Maternidade e a solidão no século XXI: ‘não dou conta de tudo’
Com frequência, o Catraquinha compartilha relatos e publica notícias que reforçam a necessidade de não romantizar a maternidade. Com este mesmo foco, o portal EL PAÍS publicou uma reportagem que traz diferentes experiências sobre ser mãe nos tempos atuais.
Trazendo histórias diferentes, a intenção é chamar a atenção para mudanças que precisam acontecer agora para uma sociedade mais acolhedora para pais, mães e cuidadores.
Escrito pela repórter Diana Oliver, a principal questão que norteia o texto é: “o quão solitária pode ser a maternidade no século XXI?”.
- Após 55 anos, mulheres descobrem que foram trocadas na maternidade
- Fator na gravidez pode elevar risco de autismo no filho
- 7 pontos para entender o que acontece nas primeiras horas de vida do bebê
- Coletivo Pedra Rubra apresenta espetáculo sobre a realidade das mulheres em diferentes momentos da Humanidade
A solidão inevitavelmente chega se você viver a maternidade em uma cidade sem muito ou nenhum apoio familiar ou com esse apoio a centenas de quilômetros de distância. Inquestionável se forem mães sozinhas por escolha que não têm uma rede ao redor.
Segundo a socióloga Teresa Jurado, um aspecto que influi é que as mães deste século têm muito menos filhos do que dos séculos anteriores.
“Na Espanha estamos há mais de três décadas com um índice de 1,3 e 1,5 filhos por mulher. Há uma alta proporção de mães que só têm um filho e cada vez há menos mães que têm três filhos ou mais. Por haver menos filhos, muitas mulheres quando têm seu primeiro, não tiveram uma experiência próxima que lhes permita aprender a prática de cuidar de crianças. Isso pode fazer com que se sintam sozinhas diante de um desafio que não sabem bem como enfrentar sobretudo se não vivem perto das avós e de outras mulheres de sua família com experiência em criação de filhos”, conta.
Pensando nessa solidão, a jornalista Pilar decidiu tomar uma atitude. Ela vive a mais de 300 quilômetros de sua família e de sua melhor amiga. Além disso, ela e seu companheiro optaram por assumir os cuidados da filha, sem creche ou apoio de terceiros.
Em sua opinião, as circunstâncias de sua vida atual influenciam de forma inevitável na criação da filha, mas também em sua forma de enfrentar essa mudança vital que a maternidade representa:
“O cansaço que vai se acumulando dia após dia, semana após semana, mês após mês… Se eu tivesse por perto uma rede de apoio familiar, talvez conseguisse dormir mais, porque minha filha poderia ficar com avós, ou tios, algumas horas por dia e eu poderia aproveitar para adiantar o trabalho. Mas não é o caso. Levanto cedo demais e chega um momento do dia em que já não aguento mais, mas minha filha sim. E me frustro, porque não dou conta, sou incapaz de dar conta de tudo. E me sinto sobrecarregada, com a sensação de não estar dando a meu bebê tudo de que necessita, de não estar ‘à altura’. E, insisto, ainda não aconteceu de termos que deixá-la na creche. Então, sim, diria que a solidão influencia totalmente na criação, porque gostaria de passar com minha filha o máximo de tempo possível e uma escola infantil não é meu ideal de criação”, explica.
Procurando sua tribo
Para María José Garrido, doutora em Antropologia especializada em maternidade e infância, não houve uma geração de filhos mais solitários em nosso planeta do que a ocidental atual. Também não houve uma geração de mães menos acompanhadas na criação.
De um lado, refere-se à ausência – nas sociedades industrializadas – “da rede de mulheres em torno da maternidade, durante a gravidez, parto e puerpério, que foi habitual ao longo da história da humanidade”.
De outro, ao tipo de família predominante na atualidade: “nuclear, composta por pai, mãe e filhos, nos afastou da proteção da família estendida (primos, tios, avós, sobrinhos)”.
Foi pensando em recriar redes de apoio que nasceu o Entre mamás, idealizado por Claudia Pariente, formada em Ciências da Informação. Trata-se de um centro de acompanhamento maternal, em Madri.
Ela explica que, depois do nascimento de sua primeira filha, se viu diante de “um pós-parto difícil, com um aleitamento interrompido e sem lugar para onde ir”. Ela sentiu uma enorme necessidade de se reunir com outras mães. Começou então a convidar as mães que estavam vivendo uma situação similar à dela por meio de fóruns e blogs.
A ideia inicial era se encontrar para tomar um café e conversar em sua casa, mas rapidamente a sala ficou pequena. Foi então que decidiu abrir um local que servisse de ponto de encontro para as mães. Nascia assim o Entre mamás em 2009.
Claudia conta que a principal preocupação das mães quando chegam ao Entre mamás é o choque de transformação que a maternidade representa.
“Tem a sensação de ‘ninguém me contou’ que, especialmente se o parto não foi bom, se o pós-parto é vivido em solidão e você tem milhares de dúvidas e de juízes em volta, pode ser um túnel muito difícil de atravessar. Some-se a isso as noites sem dormir e o cansaço… A pergunta constante: Voltarei algum dia a ser a mesma?”.
Clique aqui para ler na íntegra.
Leia mais