Movimento apartidário luta contra o aumento da pobreza em todo o Brasil

Em um cenário de pandemia e crise econômica, Brasil Sem Pobreza unifica ações para tirar comunidades mais pobres do esquecimento

Em meio à maior crise sanitária dos últimos 100 anos e um dos maiores colapsos econômicos da história recente, o Brasil sente na pele as consequências da miséria que atinge mais de 14 milhões de famílias em situação de extrema vulnerabilidade social.

Neste contexto surge o pacto Brasil Sem Pobreza, um movimento nacional que surge para lutar contra a pobreza absoluta de Norte a Sul do país.

Sem vínculos partidários ou religiosos, o grupo busca unificar alianças com iniciativas que atuam na mesma direção,  estejam em conformidade com os  Direitos Humanos e valorizem a diversidade e a ciência.

Cerca de 40 milhões de brasileiros vivem com até R$ 89 por mês – Marcelo Casal/Agência Brasil

Confira a seguir o manifesto escrito pelo movimento: (Para saber mais, acesse a página Brasil Sem Pobreza)

“No Brasil, sempre há quem diga que é normal ter gente vivendo na pobreza absoluta, sem comida, sem água tratada em casa, ou até mesmo sem casa, morando na rua, com esgoto a céu aberto, com atendimento à saúde precário, com crianças em salas de aula superlotadas onde aprendem muito pouco, sem internet de qualidade, com um transporte público caro e humilhante e, todos os anos, com um número absurdo de assassinatos, sobretudo de negros. Isso, sem falar nos presídios superlotados, na corrupção generalizada, nos rios poluídos, nas matas devastadas, no racismo, feminicídio, homofobia e em todo o agrotóxico que envenena nossa alimentação. Será mesmo que é para esse normal desumano que queremos voltar?

Nosso país é o nono mais rico do mundo e o segundo maior produtor de alimentos do planeta. Infelizmente, é também um país onde, para a vergonha de todos nós, uma em cada quatro pessoas tem que viver com menos de meio salário mínimo por mês. Será que isso é normal? Somos os campeões da desigualdade. Quando a curva da pandemia começar a cair, não vamos poder fingir que nada aconteceu e voltar tranquilamente a essa velha e terrível normalidade.

Em toda crise, os pobres são sempre os que mais sofrem. A pandemia da covid-19 voltou a expor essa realidade em toda sua crueldade. Mas já basta. Vamos transformar o luto em luta. O que estamos propondo é um novo pacto social. Um mutirão para acabar com a pobreza absoluta. Um mutirão que já começou. Que começou quando, espontaneamente, redes de solidariedade se formaram para apoiar as pessoas e comunidades que mais estão sofrendo com a pandemia. Esse mutirão, do qual também fazemos parte, tem que ir mais longe. Precisamos alavancar no país uma responsabilidade ética, institucional e transformadora, a ser assumida por todos: Estado, sociedade e setor privado.

A pobreza ofende todo mundo. Pobres e ricos. Se ela nos humilha, é porque todos sabemos que já passou da hora de tomar uma atitude e de resolver o problema. Não precisamos esperar que a riqueza cresça para só depois pensar em acabar com a pobreza. Somos muitos. No campo e nas matas, nas escolas, nas diferentes igrejas, no setor privado, nos terreiros, nos sindicatos, nos centros de pesquisa, nas periferias, nos grupos comunitários, no movimento LGBTQI+, em todas as mídias, nas fundações empresariais, na luta de negras e negros contra o racismo, nos quilombos e nas terras indígenas, nos assentamentos, nas ocupações urbanas dos sem-teto, nos movimentos ambientalistas, nas forças armadas, nas lutas de todas as mulheres, nos diferentes partidos políticos, entre os funcionários públicos, na arte e na cultura, nos governos, no esporte.

É hora de deixar de lado o que nos separa e de valorizar o que nos une. Nenhum problema poderá ser bem resolvido enquanto a pobreza absoluta persistir. Com ela, não há desenvolvimento que se sustente. Acabar com a pobreza deve ser a prioridade dos orçamentos e das políticas de educação, saúde, assistência social, segurança alimentar, urbanização; das empresas; dos movimentos sociais; dos bancos; das universidades; das políticas tributárias; da política agrícola, da fundiária, da ambiental. Dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Da democracia como um todo.

Juntos, podemos fazer acontecer. Vamos tirar do esquecimento as comunidades mais pobres do país. Vamos ampliar a voz de cada uma delas. Vamos descrever a pobreza absoluta, mostrar onde ela está e quanta gente sofre com ela. Vamos propor políticas públicas de redução das desigualdades e de superação da miséria e pressionar para que sejam implementadas. Vamos dar força a quem já está trabalhando e mobilizar novos atores. Grupos, pessoas, associações, instituições. É assim que chegaremos lá.”