Mulher negra se manifesta após PM que pisou em seu pescoço ser absolvido
"Cada dia que passa, a gente fica cada vez mais envergonhada de ser brasileira”, disse a vítima
A mulher negra que teve o pescoço pisado por um policial militar durante uma abordagem, em Parelheiros, na Zona Sul de São Paulo, em 2020, se manifestou sobre a decisão de absolver o agente. As informações são do portal G1.
“Ser injustiçada assim é muito triste. Fiquei muito indignada. Fui trabalhar sem chão. Cada dia que passa, a gente fica cada vez mais envergonhada de ser brasileira”, afirmou a vítima, que prefere não ser identificada.
A decisão de absolver o policial foi tomada nesta terça-feira, 23, por um conselho de sentença formado por um juiz civil e quatro oficiais da PM.
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O soldado João Paulo Servato foi gravado pisando no pescoço da mulher e denunciado pelo Ministério Público por quatro crimes: lesão corporal, abuso de autoridade, falsidade ideológica e inobservância de regulamento.
O cabo Ricardo de Morais Lopes, era o parceiro do soldado Servato na abordagem, também foi julgado e absolvido. Contra ele, pesavam as denuncias de falsidade ideológica e inobservância de regulamento.
“Eu acho que ele [policial] precisa de um tratamento. Não merece usar farda da Polícia Militar. Têm policiais bons que honram a farda. Mas, infelizmente, há os que não honram”, afirmou a mulher.
“Vou lutar até o fim para algo a meu favor. Não precisava ter agredido meu pescoço, pisado nas minhas costelas. Ele merece punição. Se a gente não lutar pelos nossos direitos, quem vai lutar?”, indagou.
A vítima contou a G1 que desde o episódio, ela não consegue mais se socializar com amigos e tem uma rotina bem restrita, pois ela deixou de trabalhar no bar que trabalhava e somente há dois meses conseguiu um novo emprego. Agora, como cozinheira.
“Fiquei dois anos sem trabalhar e sem vida. Só fazendo o básico, como ir no mercado, açougue e casa. Minha mente ficou perturbada, meu psicológico ficou abalado. Minha família sentiu bem isso. O pessoal ficou com medo de represália e até meu filho até perdeu emprego na época. A minha mente nunca mais foi a mesma e a pior dor é a psicológica”, contou.
Sobre as sequelas da abordagem criminosa que sofreu, ela conta: “A perna incha todos os dias. Tenho muita dor no calcanhar, no pescoço onde ele bateu. Quando tem mudança de tempo, por exemplo, eu sinto dores no pescoço, ouvido. Ele praticamente esmagou minha cabeça”.
A mulher ainda ponderou: “Se nos Estados Unidos aquele homem negro, o George Floyd, morreu por não aguentar a agressão, imagina o que causou comigo esse pisão, que sou magra? Costumo falar que eu nu nasci de novo no dia 30 de maio por ter sobrevivido. Eu tenho dois anos de vida”.
No dia 30, a Justiça Militar marcou uma nova audiência para a leitura e publicação da sentença, que se baseia nos votos desta terça.
O advogado da mulher, Felipe Morandini, informou que vai recorrer.