Milhares assinam petições contra Eduardo Bolsonaro embaixador nos EUA

Passa de 100 mil o número de assinaturas recolhidas para pressionar o Senado Federal a não aprovar indicação de filho do presidente ao cargo

Sugestão de Eduardo Bolsonaro para embaixada nos Estados Unidos é alvo de protestos na internet
Créditos: Crédito: Paola de Orte/Agência Brasil
Sugestão de Eduardo Bolsonaro para embaixada nos Estados Unidos é alvo de protestos na internet

Nunca antes na história deste país e em nenhum outro democraticamente sério um presidente indicou o próprio filho a um cargo de embaixador. Numa ação sem precedentes, o presidente Jair Bolsonaro segue na intenção de ver um de seus filhos, o atual deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL), embaixador em Washington, capital dos Estados Unidos. A ideia, entretanto, encontra resistência dentro e fora dos bastidores do mundo político.

A sugestão, tida como “descabida” até mesmo por diplomatas e especialistas em relações internacionais, está sendo alvo de uma mobilização popular que denuncia nepotismo na indicação, visando barrar a nomeação. Quatro abaixo-assinados online foram criados na plataforma Change.org dizendo “não” a Eduardo Bolsonaro embaixador nos Estados Unidos. Abertas há menos de um mês, as petições já acumulam mais de 102 mil assinaturas.

A maior das mobilizações online foi criada pela fisioterapeuta Fernanda Vicente de Souza, que transformou a indignação em campanha contra a ocupação do alto cargo por Eduardo. A jovem ressalta que o atual deputado federal, eleito por São Paulo, não tem “qualificação técnica e profissional para ocupar a embaixada mais importante do Brasil”, diz a fisioterapeuta que mora em Guarulhos, município da Região Metropolitana de São Paulo.

A escolha de chefes de missões diplomáticas segue regras determinadas pela lei federal nº 11.440/2006. De acordo com a norma, os embaixadores devem ser ministros de primeira classe (dos quadros do Itamaraty) ou de segunda. A opção por uma pessoa que não tem carreira diplomática é autorizada somente em caráter excepcional e o candidato dever ser “de reconhecido mérito”, com “relevantes serviços prestados ao país”.

Como um dos argumentos utilizados por Eduardo para justificar sua escolha, ele destacou já ter fritado hambúrguer durante intercâmbio nos Estados Unidos. Em tom irônico, uma das petições hospedadas na Change.org lembra que a cantora Gretchen também já fritou hambúrguer no país norte-americano, além de também falar inglês fluentemente.

“Fica claro que o presidente e o deputado não se importam com a opinião pública e confundem o público com o privado”, comenta a fisioterapeuta quanto às respostas que Bolsonaro pai e Bolsonaro filho dão quando questionados sobre a qualificação ao cargo.

Nepotismo

A prática de nepotismo ocorre quando um agente político pratica algum ato para favorecer um parente próximo em detrimento de pessoas mais qualificadas para algum cargo. Nesta quarta-feira (31/7), em resposta a uma ação popular protocolada pelo deputado federal Jorge Solla (PT), um juiz da 1ª Vara Federal Cível da Bahia deu um prazo de cinco dias para que o presidente Jair Bolsonaro e seu filho se expliquem sobre a indicação à embaixada.

A ação popular pede a suspensão da nomeação de Eduardo Bolsonaro, o que pode ocorrer por meio de liminar expedida pelo juiz caso pai e filho não se expliquem. O prazo de cinco dias começa a contar apenas depois que ambos receberem a intimação.

“O presidente Bolsonaro soube usar um discurso que saciasse a sociedade, as pessoas buscavam honestidade e moralidade no governo após toda a corrupção dos últimos governos. Apenas disse o que as pessoas queriam ouvir, mas não o que ele realmente acreditava”, comenta Fernanda sobre o comportamento de Jair Bolsonaro durante a campanha eleitoral e a prática adotada agora como presidente que deseja nomear o próprio filho ao alto posto.

Na última sexta-feira (26/7), o presidente enviou aos Estados Unidos a sugestão do nome de Eduardo para embaixador. Embora o governo americano ainda não tenha dado resposta oficial, Donald Trump já demonstrou simpatia à indicação. Em entrevista a emissoras de televisão na Casa Branca chegou a elogiar Eduardo e família, dizendo que a nomeação não configuraria nepotismo. Pai e filho também negam favorecimento.

Sabatina e votação no Senado

Mesmo se for aprovado pelo governo dos EUA, o nome do atual deputado federal ainda terá que ser validado pelo Senado Federal. De acordo com os ritos do processo de nomeação, o currículo do indicado é analisado pelo Senado que, por meio da Comissão de Relações Exteriores, realiza uma sabatina com o candidato. Depois, os parlamentares da comissão fazem uma votação e, se aprovada, a indicação segue para nova votação em plenário.

A fisioterapeuta Fernanda está na expectativa de que o peso das mobilizações pressione os senadores. “A indignação não é só minha, as pessoas entenderam que se quisermos um país melhor temos que mostrar aos políticos, que nós lá colocamos, os nossos anseios”, diz. “Espero que o Senado Federal ouça o seu povo, cumpra com o seu papel institucional e mostre à população que existem limites morais que devem ser respeitados”.

Como atualização do abaixo-assinado de sua autoria, a jovem destaca que aqueles que assinaram a petição são “pessoas comuns indignadas com o patrimonialismo, que nos acompanha desde o Brasil colônia”. Na postagem ainda ressalta que “o Brasil é do povo e nenhum político terá autorização de usar de seu poder para beneficiar os seus”.

Em parceria com Change.org (Oficial)

O maior portal de petições online do Brasil. São 329 milhões de pessoas fazendo a diferença em 196 países e 26 milhões só no Brasil.

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