Movimento pede troca de foto embranquecida de Machado de Assis
Abaixo-assinado reúne quase 10 mil apoiadores para que editoras deixem de retratar escritor negro como branco
Você sabia que o considerado maior escritor da literatura brasileira, Machado de Assis, era negro? É bem provável que não, isso porque até hoje as editoras de livros retratam o autor como se ele fosse branco. Para corrigir essa injustiça racial, o movimento #MachadodeAssisReal criou um abaixo-assinado, na plataforma Change.org, pedindo que as imagens embranquecidas sejam substituídas.
Até o momento, a petição conta com 9,8 mil assinaturas. O abaixo-assinado e o movimento foram idealizados pela Faculdade Zumbi dos Palmares, que denuncia mudança da cor da pele e distorção dos traços de Machado de Assis com a intenção de fazê-lo ser “reconhecido pela elite cultural”. O reitor da instituição, o professor doutor José Vicente explica a importância dessa correção para a história do país.
“Essa retratação tem um valor histórico e político incomensurável e mesmo libertador”, afirma José Vicente. “Faz conhecer a todos que umas das maiores personalidades da história da literatura brasileira, é um negro e, cujo passado, trajetória de luta, superação e resiliência se assemelha à maioria dos negros do país. Liberta a todos do equívoco , do erro e do engodo”, ressalta o professor.
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Em seu site, o movimento disponibiliza uma foto do escritor, recriada com base em dados históricos, para que os leitores a imprimam e colem sobre a imagem infiel à realidade que está retratada nos livros. A versão corrigida respeita os verdadeiros traços e tom de pele do jornalista, cronista e poeta brasileiro, preservando sua origem.
O site convoca, ainda, os leitores a assinarem a petição para que editoras e livrarias parem de imprimir, publicar e comercializar materiais em que a imagem do escritor aparece embranquecida, bem como a substituam pela fidedigna. De acordo com José Vicente, o abaixo-assinado que está aberto pode trazer mais força à mobilização.
“[A petição traz] um peso fantástico e decisivo porque expressa o engajamento, a solidariedade, o apoio e a convergência maciça do povo brasileiro com o sentido de justiça e reparação histórica de que o personagem faz jus e que a campanha simboliza”.
Segundo o movimento Machado de Assis Real, a “errata histórica” colocaria fim a um absurdo que mancha a história do país e fere a comunidade negra. Para o reitor e fundador da instituição comunitária de ensino superior, a retratação permite a reformulação de juízos e valores e torna o escritor uma importante referência à comunidade negra do país.
“Estabelece e confirma que o negro é portador de saberes, habilidades e competências extraordinárias e grande potência como gênio inventivo, criador e transformador”, ressalta. “Eleva a autoestima, gera modelo a ser admirado e seguido, transforma-se em referência positiva. Promove e eleva o sentimento de orgulho, honra e entusiasmo e empoderamento para toda a comunidade negra do Brasil”, completa.
O movimento, que é resultado de uma parceria entre a faculdade e a agência Grey Brasil, ainda conta com o apoio de organizações como o Quilombhoje, de incentivo à literatura de autoras e autores negros.
Repercussão
O abaixo-assinado e o movimento foram criados em abril, mesmo mês em que o Dia Mundial do Livro é comemorado (23/4). A campanha lançou a hashtag #MachadodeAssisReal, que logo ganhou repercussão nas redes sociais. Imagens de capas de livros com a foto real colada sobre a embranquecida circulam pela internet.
Na página da petição, na Change.org, usuários que assinam o manifesto declaram o quanto a correção história é importante na luta contra o racismo. O usuário Antonio Robson de Sousa, por exemplo, enfatiza que ações afirmativas como essa “não permitem que a identidade de um povo seja apagada”.
Já Ana Paula Gurgel, que também apoiou o abaixo-assinado, deixou um comentário destacando a relevância da representativa negra como um dos motivos para assinar a petição. “É importante a representatividade negra, principalmente em se tratando de um símbolo nacional como Machado de Assis, para que mais pessoas saibam que podem alcançar sucesso independente de sua raça”.