Moro vazou dados do inquérito sobre os laranjas do PSL a Bolsonaro

Investigação tramita sob segredo na 26ª Zona Eleitoral de Minas Gerais

Em meio à série de mensagens vazadas e escândalos que expõem a contestável postura do atual ministro da Justiça, Sérgio Moro, um novo episódio revelado na manhã desta sexta-feira, 5, coloca ainda mais em xeque a postura do ex-juiz federal.

Segundo coluna do repórter da Folha de S. Paulo, Rubens Valente, no último dia 28, o presidente Jair Bolsonaro, em entrevista coletiva no Japão, revelou que teve acesso privilegiado a dados do inquérito referente aos laranjas do PSL.

Os documentos foram compartilhados pelo ministro Sergio Moro.”Ele [Moro] mandou a cópia do que foi investigado pela Polícia Federal pra mim. Mandei um assessor meu ler porque eu não tive tempo de ler”.

O presidente eleito Jair Bolsonaro e o ministro da Justiça, Sérgio Moro, durante visita ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). – Foto: (José Cruz/Agência Brasil)
Créditos: Reprodução/Agência Brasil
O presidente eleito Jair Bolsonaro e o ministro da Justiça, Sérgio Moro, durante visita ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). – Foto: (José Cruz/Agência Brasil)

Ainda na coletiva, o presidente disse ter determinado a Moro que, repassou à Polícia Federal, a recomendação de investigar todos os partidos. “Tem que valer para todo mundo, não ficar fazendo pressão em cima do PSL para tentar me atingir”.

Apesar das aparente normalidade dos fatos, vale lembrar que a investigação tramita sob segredo na 26ª Zona Eleitoral de Minas Gerais.

Como frisou o jornalista, as declarações de Bolsonaro contradizem o propósito do trabalho de uma instituição que trabalha para o Estado e não em nome de determinado governo. “Uma PF que não esteja à mercê dos rancores do presidente e do ministro de plantão. Um órgão que investigue fatos e não pessoas”, destacou Valente.

Bolsonaro humilha investigadores em praça pública

O jornalista chama atenção para um fato que expõe a dificultosa relação entre o atual governo e órgãos investigados. Eleito sob a bandeira da “Lei e da ordem”, a retórica de campanha pressupunha respeito e apoio aos agentes federais_o que, mediante aos recentes fatos, não se confirma. Bolsonaro faz o contrário. “Acessa e fala sobre um caso sob segredo e humilha investigadores em praça pública ao ditar como devem se comportar, como se eles não soubessem seu papel. Ele também tem seguidamente atacado a PF por discordar, sem provas, das conclusões do caso Adélio.

Silêncio das instituições

Valente também contesta órgãos de controle da União sobre o silêncio diante das declarações. “Os órgãos de controle da União ou não ouviram o que Bolsonaro disse no Japão ou ouviram e silenciaram. Nos dois modos temos instituições cegas para o Alex Jones que ora ocupa a Presidência. Ele exerce abertamente a ousadia dos impunes a fim de obter dados sigilosos e determinar o que deve ser investigado no país. Isso é que é Estado policial”.