Meu ex-namorado, o estuprador

Texto por pessoa que preferiu manter o anonimato

Durante nosso relacionamento, meu ex-namorado me estuprou.

Sem entrar em detalhes desnecessários, com o tempo, ele decidiu que gostava de transar mais do que respeitava meu consentimento. Por mais embaraçoso que seja assumir isso em retrospectiva, acabei dizendo para mim mesma que não disse realmente “não”, então ele tecnicamente tinha meu consentimento, assim eu não precisava lidar com a verdade desconfortável de que meu namorado estava, essencialmente, me estuprando.

A palavra “essencialmente” é vital aqui porque, por um longo tempo, eu não conseguia usar a palavra estupro para descrever o que estava acontecendo sem um advérbio para minimizar isso: essencialmente, basicamente, tipo assim, quase. Exauri todos eles até acreditar na minha própria história. Eu sabia a definição de estupro, claro, só tentei me convencer que não. E isso foi mais fácil do que você pode imaginar.

Toda vez que meu namorado me estuprava, fora um senso de choque, isso não era muito diferente, fisicamente, do sexo normal. Com consenso ou sem, ser fodida pelo meu namorado parecia, bom, ser fodida pelo meu namorado. E é aí que ficam as águas turvas que cercam a palavra. É triste. Sim, eu disse não. Sim, ele me ignorou. Repetidamente. Mas enquanto isso era psicologicamente desconfortável, o ato nunca foi violento. Não era como você “espera” que um estupro seja. Não fiquei com marcas visíveis. Eu só ficava com meu estuprador nos meus braços depois, enquanto ele chorava.

Quando você está apaixonada pelo seu estuprador, o pensamento de denunciá-lo começa a penetrar sua mente. Mas para mim, esses pensamentos… {Continue lendo aqui.]

No Brasil há um número específico para receber esse tipo de denúncia,180, a Central de Atendimento à Mulher. O serviço funciona 24 horas por dia, todos os dias do ano e a ligação é gratuita. Há atendentes capacitados em questões de gênero, políticas públicas para as mulheres, nas orientações sobre o enfrentamento à violência e, principalmente, na forma de receber a denúncia e acolher as mulheres.

O Conselho Nacional de Justiça do Brasil recomenda ainda que as mulheres que sofram algum tipo de violência procurem uma delegacia, de preferência as Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAM), também chamadas de Delegacias da Mulher. Há também os serviços que funcionam em hospitais e universidades e que oferecem atendimento médico, assistência psicossocial e orientação jurídica.

A mulher que sofreu violência pode ainda procurar ajuda nas Defensorias Públicas e Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, nos Conselhos Estaduais dos Direitos das Mulheres e nos centros de referência de atendimento a mulheres.

Se for registrar a ocorrência na delegacia, é importante contar tudo em detalhes e levar testemunhas, se houver, ou indicar o nome e endereço delas. Se a mulher achar que a sua vida ou a de seus familiares (filhos, pais etc.) está em risco, ela pode também procurar ajuda em serviços que mantêm casas-abrigo, que são moradias em local secreto onde a mulher e os filhos podem ficar afastados do agressor.