Mãe inglesa consegue fazer rua se tornar uma ‘pequena Holanda’

Por mais liberdade para filhas e crianças do bairro, mãe inglesa consegue uma ‘rua de brincar’.

As crianças de hoje não têm liberdade, praticamente nenhuma, de andar ou brincar pelas ruas sozinhas. A violência e o tráfego são os principais fatores que causam medo e fazem com que os pais deixem seus filhos cada vez mais dentro de casa.

Mas, o que fazer a respeito para transformar a rua onde se vive em um ambiente mais agradável e seguro para as crianças? A inglesa Clare Rogers resolveu agir para proporcionar a suas filhas, com 10 e 13 anos, uma rua melhor para se transitar, andar e brincar.

Moradora de Enfield, subúrbio de Londres, há quase 20 anos, Clare relata em artigo para o Child in the City, que antes de ser mãe, as ruas não eram uma preocupação em sua vida. Segundo ela, só passou a olhar com outros olhos para as vias quando percebeu que suas filhas, bem como todas as crianças, não tinham liberdade e segurança para transitarem pelas ruas do bairro.

A inglesa, então, passou a integrar o Playing Out (algo como Brincar Fora), um movimento sobre fazer ruas de brincar. Para transformar a rua residencial em uma rua de brincar, Clare conta que deve-se pedir ao conselho da cidade por um tráfego especial para o local – que consiste em fechar a via aos veículos motorizados por até três horas ao mês, para que assim as crianças possam brincar com segurança.

No começo, ela encontrou resistência de alguns vizinhos. Porém, persistiu, uniu um grupo na vizinhança e conseguiu a “autorização temporária de rua do brincar” do conselho da cidade. Segundo Clare, a ação fez com que sua rua se tornasse um verdadeiro playground com crianças pedalando, brincando e jogando bola por todos os lados – o que ainda tem o ponto positivo de afastar os pequenos por horas de qualquer tela.

Rua também pode ser local seguro de brincadeira para crianças.

Para a mãe inglesa, a transformação não aconteceu somente na rua, mas no relacionamento entre os vizinhos. Ela relata que novas amizades se formaram entre crianças e adultos e que a rua se tornou uma verdadeira comunidade, na qual onde antes viviam pessoas que mal se conheciam, agora habitam amigos.

Transformar a rua em um local de brincadeiras, bem como em um espaço social levou Clare a questionar que as pessoas deveriam pensar em ter prioridade sobre o tráfego das vias por onde vivem. Com a experiência no movimento Playing Out, ela recentemente fez uma palestra na Future Cities Catapult, em Londres sobre o tema.

A inglesa ainda contesta em seu artigo que, na década de 1970, o Reino Unido teve um grande crescimento no número de tráfego e de acidentes rodoviários. Porém, em vez de melhorar a segurança das ruas e estradas, a nação preferiu tirar as crianças das ruas para ficarem “salvas” do perigo. Atitude, segundo ela, errada, já que na Holanda, quando o país passou pela mesma situação de perigo, com inclusive muitas mortes de crianças no trânsito, pais se uniram em uma campanha poderosa e conseguiram com que autoridades priorizassem a segurança das ruas e estradas. A Holanda, após essa reação, passou a ter ciclovias e ruas seguras para que crianças transitem sozinhas – o que acontece até hoje –, já que as vias passaram a ser projetadas na intenção da redução do tráfego e com mais foco nos moradores.

Clare, que hoje é coordenadora da Enfield Cycling Campaign e membro-fundador da Better Streets for Enfield, levanta a seguinte pergunta: o que é melhor: priorizar o tráfego e dizer às crianças para ficarem fora das ruas, ou priorizar os pequenos e projetar vias seguras? A resposta a essa pergunta vale como reflexão para todo o mundo e, quem sabe, para que alguns pais ou governantes tenham a mesma iniciativa desta mãe inglesa.

Transformar rua em local para brincadeiras faz ainda com que vizinhança se conheça e se torne amiga.

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Com informações de Child in the City.