem nos consultar através de nossas organizações e lideranças reconhecidos e respaldados por nós.
Atestam esta carta:
Tafukuma Kalapalo / Cacique do Povo Kalapalo
Aritana Yawalapiti / Cacique do Povo Yawalapiti
Afukaká Kuikuro / Cacique do Povo Kuikuro
Kotok Kamaiurá / Cacique do Povo Kamaiurá
Atakaho waurá / Cacique do povo Wauja
Tirefé Nafukuá / Cacique do Povo Nafukua
Arifira Matipu / Cacique do Povo Matipu
Awajatu Aweti / Cacique do Povo Aweti
Mayukuti Mehinako / Cacique do Povo Mehinako
Kowo Trumai / Cacique do Povo Trumai
Melobo Ikpeng / Cacique do Povo Ikpeng
Kuiussi Suya / Cacique do Povo Kisedje
Sadeá Yudjá / Cacique do Povo Yudja
Mairawe Kaiabi / Cacique do Povo Kawaiwete
Associação Terra Indígena Xingu – ATIX”