Marchinha feminista disputa final em festival de Campinas
A música vencedora será eleita nesta terça-feira, dia 21, no 1º Festival de Marchinhas do Tonicos Boteco
“Eu hoje vou pular meu Carnaval / Com a roupa que eu quiser, não leve a mal / Se eu vou de burca, ou fio dental / Não me cutuca, usa a cuca ou quebro o pau / Se eu te sorrio, é natural / A gentileza deveria ser normal”.
Escrita por três mulheres – as compositoras Maíra Guedes, Carla Vizeu e Sheila Sanches –, a música “Marchadelas” é mais um dos muitos gritos que vêm ecoando pelo país contra o assédio sexual no Carnaval.
A marchinha usou como referência casos de assédio que aconteceram recentemente em Campinas (SP), e foi apresentada e selecionada para a final do 1º Festival de Marchinhas do Tonicos Boteco, um tradicional bar da cidade no interior paulista.
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“Nosso objetivo é motivar as mulheres a se unirem contra o assédio no Carnaval e conscientizar todos, mas principalmente os homens, sobre o respeito e a liberdade sobre o nosso corpo e nossas escolhas”, diz Maíra Guedes, de 36 anos, que é também cantora do grupo de sambas autorais Maíra Guedes e os Baluartes.
Neste ano, diversas iniciativas estão abordando o problema do assédio na folia por meio de marchinhas, do uso de hashtags e de campanhas educativas, além da atuação de blocos feministas que já desfilam nas principais cidades brasileiras.
Na primeira eliminatória do festival, a cantora diz que algumas pessoas reagiram à letra com deboches e comentários machistas. Além disso, ela notou que apenas uma mulher trabalhava como jurada na escolha dos vencedores da noite.
“Já somos reconhecidas na cidade como mulheres que lutam. Há até quem diga que somos ‘as feminazis, as histéricas’. Muita gente gostou do que cantamos, mas muitos também criticaram. Sempre tem aquela crítica disfarçada de brincadeira”, afirma. A marchinha vencedora será eleita já nesta terça-feira, dia 21.
Embora conviva com críticas, já que muitas das músicas de seu repertório abordam os problemas e adversidades das mulheres, Maíra acredita que é preciso cada vez mais espalhar a mensagem e defende o diálogo como combate ao machismo.
“Sinto que o machismo tem que ser levado na conversa, no cotidiano, no diálogo. Os homens têm que se manifestar também, quanto mais homens tiver com a gente, melhor, desde que não roube nosso protagonismo”, opina.
“O mais importante é que a nossa voz seja espalhada. Até porque muitas mulheres ainda se sentem coagidas a se expor”.
Mulheres de Campinas no comando da maior festa de rua do país
Há 11 anos, o Bloco Cultural União Altaneira se mantém como um dos blocos de ruas mais atuantes de Barão Geraldo, em Campinas. Fundado por Dona Edna Pimenta e Seu Braz, junto ao percussionista e mestre de bateria Chico Santana e também à Marina Tenório, o bloco irá se apresentar neste ano no domingo de Carnaval, dia 26, saindo às 17h da Moradia Estudantil da Unicamp.
“Esse é um bloco na cidade que tem bastante atuação das estudantes da Unicamp. Sempre que há um problema, as meninas botam a boca no trombone”, diz Maíra, que é também compositora e puxadora na ala musical do bloco.
“A gente quer trazer pra rua aquilo que o Carnaval representa, que é os direitos dos cidadãos, os direitos das mulheres, a festividade e o direito de ir e vir. Queremos falar sobre esses temas com alegria, e nunca vamos deixar de descer a avenida”, finaliza.
Campanha #CarnavalSemAssédio
Pelo segundo ano consecutivo, o Catraca Livre promove a campanha #CarnavalSemAssédio com o objetivo de lutar por respeito na folia e pelo fim da violência contra a mulher. Quem está com a gente: a revista “Azmina” e os coletivos “Agora é que são elas”, “Nós, Mulheres da Periferia” e “Vamos juntas?”.
- Como parte da campanha, produzimos vários materiais que podem ser compartilhados nas redes sociais com a hashtag #CarnavalSemAssédio. Participe você também. Confira o conteúdo neste link.