Moradores criam associação para cuidar da praça Roosevelt

Grupo quer resolver problemas da região, como barulho e sujeira, além de estabelecer diálogo com os movimentos culturais da região

Os moradores da praça Roosevelt, no centro de São Paulo, decidiram criar uma associação comunitária para, segundo eles, resolver de forma harmoniosa os problemas da região.

Em pleno Centro de São Paulo, o local é um dos espaços de lazer mais frequentados da cidade. É ponto de encontro de skatistas, reduto dos teatros alternativos e região boêmia, movimentada por bares e restaurantes.

Mas nem sempre foi assim. No final da década de 1990 e início dos anos 2000, o local sofria com a degradação e a violência. Só com a chegada de grupos de teatro como Os Satyros e Os Parlapatões – que instalaram suas sedes ali – e com uma reforma completada em 2014, a praça passou por uma revitalização e convergiu diferentes públicos.

No entanto, desde então a região é tema de uma relação conflituosa que discute o direito de ocupação do espaço público sem ferir o sossego de quem mora por ali. Briga que já chegou ao Ministério Público de São Paulo e levou a prefeitura, na gestão João Doria (PSDB), a criar uma portaria em que proibiu o uso da praça para eventos.

“Decidimos criar a Associação de Moradores da Praça Roosevelt porque percebermos que a praça tem muitas características positivas a serem melhor exploradas e alguns pontos negativos a serem corrigidos ou mitigados”, explica o engenheiro e historiador Fernando Mazzarolo, 53 anos, que há 4 anos mora no local.

Mazzarolo foi recém-eleito presidente da entidade que já tem 200 pessoas associados, e cumprirá um mandato de dois anos. “A praça é frequentada por grupos muito diversos e nós sentimos que poderíamos contribuir para juntar essa galera toda de forma integradora ao invés de conflitiva”, afirma.

Com uma área equivalente a 50 mil metros quadrados, praça Roosevelt foi inaugurada em 25 de janeiro de 1978
Créditos: iStock/Getty Images
Com uma área equivalente a 50 mil metros quadrados, praça Roosevelt foi inaugurada em 25 de janeiro de 1978

Em busca de soluções 

Hoje os principais problemas de quem vive na vizinhança da Roosevelt são “o barulho e a sujeira”, diz ele – consequentes do grande fluxo de gente que usa a praça. O que é natural, segundo o engenheiro. O trabalho de tentar unir a sociedade civil em diálogo com o poder público da cidade para solucionar essas questões, porém, parece não ter dado certo até então.

“Sabemos da existência de uma outra associação de moradores na região, mas nunca participamos dela. Acreditamos que ela tenta atuar numa área geográfica muito grande [todo o bairro da Consolação] e com interesses conflitantes, o que leva a perder o foco das questões realmente relevantes para a inserção da Roosevelt no contexto de uma cidade mais humana e inclusiva”, conta Fernando Mazzarolo.

Com isso, pela primeira vez a Roosevelt ganha uma associação especifica para cuidar dos interesses dos moradores e frequentadores da praça, de forma que a sociedade civil se una para cuidar, manter e fiscalizar o espaço público democraticamente.

Entre o trabalho que já começa a ser desenvolvido pelo grupo estão a cobrança à prefeitura para instalação de lixeiras maiores e mais apropriadas ao local e da fiscalização da venda de garrafas de vidro por ambulantes, além da atuação do policiamento de forma a orientar os frequentadores sobre os excessos. Os moradores também querem criar ações coletivas de conscientização dos frequentadores sobre a necessidade de se usufruir daquele espaço sempre respeitando os direitos dos moradores do entorno.

Dessa forma, Fernando Mazarollo acredita que não serão necessárias regras tão rígidas para o uso do espaço, como a portaria que proíbe o uso da Roosevelt para eventos, incluindo o Carnaval, Virada Cultural e o festival Satyrianas.

“Nós achamos que a proibição total foi muito negativa para a praça. A Roosevelt é um local muito apropriado para a integração social na cidade. Logo, defendemos que eventos culturais, artísticos e esportivos devem ser estimulados e não o contrário”, frisa o presidente. “Claro que há que se respeitar as condições físicas do espaço, como suas dimensões, acessibilidade e estrutura construtiva. Também, deve-se respeitar os moradores que desejam dormir tranquilos à noite. Mas, seguramente, proibir tudo foi e é muito mais prejudicial do que positivo tanto para os frequentadores em geral quanto para os moradores da praça.”

Recentemente, o prefeito Bruno Covas (PSDB) se propôs a rever a portaria, que provavelmente já deve estar atualizada e tempo da realização do Satyrianas de 2019, em outubro.

“Pretendemos dialogar tanto com os grupos artísticos quanto com o poder público para contribuir com soluções que permitam o uso do espaço da Roosevelt de forma construtiva para seus frequentadores, seus moradores e para a cidade como um todo”, garante Mazzarolo.