Mãe questiona tarefa escolar por falta de representatividade

Era para ser só mais uma atividade escolar. Mas, para a antropóloga carioca Marisa Santana acabou se tornando um alerta sobre o racismo enraizado na sociedade.

Quando a filha Mari, de sete anos, mostrou o dever de casa para a mãe, ela se deu conta que tinha que se posicionar sobre. O exercício pedia que os pequenos marcassem com um “X” as características de sua mãe. Entre as opções, aparecem adjetivos subjetivos, como “calma”, “alegre” e “calma” e outros físicos, como “loira”, “alta”, “ruiva” e “morena”.  “Depois somos nós que vemos racismo em tudo. À propósito, se a nossa característica não está dentre as listadas, a gente vai lá e coloca”, defende a mãe.

‘Se nossa característica não está entre as listadas, a gente vai lá e coloca’, disse a mãe em entrevista ao Globo.

Mas afinal, o que isso significa? À menina, que é negra e tem mãe negra, não foi dada a oportunidade de descrever a mãe como ela realmente é, excluindo negros de serem representados e mostrando como a sociedade os invisibiliza. Mais do que isso, por ser destinada a crianças com idades entre seis e sete anos, a atividade desconsidera que os primeiros referenciais de identidade são construídos na primeira infância, contribuindo para que o preconceito se perpetue.

A mãe publicou um texto em sua página pessoal do Facebook denunciando o caráter discriminatório da tarefa, e chama a atenção para a responsabilidade da escola no diálogo sobre diversidade e representatividade.

“O racismo estrutural parece cegar as pessoas (ou são muito cínicas mesmo).  O que é uma mulher morena? Chamam de morena uma mulher branca de cabelos pretos. Quando você vê uma mulher negra de cabelos vermelhos você a chama de ruiva? Costuma chamar mulher negra de cabelos amarelos de loira? Sério que precisamos desenhar absolutamente tudo para vocês?”

O texto viralizou e até o momento tem mais de dois mil compartilhamentos – clique aqui para ler o relato na íntegra. Marisa, que sofreu racismo nos comentários de seu próprio post, conta que recebeu uma resposta positiva da professora que propôs a atividade:

“Para os racistas de plantão que estão destilando ódio aí, saibam que recebi recado da professora da minha filha com o AGRADECIMENTO em relação aos meus apontamentos na agenda (sobre ausência das características negra e gorda). Ela disse que APROVEITOU a oportunidade e falou sobre diversidade em sala de aula. Vocês já podem parar de passar vergonha na internet”, conta Marisa.

Além disso, o caso reacende uma discussão muito mais ampla sobre representatividade ao supor que toda criança terá uma “mãe”. É preciso refletir sobre o que atividades que nomeiam o cuidador da criança comunicam, afinal, nem toda família possui pai e mãe, muitas vivem com os avós, os tios, entre outros cuidadores. E quanto às famílias homoafetivas? Precisamos repensar os referenciais de família oferecidos às crianças, para que elas se sintam acolhidas e representadas independentemente de qualquer característica social, racial e/ou familiar.

*Com informações de O Globo

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