Nosso Dia da Mulher tem gosto de revanche contra a humilhação
Quando lançamos há quatro anos a campanha contra o assédio no Carnaval, fomos alvo de todo o tipo de críticas e mesmo deboches.
Seria uma “bobagem feminista” ou “mimimi”.
Fomos ridicularizados pelos haters em milhares de posts.
Mas não desistimos.
Neste ano, nossa campanha nunca esteve tão forte, com tão parceiros e apoios de marcas.
Abaixo, alguns comentários.
- Rapper Rincón Sapiência está no projeto ABC Beat do Sesc Santo André
- Wet’n Wild tem ingressos promocionais para o Dia da Mulher
- Marcas fortalecem ações contra violência doméstica no isolamento
- Vereador pede salões de beleza abertos na quarentena para mulheres ficarem bonitas para os maridos
Coletivos feministas
Em seus primeiros três anos, a campanha teve o suporte maciço de coletivos feministas. Além disso, foram apurados relatos para mapear as ocorrências de assédio no Carnaval por todo o Brasil.
“Para este ano, decidimos chamar instituições de ainda mais peso para lutar pela causa”, conta Paula Lago, responsável pela campanha #CarnavalSemAssédio da Catraca Livre. “A ação precisava dar um passo além.”
Frentes de combate
Então, neste Carnaval de 2019, entraram como parceiros a Prefeitura de São Paulo e a Rua Livre, produtora de blocos que pensa ações de impacto social para a folia e para a cidade.
A força desse time passou a atuar em duas grandes frentes de combate ao assédio nos dias de festa.
Anjos do Carnaval
Uma delas é constituída por um grupo de Anjos do Carnaval. Trata-se de uma equipe de voluntários treinados que acolhe e orienta mulheres e LGBTs vítimas de assédio nos blocos.
Aliás, esses benfeitores “angelicais” também ficam de olho em assediadores localizados em cima dos trios elétricos e em blocos parceiros da campanha.
Em paralelo, as vítimas de assédio são encaminhadas para um Ônibus Lilás. O veículo foi cedido pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania especialmente para a campanha, como ponto fixo de atendimento e espécie de “quartel-general”.
Assim, no ônibus, mulheres e LGBTs são atendidas por profissionais capacitadas – uma psicóloga, uma assistente social e uma advogada.
Avanços
As ações incluem a distribuição de 90 mil adesivos em blocos de São Paulo, do Rio de Janeiro e de Olinda (PE), trabalho também feito por voluntários.
No sábado (23/2), a campanha começou efetivamente nos blocos paulistanos Casa Comigo e Toca Um Samba Aí.
Por sinal, a coordenadora da #CarnavalSemAssédio, Paula Lago, diz já ter percebido um avanço em termos de conscientização neste Carnaval.
“O que mais me chamou a atenção neste ano é que as pessoas estão aceitando melhor quando você começa a falar sobre a questão do assédio”, afirma Paula. “Em anos anteriores, quando íamos entregar adesivos da campanha nos blocos, havia meninas que os recusavam dizendo coisas do tipo ‘Eu quero ser assediada’.”
Segundo a coordenadora, é possível entender a dificuldade de falar sobre o tema em um bloco, muito pela questão cultural.
“O que essas mulheres queriam, na verdade, era ser paqueradas, o que é bem diferente de assédio”, especifica. “Assédio é crime. As meninas agora estão recebendo melhor a mensagem, elas querem falar sobre isso e não aceitam mais que o assédio seja normalizado pela sociedade. É um passo importante.”
Parceiros
Além da Catraca Livre, da Rua Livre e da prefeitura, a ação conta com uma ampla rede de parceiros que inclui o Ministério Público, a ONU Mulheres, o Conselho Estadual da Condição Feminina, a Comissão da Mulher Advogada (OAB), o Metrô de São Paulo, a Delegacia da Mulher, o coletivo Não é Não, a ONG Engajamundo, a ONG Plan International, a JC Decaux, a Rede Nossas, a agência Fiquem Sabendo e a gráfica Lumi Print.
Nos últimos três anos, a campanha também teve o apoio da ONU Mulheres, da revista “Azmina”, dos coletivos “Agora é que são elas”, “Nós, Mulheres da Periferia” e “Vamos juntas?”, das redes Minha Sampa e Meu Recife e de cerca de 50 blocos de rua do Brasil, incluindo os feministas Mulheres Rodadas e Maria Vem com as Outras.
Os blocos que quiserem apoiar a campanha podem mandar e-mail para [email protected].
“O assédio e a violência no Carnaval não vão se resolver por inércia”, reforça Paula Lago. “É preciso encarar o problema.”