Marcha dos Imigrantes sai às ruas de SP e fala sobre os direitos da mulher

Pelo fim da discriminação e extinção das fronteiras, marcha chega à 9ª edição na capital paulista

Há seis anos no Brasil, a chilena Andrea Carabantes Soto se mistura à rotina de outras centenas de milhares de mulheres que aqui buscam novos caminhos.

Desde 2014, ela ajuda a organizar a Frente das Mulheres Imigrantes que, junto à Marcha dos Imigrantes, sai às ruas de São Paulo neste domingo, dia 29, para lutar contra a xenofobia e reivindicar os direitos da população no país. A concentração acontece às 9h na Praça da República, região habituada aos diferentes idiomas, costumes e traços que marcam o vai e vem do centro da cidade.

Entre as causas levantadas por elas estão temas como violência obstétrica, as dificuldades no mercado de trabalho, barreiras no acesso à saúde e educação, numa imensurável perspectiva de vulnerabilidade social.

“Quando chegamos ao Brasil, os homens têm prioridade no processo de legalização dos documentos, enquanto as mulheres seguem invisíveis aos olhos da sociedade”, conta Andrea.

Comunidade migrante marcou presença na manifestação realizada em 2014, no centro de São Paulo

Como consequência desta política de regularização, não raramente, mulheres de países andinos assumem jornada dupla (ou tripla) nas oficinas clandestinas de costura da capital paulista. “Enquanto os homens ocupam diferentes cargos no mercado de trabalho, às mulheres restam apenas trabalhos precários e o estigma de subempregos”, exemplifica.

No domingo, o bloco será representado por mulheres das diversas nacionalidades que vivem em São Paulo, de países latino-americanos, orientais, árabes e africanos.

O convite também é válido às brasileiras, visando, assim, maior integração e apoio à luta que, de forma ou de outra, dialoga com a maioria das quase seis milhões de moradoras da maior cidade do país. “Além dos tabus enfrentados no dia a dia, também enfrentamos discriminação dentro das nossas comunidades. Nossas demandas têm pouca ou quase nenhuma visibilidade e, por isso, precisamos expor o que sofremos”.

Violência obstétrica e negligência médica

Outro ponto abordado pela imigrante chilena diz respeito à negligência e ao preconceito enfrentado por muitas mulheres nos consultórios. Relatos de maus tratos, intervenções desnecessárias como a episiotomia (corte feito na vagina) , utilização de fórceps ou cesáreas se tornaram práticas “comuns” nos hospitais de todo país.

“É importante falarmos sobre um problema que atinge a nós, imigrantes, e também as mulheres brasileiras. As consequências são irreversíveis e muitas vezes levam à morte”. Em 2014, a campanha “No la a violencia en el parto” chamou atenção para o problema que, no Brasil, segundo pesquisas recentes, atinge uma a cada quatro mulheres.

Por respeito aos direitos das mulheres imigrantes

Organizadas para o ato do próximo domingo, o grupo de mulheres redigiu um manifesto que destaca as propostas do bloco feminino. Confira alguns pontos apresentados por elas:

“Reivindicamos campanhas de informação e sensibilização com relação à comunidade imigrante a fim de favorecer o seu empoderamento e que modifique a cultura xenofóbica da população brasileira.

Exigimos uma legislação inclusiva que enfoque direitos de gênero e multiculturalidade com políticas que garantam tratamento digno e respeitoso nos equipamentos públicos; que extingam a xenofobia e apoiem a integração da mulher e da comunidade imigrante.
Fazemos também um chamado ao movimento de mulheres brasileiras para unirem-se à nossa caminhada.

Intolerantes, marcharemos até que a última das violências às Mulheres Imigrantes seja eliminada. Nem as alfândegas, nem os muros, nem as fronteiras aprisionam os nossos sonhos e a nossa luta.

E nada de migalhas! Exigimos amplamente que as mulheres imigrantes possam se instalar com autonomia em todos os setores da sociedade.

Pelo fim das opressões e colonização dos nossos corpos e povos”.

E, pra encerrar, veja algumas fotos da Marcha dos Imigrantes que aconteceu em 2014: