Médica ganha liminar na Justiça para fazer nebulização com cloroquina
Três pacientes da médica já morreram após passar pelo procedimento e mesmo assim, ela recebeu publicamente o apoio de Bolsonaro
Desde segunda-feira,22, três pacientes submetidos à nebulização de cloroquina diluída em soro morreram no Hospital Nossa Senhora Aparecida, em Camaquã, o Rio Grande do Sul e a médica, Eliane Scherer, que já havia sido suspensa de suas atividades conseguiu uma liminar na Justiça para reassumir o posto e seguir com o tipo de tratamento, apesar dos óbitos e sem evidência científica de eficácia contra o novo coronavírus.
Na semana passada, três enfermeiros do hospital se recusaram a realizar o tratamento proposto por Scherer. A alegação era de que a bula da hidroxicloroquina, assim como os protocolos clínicos do hospital, indica o uso do medicamento apenas por via oral.
Após discutir com os colegas, a médica realizou o procedimento por conta própria, mas foi afastada pela direção do hospital.
- Sociedade Brasileira de Dermatologia faz alerta sobre peelig de fenol
- Anvisa aprova novo medicamento ‘milagroso’ para queda de cabelo
- Ministério da Saúde explica prioridade de Faustão para fazer transplante
- Médicos fazem alerta sobre uso de zolpidem após caso de sertanejo
As três pessoas que morreram estavam internadas em unidades de terapia intensiva (UTI) e viéram a óbito entre segunda e quarta-feira.
o médico e diretor-técnico do Hospital, Tiago Bonilha de Souza, disse que a nebulização acabou contribuindo para melhorar o desfecho dos pacientes, nos três casos, a morte. “Os indícios sugerem que está contribuindo para a piora, porque todos os casos [de óbito] apresentaram reações adversas após o procedimento”, disse.
Uma investigação foi aberta no Cremers (Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul). A punição mais severa que o conselho pode impor é a cassação do registro médico, o que impediria a prática profissional. A médica também foi denunciada ao Ministério Público.
Com a repercussão do caso, a médica recebeu o apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Ele entrou ao vivo, por telefone, na programação de uma rádio local para defender a nebulização com cloroquina e informou ter ligado diretamente para Eliane Scherer com objetivo de manifestar apoio. Neste momento, ela ainda estava afastada do cargo.
“Os médicos têm o direito, ou o dever, no momento em que falta medicamento específico para aquilo, com comprovação científica, ele pode usar o que chama de off label, fora da bula. Mas no Brasil virou um tabu, praticamente é criminoso quem fala disso”, disse Bolsonaro.
Porém, Eliane Scherer, obteve uma decisão judicial, de caráter liminar, garantindo sua liberdade de usar os remédios sem eficácia comprovada contra o coronavírus.
Após a morte dos pacientes, o diretor do hospital afirmou: “Infelizmente é verdade, os três pacientes morreram. A população se agarra a qualquer salvação quando está em uma situação difícil, com risco de morte. Tudo nessa doença é novo, então a gente acaba sem saber qual é o norte. Mas aqui procuramos seguir o norte os preceitos da Medicina”, afirmou José Almiro Chagas De Alencastro.
“Ela foi afastada do plantão mas conseguiu uma liminar para voltar a trabalhar. Com a decisão, ela pode fazer o procedimento se achar necessário, mas é tudo com a responsabilidade dela e dos pacientes. A família tem que concordar, tem que assinar um documento. Nem o hospital nem o corpo clínico ficam responsáveis por quaisquer intecorrências”, disse Alencastro.
De acordo com o diretor do hospital, a médica, inclusive, realizava procedimentos de nebulização de hidroxicloroquina na noite desta quarta-feira, 24, mesmo depois da informação sobre as mortes ter se espalhado por todo país.
“Ainda é cedo para dizer que esse procedimento causou as mortes, mas temos observado que há uma piora no quadro dos pacientes”, acrescentou Alencastro.
O diretor do hospital ainda mostrou preocupação com o uso da cloroquina de forma diferente da recomendada na bula. “Nós obedecemos os protocolos da indústria farmacêutica e do Conselho Federal de Medicina. Seguimos tudo à risca. Mas os médicos têm toda a liberdade de fazer o tratamento que for conveniente”, finalizou.