Beleza no ar

Daniela Schneider conseguiu encontrar beleza num dos piores exemplos da poluição visual de São Paulo: os caóticos  varais formados pelos fios pendurados nos postes. Nas cidades civilizadas, a fiação é enterrada  é o que vemos em ruas como a avenida Paulista ou a Oscar Freire. Observando os emaranhados, Daniela foi percebendo e documentando os desenhos compostos ao acaso nesses varais urbanos  e, assim, nasceu o projeto Linhas Aéreas. “Quando as pessoas olham as fotos, não conseguem perceber rapidamente do que se trata, apenas sentem a beleza.”

Obra de Daniela Schneider

O hobby de Daniela é tirar fotos de amostras de beleza na crônica feiura paulistana. “Eu me sinto como se fosse uma criança brincando de caça ao tesouro.”

Daniela não é fotógrafa profissional – aliás, tem uma profissão muito longe das artes. Faz importação de aço inox para a siderúrgica alemã ThyssenKrupp e, como diversão, tira fotos. Não tinha, até pouco tempo, nenhum foco especial. Até que conheceu o arquiteto Ruy Ohtake, que vinha pintando casas da favela de Heliópolis, formando um grande painel. Daniela tratou de registrar todas as fases do projeto e viu as cores nascerem. “Vi a mudança do humor das pessoas.”

Depois, ela fez um trabalho intitulado “Cicatrizes Urbanas”, no qual fotografou os muros e encontrou, em meio à sujeira ou tinta descascada,  formas que a instigavam, algumas das quais compostas por restos de outdoors. Seu olhar já estava um tanto treinado quando passou a observar, com mais atenção, o emaranhado dos fios  uma imagem que todos tentam evitar. “Tudo começou porque vi, entre os fios, notas musicas como se estivessem numa partitura solta no ar.”

Virou uma espécie de mania. Dirigindo seu carro, olhava para os fios e desconfiava que, ali, talvez tivesse

Daniela Schenneider

um desenho. Muitas vezes não podia parar o carro. “Na primeira chance, voltava para fotografar.” Passou a ser uma observadora internacional. Realizou recentemente uma viagem à Alemanha, onde notou como se comportam os fios dos postos das estações de trem. “São comportados, disciplinados, não têm graça.”
A falta de estética é compensada pelo menor risco de desastres, provocados por curtos-circuitos ou armadilhas de pipas. À medida que se vai para os locais mais pobres, maiores as chances das revelações para o projeto Linhas Aéreas, que começou a ser exposto na semana passada. Nessa primeira fase, Daniela circulou por bairros da região oeste, como Pinheiros, Sumaré e Perdizes. Prepara-se agora para a periferia, onde os “gatos” fazem parte do cotidiano  e aí, certamente, não vai faltar inspiração.

Conheça mais do trabalho da artista: http://www.flickr.com/photos/daniela_schneider/

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