Marielle: site que disseminou Fake News apareceu vazio
MBL jurava que não conhecia "Luciano Ayan". Mas dois de seus fundadores são sócios dele.
Na manhã desta quarta-feira, 28, o site Ceticismo Político, ligado ao MBL, apareceu sem nenhum post nem expediente ou contato. É reflexo das denúncias sobre sua disseminação de mentiras contra Marielle Franco.
A página do Facebook de Luciano Ayan, editor do site “Ceticismo Político”, acusado de ser, em parceria com o MBL, principal disseminador de Fake News contra Marielle Franco, saiu do ar. A decisão foi tomada depois de investigação do Facebook. “Luciano Ayan” afirmou que seu nome seria Carlos Augusto de Moraes Afonso. Ele revela por que resolveu aparecer com seu suposto nome verdade.
O MBL afirma que não conhecia Luciano Ayan.
O nome Carlos Augusto de Moraes Afonso, segundo o Blog do Sakamoto, aparece como um dos donos da empresa Yep Inteligência (CNPJ 28.724.932/0001-04, nome fantasia ”Vox”), cuja atividade econômica é ”consultoria em gestão empresarial”, de acordo com a Receita Federal. Segundo registros da Junta Comercial do Estado de São Paulo, esse nome é sócio de Pedro Augusto Ferreira Deiro – um dos fundadores do MBL.
Mas ele também era sócio era sócio, em outro negócio, de Rafael Rizzo, coordenador de comunicação do MBL.
Mark Zuckerberg afirmou nesta semana que a rede social vai reforçar suas medidas não só para garantir as eleições em diversos países. “Há uma grande eleição na Índia neste ano, há uma grande eleição no Brasil (…) você pode apostar que estamos realmente comprometidos em fazer tudo o que for preciso para garantir a integridade dessas eleições no Facebook”.
“Em virtude dos últimos acontecimentos envolvendo o pseudônimo “Luciano Ayan”, o MBL e o caso da desembargadora que fez comentários sobre a morte da vereadora Marielle Franco, é importante que os leitores tomem ciência de fatos importantes.
No último fim de semana, o site Ceticismo Político, criado por mim (e que hoje possui vários colaboradores) publicou uma matéria sobre a desembargadora Marília, que fez acusações sobre a vereadora Marielle, que havia sido assassina na quarta (14).
O post basicamente apontava o conteúdo da matéria de Mônica Bergamo. O post, publicado por colaboradores, mas editado por mim, trata as declarações de Marília como se fossem uma ironia e usa o termo “quebra de narrativa”, principalmente ao mencionar o fato de que foi levantada a hipótese de que Marielle talvez não tivesse sido vítima de um crime político. Ou seja, são os fatos, acompanhados de uma análise. A desembargadora realmente fez as declarações que fez. As dúvidas já estão lançadas e não é mais possível que membros do PSOL afirmem que Marielle certamente “foi vítima de crime político” sem serem questionados. Nós não sabemos quem matou Marielle, mas o PSOL também não sabe. Isso significa que a narrativa daqueles que querem culpar a PM ou a intervenção está “quebrada” até que surjam fatos novos.
Mesmo assim, o Jornal O Globo entrou em contato para questionar o MBL (que havia republicado meu post original). Com este texto rebati as afirmações do repórter. Ou seja, este site avisou que ele estaria dando vazão a uma informação falsa e mesmo assim o jornalista fez outro texto. Em resumo: o jornalista já tinha ciência de que o site apenas replicou uma notícia real de Mônica Bergamo e mesmo assim fingiu desconhecimento (uma vez que minha rebatida ao e-mail enviado pelo jornalista ao MBL aconteceu várias horas antes do segundo texto dele).
Não iria demorar para surgirem as intimidações, do tipo “vamos atrás de você”. Algumas delas vieram de setores da direita, inclusive.
O perfil Luciano Henrique Ayan é meu pseudônimo. Me chamo Carlos Afonso e atuo na área de tecnologia. Mas nas horas vagas decidi, há mais de 13 anos, estudar métodos relacionados à dinâmica política. Inicialmente, realizava refutações básicas de discursos, mas a partir de 2011 comecei a desenvolver um método para a guerra política. Sinto dizer aos meus oponentes: o método funciona que é uma beleza.
O objetivo inicial era fazer um site para acesso aos amigos que acompanhavam debates, mas aos poucos a coisa foi tomando uma proporção acima do que eu esperava. Hoje em dia, a página “Luciano Ayan” no Facebook tem 106.000 seguidores e o conteúdo do site é compartilhado em vários outros meios. Especialmente em 2011, introduzi em profundidade os métodos de David Horowitz e Saul Alinsky para a direita. Em 2011, comecei a abordar o tema do “controle de frame”, que se popularizou na direita, ajudando muita gente a rebater com mais assertividade as narrativas da esquerda.
Durante o processo do impeachment, apoiei fortemente os movimentos, pois entendia que era a estratégia correta. Certamente, vocês encontrarão muitos casos de pessoas que beberam na fonte do Ceticismo Político e dos métodos ali divulgados. Em 2015, pela Editora Simonsen, foi publicado o livro “Liberdade ou Morte” (também sob pseudônimo), que fazia uma ferrenha defesa da liberdade de expressão na época em que quase viramos uma ditadura.
Uma pergunta que fica é: qual o motivo para a discrição e o uso de um pseudônimo por tanto tempo? Basicamente, sempre foi o interesse em desenvolver um método, criar uma base de conhecimento e auxiliar as pessoas na medida do possível, mas sem transformar tudo em uma atividade principal. Ainda assim, o site passou a ser monetizado em meados de 2017.
Outra pergunta: qual o motivo para revelar a identidade agora?
Simplesmente porque deu para notar que o frame principal da mídia pró-PSOL é dizer “ele publicou fake news e usa um perfil falso”. Bem, agora estou aqui pronto para qualquer debate para que alguém me demonstre que há qualquer fake news no texto questionado pelo Globo. Por exemplo, o repórter diz que eu publiquei um texto com “deturpações”. Qual a deturpação? Notem que o espertinho nem cita qual é a deturpação. Alguns estão dizendo que o uso do termo “quebra de narrativa” endossa as afirmações da desembargadora, mas qualquer definição do dicionário mostra que falar em narrativas não é o mesmo que falar em provas. É preciso fingir muito para fazer o teatrinho de que ali havia uma notícia falsa.
Em resumo, usam o fato de alguém estar sob pseudônimo (o que dificulta a defesa quanto às acusações), para avançarem mentiras. Bem, agora mentem diante de alguém que pode ser contatado por qualquer meio. Se enviarem um email para [email protected] receberão a resposta do dono do pseudônimo, Carlos Augusto de Moraes Afonso, ou seja, eu.
Isso muda toda a perspectiva, uma vez que agora posso rebater qualquer ataque de maneira frontal. E pelo fato de eu ter usado pseudônimo por tanto tempo, fui vítima de diversas calúnias. Só que agora as coisas mudam.
Também anuncio que o site Ceticismo Político terá uma drástica redução de conteúdo, pois a partir de então não contará mais com colaboradores, até para evitar confusões desnecessárias. Qualquer conteúdo que estiver presente no Ceticismo Político a partir de 24/03 é de minha autoria.
Novos detalhes de meu histórico de atuação e das intimidações que tenho sofrido serão publicados nos próximos dias. Como agora quebrei um recurso que habilitava a chantagem por parte de meus oponentes, meu espectro de atuação política se amplia decisivamente. Isso talvez não seja uma boa notícia para meus oponentes políticos.”
Ligações com o MBL
Esse site foi, no ano passado, um dos núcleos de ataque contra o Catraca Livre, no geral, e seu fundador, Gilberto Dimenstein, em particular, quando investigamos as ações do MBL nas redes sociais, usando sites e perfis falsos. Para ver as ligações do site com o MBL basta fazer uma procura do Google. É uma infinidade de posts elogiando ou defendendo o MBL produzidos pelo Ceticismo Político.
Na imagem acima, vemos que, diante das revelações de O Globo, o Ceticismo Político, postou ataques ao jornal e, um minuto depois já estava disseminado na página do MBL. Mais: o Ceticismo Político usou um email que fora enviado pelo O Globo ao MBL.
Mas o MBL afirma não conhecer Luciano Ayan. Ou seja, elas replicam há anos um site, a quem conferem crediblidade, sem nunca se perguntar quem é o editor. Ou mesmo se existe,
Mostramos o funcionamento do JornaLivre, que não tinha nome de editor nem expediente. Diante da pressão, “Roger Scar” assumiu a autoria. É uma rede que se alimenta, compartilhando posts e perfis. Neste ano, o Ceticismo Político atacou duramente João Dória porque Dimenstein foi condecorado como a medalha Cidade de São Paulo – a mesma opinião foi compartilhada por sites que giram em torno do MBL.
O Ceticismo Político validou as opiniões da desembargadora Marília Neves contra Marielle Franco, acusando-a de vinculações com o crime organizado. O link foi compartilhado 360 mil vezes no Facebook, graças a essa dobradinha com o MBL.
Leia um trecho da matéria do O Globo:
Luciano Ayan tem o domínio ceticismopolitico.org desde novembro de 2017. O site está registrado por uma empresa com sede na Dinamarca, usada para manter oculto o nome verdadeiro do proprietário do domínio. Ayan já usou o artifício em outras ocasiões. Antes, ele manteve o Ceticismo Político com outro endereço — o ceticismopolitico.com. Na ocasião, o domínio estava registrado por uma empresa do Canadá, também usada para esconder o proprietário real do site.
A atuação de Ayan é motivo de controvérsia na internet antes mesmo da criação do Ceticismo Político. Em 2004, quando a rede social mais popular era o Orkut, Ayan era apontado como dono de comunidades que estimulavam polêmicas. Sem revelar a real identidade, Ayan também não exibe fotos em suas contas nas redes sociais. Além da página do Ceticismo Político no Facebook, que tem 105 mil seguidores, ele mantém o perfil Luciano Henrique Ayan, com cerca de 2,4 mil seguidores.
O GLOBO perguntou ao MBL por que o grupo publica conteúdos de Luciano Ayan mesmo alegando não conhecê-lo:
— Porque a gente prefere compartilhar o que bem entende e prefere acreditar na mídia independente do que no GLOBO — respondeu Renato Battista, um dos coordenadores do grupo.