Mãe de Valentina do MasterChef fala sobre assédio sexual
A participante foi vítima de comentários pedófilos nas redes sociais durante o programa
A executiva Daniela Schmitz, mãe de Valentina do MasterChef Júnior, que foi vítima de assédio sexual e pedofilia nas redes sociais em outubro de 2015, decidiu romper o silêncio e falar sobre o assunto. O caso envolvendo a menina, então com 12 anos, teve grande repercussão e motivou a campanha #MeuPrimeiroAssédio, em que mulheres relataram sobre suas experiências com esse tipo de violência.
De acordo com o texto de Daniela, a motivação para comentar o episódio surgiu depois de assistir a uma palestra da ativista Madonna Badger, que perdeu suas três filhas e seus pais em um incêndio acidental na véspera de Natal de 2011 e, desde então, encontrou no feminismo uma forma de preencher o vazio deixado pela família.
Após oito meses do assédio, a mãe da criança publicou um texto em que aborda as consequências da cultura machista na sociedade. “Depois de ouvir a história da Madonna Badger, tive vergonha da minha dor e do meu silêncio. O que ela tem feito, em nome do legado que ela diz querer deixar paras suas 3 filhas, é algo tão poderoso e tão importante, que não pode ser mantido em silêncio”, diz um trecho do texto.
“Muitos dirão, são doentes, são pedófilos. Discordo, senhores. A maior parte deles são simplesmente rapazes que desde sempre foram impactados por imagens e mensagens nas quais as mulheres ou pedaços delas eram tratadas como objetos sexuais”, afirma a executiva.
O texto foi publicado originalmente no Meio e Mensagem do Cannes Lions.
Confira um trecho:
“Eu não ia falar sobre isso
Não há muito o que falar sobre o caso de assédio em si
Foi em outubro do ano passado quando minha filha de 12 anos, participando do Junior MasterChef, sofreu uma série de tentativas de assédio sexual virtual.
Eu não ia falar sobre isso. Mas depois de assistir à palestra da Madonna Badger, não é possível se calar diante de tanta coragem e sabedoria.
Não há muito o que falar sobre o caso de assédio em si, que foi vastamente explorado pela mídia e redes sociais a seu tempo e só não foi mais e mais equivocadamente porque estávamos preparados e ela amplamente protegida. No entanto, há muito o que falar sobre o que leva as pessoas a acharem que alguém como ela, por estar participando de um programa de tv, ser menina e ser bonita pode ser assediada, publicamente sexualizada e virtualmente estuprada.
Muitos dirão, são doentes, são pedófilos. Discordo, senhores. A maior parte deles são simplesmente rapazes que desde sempre foram impactados por imagens e mensagens nas quais as mulheres ou pedaços delas eram tratadas como objetos sexuais. Imagens e mensagens contidas nos anúncios, nos filmes e outdoors que os leitores deste jornal criaram, aprovaram e veicularam. E assim, cresceram, crescemos… ajudando através da publicidade a construir a cultura do estupro.
Eu não ia falar sobre isso, porque é muito dolorido ver a tua própria família se tornar vítima de uma cultura que de alguma forma direta ou indiretamente você ajudou a construir. E ainda ver, supostos influenciadores, cobras que ajudamos a criar, ironizando o caso e desmerecendo a importância da discussão que se deflagrou a partir dele com a campanha #meuprimeiroassedio.
Mas depois de ouvir a história da Madonna Badger, tive vergonha da minha dor e do meu silêncio. O que ela tem feito, em nome do legado que ela diz querer deixar paras suas 3 filhas, é algo tão poderoso e tão importante, que não pode ser mantido em silêncio.”