Nove vítimas da chacina em Campinas eram mulheres
Sidnei Ramis de Araújo é o autor da chacina em Campinas, interior de São Paulo, que chocou o país nesta virada do ano. Na noite de sábado (31), 12 pessoas foram mortas, a maioria delas mulheres: 9.
“Quero pegar o máximo de vadias da família juntas”, escreveu o técnico de laboratório em cartas obtidas com exclusividade pelo jornal Estadão. Entre as vítimas estão Isamara Filier, com quem foi casado, seu filho, João Victor, e amigas e parentes de Filier.
Na carta, ele acusa as mulheres que tentam “distancias os filhos dos pais” de “vadias [que] fazem de tudo que é errado”, e ainda insulta a Lei Maria da Penha, de proteção à mulher e combate à violência doméstica. “Tenho raiva das vadias que se proliferam e muito a cada dia se beneficiando da lei vadia da penha! Não posso dizer que todas as mulheres são vadias! Mas todas as mulheres sabem do que as vadias são capazes de fazer!”, escreveu.
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A lei a qual ele se refere como “vadia da penha” completou 10 anos no último dia 7 de agosto e foi uma das grandes responsáveis por incentivar o crescimento das denúncias de violência contra a mulher: entre 2006 (quando foi sancionada) e 2014, houve aumento de 600%.
Ao HuffPost Brasil, a professora de direito Debora Diniz diz que a confissão do assassino “é lúcida ao nos mostrar o mundo de ódio ao feminismo, às vadias, à independência das mulheres”.
“A misoginia, o ódio às mulheres, deve ser prática abominada – não é liberdade de expressão, mas incitação ao ódio. Para alguns, o ódio permanece nas palavras; para outros, como Sidnei, o ódio é uma arma que mata. Homens, não sejam cúmplices do matador de ano-novo: se não suportam ver as mulheres livres e independentes em 2017, ao menos se silenciem. Deixem as mulheres em paz”, escreveu. Leia o artigo na íntegra aqui.
“O autor da chacina não é louco. Ele é um machista e misógino que reproduziu tudo que lemos, todos os dias, nas redes sociais”, escreveu uma internauta no Twitter. “Tudo que tem na carta do assassino de Campinas eu já vi escrito e cheio de likes no Facebook”, afirmou outro.
A chacina foi registrada no 4º Distrito Policial de Campinas como homicídio qualificado, seguido de suicídio.