Médico compara microcefalia no nordeste a eleitores do PT e gera revolta nas redes sociais

Com 1248 casos, microcefalia atingiu inúmeros estados da região nordeste

09/12/2015 12:20

No atual cenário político marcado por intolerância, desinformação e excessos, o preconceito volta a ganhar destaque nos noticiários de todo país. Uma postagem publicada em um grupo do Facebook, intitulado “Dignidade Médica”, comparou os casos de microcefalia no Nordeste a eleitores do Partido dos Trabalhadores, gerando indignação e revolta entre a categoria.

A doença, responsável pela má-formação do cérebro em fetos, transmitido pelo mosquito Aedes Aegypti, atingiu o maior número de pessoas na região nordeste. Pernambuco registrou recorde de casos, com 646 atendimentos.

Grupo “Dignidade Médica” se apresenta como página exclusiva para médicos ou estudantes de medicina
Grupo “Dignidade Médica” se apresenta como página exclusiva para médicos ou estudantes de medicina

Na postagem, o autor do conteúdo questiona a origem do vírus, ao relativizar sua causa à “adaptação da espécie”.”Cientificamente pode ser a comprovação de que votar no PT faz o cérebro involuir e diminuir de tamanho”, comenta.

Após a publicação, a estudante de medicina Izabella Navarro copiou a imagem e a divulgou abertamente na rede social, já que, até então, apenas participantes do grupo específico tinham acesso ao texto. No dia 23 de novembro, em sua conta pessoal no Facebook, a jovem questionou a postura do profissional e ainda revelou que opiniões hostis e, muitas vezes preconceituosas, são comuns entre os colegas de profissão.

“[Quem não entende porque questiono a profissão, são pessoas] Que nunca tiveram que ouvir médicos falando que o paciente não vai conseguir a cirurgia que precisa porque votou em determinado candidato, ou que se na próxima eleição votasse em tal partido, o ambulatório iria fechar. Nunca se sentiram impotentes vendo pacientes sendo coagidos por seus médicos”, escreveu.

Comunidade médica repudia episódio

Com a proporção do caso, a Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares manifestou seu descontentamento com a situação e classificou como absurdas as manifestações de preconceito nas redes sociais. “E se torna muito mais preocupantes vindas dos profissionais de saúde”.

“Manifestações como essa mostram que, muitas vezes, há um distanciamento do pensamento de um setor importante do país, que são os profissionais de saúde, com as necessidades concretas da nossa população”, explica o texto divulgado recentemente.