Nosso Dia da Mulher tem gosto de revanche contra a humilhação

08/03/2019 16:54 / Atualizado em 11/09/2019 11:56

Quando lançamos há quatro anos a campanha contra o assédio no Carnaval, fomos alvo de todo o tipo de críticas e mesmo deboches.
Seria uma “bobagem feminista” ou “mimimi”.
Fomos ridicularizados pelos haters em milhares de posts.
Mas não desistimos.
Neste ano, nossa campanha nunca esteve tão forte, com tão parceiros e apoios de marcas.

Abaixo, alguns comentários.

Coletivos feministas

Em seus primeiros três anos, a campanha teve o suporte maciço de coletivos feministas. Além disso, foram apurados relatos para mapear as ocorrências de assédio no Carnaval por todo o Brasil.

“Para este ano, decidimos chamar instituições de ainda mais peso para lutar pela causa”, conta Paula Lago, responsável pela campanha #CarnavalSemAssédio da Catraca Livre. “A ação precisava dar um passo além.”

Frentes de combate

Então, neste Carnaval de 2019, entraram como parceiros a Prefeitura de São Paulo e a Rua Livre, produtora de blocos que pensa ações de impacto social para a folia e para a cidade.

A força desse time passou a atuar em duas grandes frentes de combate ao assédio nos dias de festa.

Anjos do Carnaval

Uma delas é constituída por um grupo de Anjos do Carnaval. Trata-se de uma equipe de voluntários treinados que acolhe e orienta mulheres e LGBTs vítimas de assédio nos blocos.

Aliás, esses benfeitores “angelicais” também ficam de olho em assediadores localizados em cima dos trios elétricos e em blocos parceiros da campanha.

Voluntária entrega adesivos da campanha #CarnavalSemAssédio
Voluntária entrega adesivos da campanha #CarnavalSemAssédio - Gabriel Nogueira/Catraca Livre

Em paralelo, as vítimas de assédio são encaminhadas para um Ônibus Lilás. O veículo foi cedido pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania especialmente para a campanha, como ponto fixo de atendimento e espécie de “quartel-general”.

Assim, no ônibus, mulheres e LGBTs são atendidas por profissionais capacitadas – uma psicóloga, uma assistente social e uma advogada.

Avanços

As ações incluem a distribuição de 90 mil adesivos em blocos de São Paulo, do Rio de Janeiro e de Olinda (PE), trabalho também feito por voluntários.

No sábado (23/2), a campanha começou efetivamente nos blocos paulistanos Casa Comigo e Toca Um Samba Aí.

Por sinal, a coordenadora da #CarnavalSemAssédio, Paula Lago, diz já ter percebido um avanço em termos de conscientização neste Carnaval.

O Ônibus Lilás, espécie de quartel-general da campanha
O Ônibus Lilás, espécie de quartel-general da campanha - Divulgação/Prefeitura Municipal de São Paulo

“O que mais me chamou a atenção neste ano é que as pessoas estão aceitando melhor quando você começa a falar sobre a questão do assédio”, afirma Paula. “Em anos anteriores, quando íamos entregar adesivos da campanha nos blocos, havia meninas que os recusavam dizendo coisas do tipo ‘Eu quero ser assediada’.”

Segundo a coordenadora, é possível entender a dificuldade de falar sobre o tema em um bloco, muito pela questão cultural.

“O que essas mulheres queriam, na verdade, era ser paqueradas, o que é bem diferente de assédio”, especifica. “Assédio é crime. As meninas agora estão recebendo melhor a mensagem, elas querem falar sobre isso e não aceitam mais que o assédio seja normalizado pela sociedade. É um passo importante.”

Parceiros

Além da Catraca Livre, da Rua Livre e da prefeitura, a ação conta com uma ampla rede de parceiros que inclui o Ministério Público, a ONU Mulheres, o Conselho Estadual da Condição Feminina, a Comissão da Mulher Advogada (OAB), o Metrô de São Paulo, a Delegacia da Mulher, o coletivo Não é Não, a ONG Engajamundo, a ONG Plan International, a JC Decaux, a Rede Nossas, a agência Fiquem Sabendo e a gráfica Lumi Print.

Nos últimos três anos, a campanha também teve o apoio da ONU Mulheres, da revista “Azmina”, dos coletivos “Agora é que são elas”, “Nós, Mulheres da Periferia” e “Vamos juntas?”, das redes Minha Sampa e Meu Recife e de cerca de 50 blocos de rua do Brasil, incluindo os feministas Mulheres Rodadas e Maria Vem com as Outras.

Os blocos que quiserem apoiar a campanha podem mandar e-mail para [email protected].

“O assédio e a violência no Carnaval não vão se resolver por inércia”, reforça Paula Lago. “É preciso encarar o problema.”

Todos os conteúdos da campanha #CarnavalSemAssédio são apoiados oficialmente pela 99.